040 | Descanse em paz

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Bill Kaulitz

Todos vestiam preto. O dia estava um pouco nublado e já passava das três da tarde. Meus irmãos e meu pai chegaram ontem, vieram para se despedir de Tom.

Como tivessem se importado com ele quando era vivo.

Sinto que uma parte de mim está dentro deste caixão. Acho que a melhor parte minha era ter um irmão gêmeo. O qual eu sempre divide tudo, até a esposa. Por falar nela, anda muito abalada. Mal saí do quarto, as vezes a pego chorando pelos cantos da casa, mas sempre que me vê, faz acariciando de durona e diz vou arrumar tudo isso.

As descobertas que Tom havia feito, hoje, são enterradas junto com ele. Junto com uma parte minha.

Mesmo com todas as brigas eu e Tom sempre fomos muito próximos, e com certeza sua partida é uma das coisas mais dolorosas que já passei. O pior é saber que essa não era a vida que ele deseja a levar, esse não era o Tom Kaulitz que ele queria ser. O Tom era muito mais que um mafioso, ladrão e mal caráter, era o meu irmão e meu melhor amigo.

── Está tudo pronto para cerimônia. ── Ofélia diz, baixo. Mal me dou o trabalho de encará-la e saio do cômodo me juntando a todos no andar de baixo.

Vejo Kali escondida no canto da sala. Seu rosto estava pálido, as olheiras fundas e pálpebras inchadas revelavam as noites mal dormidas, um nó em sua nuca envolvia todos seus cachos que antes eram definidos.

Ela estava sofrendo e também estava se escondendo.

── Querido, eu sinto tanto. ── A voz irritante de Caroline chega nos meus ouvidos. ── O que eu puder fazer para....

── Nem no enterro do meu irmão você pode me deixar em paz. ── Falo, um pouco alto fazendo todos do ambiente escutarem ── Ele te odiava. O que faz aqui?

── Bill, não fale dessa forma... ── Meu pai dizia, mas sou mais rápida.

── Cala a boca! ── Falo ── Ele morreu por sua culpa. Você nos obrigou a viver uma vida que não queríamos. Nos obrigou a seguir seus passos.

── Fale baixo, Bill. ── Jay sussurra ── Tem muita gente aqui.

── Você está fazendo o que aqui? Nem dele você gostava.

── Estou aqui por educação, coisa que você não tem. ── Diz ele.

── Com você não tenho mesmo...

── Querem parar de discutir? ── Brooky intervém ── O Tom morreu e vocês aí brigando.

── Ela tem razão. ── Evan fala ── Devemos ter no mínimo respeito. Ele era nosso sangue.

Me calo e saio de perto deles.

── Tudo bem? ── Falo, encostando na parede ao lado de Kali.

── Sim.  ── Diz ela, ainda sem me olhar. Durante esses dias ela mal tem me olhado nos olhos. ── O que a ela está fazendo? ── Ela pergunta, apontando para Anelly que tentava abrir o caixão.

Olho de novo para Kali, que fecha os punhos fortemente e caminha até a mulher. Ela puxa os cabelos ruivos desbotados da garota chamando atenção de todos.

── Me larga. ── Anelly gritava, seu rosto tinha uma expressão de dor
── Me solta.

Kali continuava a puxar os cabelos da garota e a distribuir tapas por todo seu rosto.

── Não encosta no meu marido. ── Ela gritava ── Deixe ele! Nem morto ele pode ficar em paz?

── Sin, solta ela. ── Falo baixo, puxando o braço da menina e tentando afastar aquele olhares de cima dela ── Solta ela, estão todos olhando.

── Não quero que abram o caixão dele, Bill. ── Ela se vira pra mim ── Não quero que abram.

── Tudo bem, tudo bem... ── Falo, praticamente sussurro, pra ela ── Ninguém irá abrir.

── Bill. ── Escuto a voz de Xavier atrás de mim ── Eu sinto muito.

── Eu sei.

── Perdi meu marido, gente.  ── Xavier fala, com a voz baixa olhando para o caixão ── Uma lástima.

── Sim.  ── Falo.

Sei que sempre fui um pouco lerdo para perceber certas coisas, mas posso jurar que o Xavier não está falando sério. Na verdade ele parecia estar  debochando da situação.

Conheço Xavier desde criança. Desde sempre ele se refere a Tom como marido e agora está aqui, com esse ar debochado.

── Descanse em paz. ── Ele olha para o caixão e depois olha para Kali.

Antes que eu pudesse falar algo vejo alguém entrar na casa chamando muita atenção, Cater.

── Meus pêsames. ── Cater diz, assim que para na minhas frente ── Sinto que tenha acontecido isso com ele.

── Sente? ── Falo irônico, mas ele não entende ── Quem me garante que não foi você quem matou ele?

── Eu jamais faria isso. ── Cater diz ── Os conheço a anos. E mesmo que não pareça, sou uma pessoa de caráter.

── Caráter... ── Kali sussurra negando. ── Se veio dar os pêsames já pode ir.

── Desculpa, mas não estou falando com você.

── Não venha no enterro do meu irmão, tratar mal a minha esposa. ── Digo firme ── Tenha decência.

── Perdão. ── Diz ele ── Sei que o momento não é apropriado, mas queria falar sobre algumas descobertas que eu fiz essas semanas. Creio que seja de seu interesse.

── Vamos até o escritório. ── Caminhamos até o cômodo em silêncio e a todo momento Kali se mantia próxima de mim.

── Serei breve e direto. ── Ele diz, se sentando. ── Consegui fazer contato com o tal M.K e descobri que se trata de uma mulher.

── Tem certeza? ── Pergunto incrédulo, olho para Kali que estava parada analisando Cater, ou melhor, julgando ele.

── Tenho.  ── Diz firme ── Não consegui falar com ela apenas com a equipe.

── Então foi ela que matou o Tom?

── Tudo indica que sim, mas a equipe dela não está satisfeita com a forma que ela trabalha. E não sabem próximo passo dela.  ── Cater diz ── Mesmo assim, acho que ela deve planejar matar você agora.

──Por que veio até aqui? ── Pergunto sério.

── Estou do seu lado, Bill. 

── Mentira. ── Digo, ele olha sério ── Você disse que não podíamos contar mais com você quando estávamos caindo e agora quer pagar de bom samaritano.

── Eu só...

── Sai daqui. ── Aponto para porta ── A partir de agora quem não estiver ao meu lado, está contra mim.

── Bill...

── Sai. ── Kali reforça ── Sai daqui.

Cater sai batendo a porta restando apenas eu e Kali na sala.

── Ele que quer te matar. ── Ela diz, chamando minha atenção.

── Como...?

── Precisamos conversar... ── Ela diz, mas foi interrompida por um estrondo na porta.

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