Capítulo cinco

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Vivian Coleman - doze anos de idade

Depois de roubarmos comida e bebida do depósito do colégio para a tarde, partimos em direção aos fundos do colégio, onde havia uma pequena brecha que nos permitia sair da escola sem ser vistos pelos guardas, não era de se esperar que a escola fosse repleta de seguranças, já que Benjamin Jones, filho e herdeiro do governador de Nova York, estava entre nós, estudando na mesma sala que Christopher e Viktor Miles.

— Eu ainda acho isso uma péssima ideia – digo, ajeitando o vestido branco de verão que Rosalie havia me emprestado para vestir por cima do meu biquíni branco com flores vermelhas.

— Apenas tente relaxar e aproveitar.

— Acabamos de roubar os mantimentos do colégio, como você quer que eu relaxe? – questiono, com as mãos cheias de sacolas.

— Não foi tão difícil assim, Vivian.

— Por que os meninos não fizeram isso? – minha amiga ri da minha pergunta, fazendo-me sentir meio boba.

— Porque eles não tem cara de quem nunca faria isso como você e eu temos, é uma das nossas vantagens.

— Como assim? – olho para o grupo de pessoas que esperavam apenas por nós duas e depois para a minha amiga.

Com um balançar de ombros, ela explica — As pessoas sempre esperam o melhor de nós duas por causa de nossas famílias conservadoras, sempre foi assim, ninguém olha para você e sabe de fato quem você é, só a imagem que sua família construiu de você.

— Isso não é exatamente verdade – discordo, chateada com suas palavras por me machucarem tanto, mesmo que eu soubesse que eram verdades duras de engolir.

— Quem as pessoas veem na gente, senão duas menininhas indefesas e que devem ser protegidas? – deixando-me sozinha, ela acelera seus passos até alcançar a turma que estava à nossa espera.

Durante a trilha, as palavras de Rosalie ressoavam por minha mente inúmeras vezes, ciente de que ela tinha razão em tudo que dizia. As pessoas, até mesmo os funcionários da minha casa, me viam como algo quebrável e ingênuo, algo puro e inocente, menos com Diana. Minha irmã sempre teve mais liberdade para opinar e ser quem ela quer ser, para sair e conhecer o mundo que é totalmente desconhecido para mim, e eu nunca entendi o porque, apenas aceitei a realidade que me foi vestida desde pequena.

— Vivian? – olho para Rosalie, que está ao meu lado enquanto caminho pela trilha, o cheiro da natureza e terra úmida bem mais presente em minhas narinas.

— Estou bem – me adianto.

— Você não me parece nada bem – ela insiste — Foi algo sobre o que eu disse?

— LAGO À VISTA – ouvimos um dos meninos gritarem, logo, todos os outros uivam e gritam com ele, correndo em direção ao lago como animais selvagens passando por nós duas e as outras meninas que estavam com a gente.

Olhando para Annie, uma garota ruiva da nossa turma, que havia se colocado ao meu lado, encaro a garrafa em suas mãos.

— Isso é bebida alcoólica? – pergunto.

— Sim, nós troux- antes mesmo que ela termine, puxo a garrafa de suas mãos e viro em grandes goles em minha boca, o contato com o álcool pela primeira vez em minha vida me fazendo tossir freneticamente após terminar de beber, meu peito inteiro queimava por dentro, eu podia sentir os pelos do meu corpo arrepiados.

— Vivian, não! – Rosalie toma a garrafa da minha mão, olhando para ela com a minha visão meio turva, abro um enorme sorriso para ela.

— Por que não? foi você quem disse que era para eu me divertir.

— Mas não assim, não bebendo dessa forma, nós nunca bebemos – ela repreende.

— Quem é a mocinha certinha agora? – retruco fogosa, deixando-a para trás e acompanhando as outras meninas da minha turma.

Ao sair da trilha, observo com um sorriso no rosto algumas pessoas já mergulhando no lago, o cheiro da grama, das árvores e o som dos pássaros me arrancam sorrisos genuínos ao perceber como o dia estava lindo e repleto de vida, algo que eu não percebia cercada por meus muros em casa e com a cara em meus livros de estudo.

Meu coração se agita com a sensação de liberdade, as emoções explodem em meu peito e me fazem transbordar em felicidade, mas não dura por muito tempo.

No outro lado do lago, estava Christopher junto com Viktor, ambos estavam de bermudas de banho e molhados, sinal de que eles já estavam por aqui há mais tempo, o que causou ainda mais desespero. Christopher não foi visto antes não porque ele havia ido embora por não ter mais aula, mas sim porque ele esteve no lago durante todo esse tempo.

Cambaleando em meus pés, sinto um formigamento percorrer pelo meu corpo, a bile sobe em minha garganta e o álcool insiste em querer voltar quando o olhar dele cai em mim, me olhando da cabeça aos pés como se não pudesse acreditar no que estava vendo.

Eu só sabia apenas de uma coisa, eu estava completamente ferrada.

Eu queria me odiar por sentir, mesmo que pouco, uma emoção por ver sua atenção presa em mim durante tanto tempo, mesmo que isso fosse apenas me causar problemas.

— Vivian – Rosalie chega até mim, sua mão agarra o meu braço, mas seu toque é dormente, estou completamente hipnotizada pelos olhos mais escuros e frios que já vi em toda a minha vida para sentir qualquer outra coisa.

Ciente de onde e para quem eu estava olhando, ela suspira em espanto, e posso imaginar o seu estado de choque ao perceber que estávamos na mira do diabo.

Mais especificamente, eu.

Christopher Lewis - quatorze anos de idade

— Parece que a princesa resolveu fugir do castelo – Viktor comenta, se divertindo com toda a porra da situação.

Olhando de soslaio para ele, vejo-o rir na minha cara, a única pessoa que fazia isso constantemente e estava viva.

— Isso vai me dar uma puta dor de cabeça – digo irritado.

— Então, o contrato diz que você tem que ser babá da princesinha?

Que o diabo o tenha, eu iria matá-lo.

— Eu vou matar você – rosno entre dentes, olhando de volta para Vivian, que já estava caminhando para o meio da sua turminha de idiotas.

Me desafiando, ela vira a garrafa com bebida em sua boca olhando diretamente em meus olhos, e posso ouvir a risadinha de Viktor, mas o ignoro, ciente de que eu deveria me controlar para não acabar matando os dois juntos.

— Ela é ousada – Viktor assobia.

Assenti, pondo-me de pé e catando minha camisa, vestindo-a com todo o controle que eu tinha para não rasgá-la e agir como um animal selvagem. As palavras daquela maldita noite estavam presas em minha mente como adagas cravadas em um crânio.

"para o acordo ser concretizado, seu filho precisa prometer proteger Vivian a todo custo"

Eu não podia arriscar, estava ciente de onde estava me colocando antes mesmo que as coisas fossem concretizadas.

Eu colocaria tudo em risco se essa cabeça burra atrapalhasse os meus planos.

— Aonde vai? – Miles pergunta, mesmo sabendo a resposta, apenas ele sabia sobre o contrato.

— Resolver isso – murmuro baixo, sentindo uma raiva incontrolável — E que o diabo não me possua para que eu não acabe matando alguém.

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Boa leitura! ❤

Casamento por contrato - A verdade por trás dos murosOnde histórias criam vida. Descubra agora