Capítulo três

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Vivian Coleman - oito anos de idade

Enxugando as lágrimas que insistiam em escorrer por minhas bochechas, encaro os muros altos e o jardim pela janela do meu quarto, chateada por meus pais me deixarem presa aqui dentro, apenas com o meu jantar intocado em minha mesinha.

Aparentemente, o jantar era sobre negócios, e eu não estava na idade de participar. Mas eu sabia que eles só temiam que eu acabasse falando demais, às vezes, desejo ser tão calada quanto Diana, tão fria quanto ela, mas infelizmente eu não nasci programada para ser a princesa do gelo que meu pai tanto desejou.

Com a janela aberta e as minhas mãos apoiadas no parapeito, suspiro corajosa, ciente de que se eu pulasse, provavelmente acabaria morta. E mesmo que eu fizesse uma descida com vários lençóis como nos filmes, eu não teria força para me segurar e acabaria morrendo, era alto demais, tal como a rapunzel presa na torre mais alta.

O barulho da maçaneta me faz olhar em direção da porta, me assustando ao perceber a insistência da pessoa por trás dela para entrar, a porta estava trancada. Se fosse Diana, ela saberia disso e já teria destrancado com a chave, assim como qualquer um de meus pais.

Engolindo minhas lágrimas para aplacar o meu medo, penso que talvez a ideia de me jogar lá embaixo não fosse tão ruim. Seria um dos guardas? não, nenhum deles tinham permissão para entrar em meu quarto.

Assim que a porta se abre, a figura de uma criança avança pela penumbra do quarto, sinto minha espinha gelar quando a presença de um garoto se torna mais presente no quarto, o medo tornando-se instantâneo no momento em que percebo a cor dos seus olhos.

Eu já havia lido sobre essa doença, heterocromia. Que é uma condição em que os olhos da pessoa apresenta uma alteração e cada olho possui uma cor ou um dos olhos possui duas cores.

No caso dele, mesmo com a pouca iluminação, pude notar que um de seus olhos era totalmente azul, já o outro, era azul misturado com verde escuro, como os meus. Era lindo, mesmo que o seu olhar fosse tão frio.

Percebendo que estou encarando demais os seus olhos, finalmente minha ficha cai.

— Como você conseguiu entrar aqui? e quem é você? – pergunto ao garoto parado no meio do quarto, seu silêncio era assustador. — Por que você não fala nada?

Balançando seus ombros com indiferença, ele caminha até o interruptor e liga a luz do meu quarto, analisando toda área antes de voltar para mim.

— Porque eu não quero dizer nada.

— Você invadiu meu quarto! – aponto, incrédula — Como você entrou se a porta estava trancada?

— Eu só preciso de algo pontiagudo para conseguir fazer isso – ele diz, parecendo impaciente, era pomposo demais para um garoto novo como eu.

— Você deve ser o garoto Lewis – digo, ainda próxima a janela.

— Ouviu falar de mim? – ele me encara, atento.

— Você não parece surpreso com isso.

— Muitas pessoas falam sobre mim – desabotoando seu terno, ele me analisa minuciosamente antes de dizer — Você deve ser a pequena Vivian.

— Como sabe meu nome?

— Sua mãe disse que você estava indisposta para participar do jantar.

Na verdade, ela me trancou aqui – respondo silenciosamente.

— Sim – minto — Comi muitos doces durante o chá da tarde.

Ele mal espera que eu termine de falar para rebater.

— Você está mentindo.

— O quê? É claro que não estou!

— Para quem é do nosso mundo, você é muito ingênua.

Indignada com a forma em que suas palavras soaram tão rude, retruco.

— E você quer ser demais para uma criança.

— Você é irritante – indiferente, ele caminha de volta até a porta — Por que você esteve trancada aqui e não no jantar?

— Meus pais disseram que era assunto de negócio – respondo — Mas parece que não era tão sério assim, já que você está lá.

Rindo da minha cara, ele nega com a cabeça.

— Tem razão de você estar sendo mantida presa.

Christopher Lewis - dez anos de idade

Ao sair do quarto da pirralha loira, me certifico de fechar a porta e caminhar de volta até o salão de jantar, a guarda era baixa pelos corredores, mas confesso ser difícil para conseguir invadir o quarto dela, o que significa que eles trancavam a princesa a sete chaves do mundo.

Ela provavelmente não obtém conhecimento do que sua família é capaz de fazer, onde sua irmã carrega frieza no olhar e uma postura rígida, ela carrega inocência e despreocupação com o que pode acontecer com ela. Se ela soubesse que há pessoas querendo sua cabeça o tempo todo, provavelmente surtaria.

Parando um pouco antes do salão de jantar, olho para o guarda que estava prestes a me seguir mais cedo e puxo algumas notas de dinheiro do meu bolso, entregando-lhe.

Ninguém em outro lugar acreditaria que um garoto de dez anos conseguira subornar um homem adulto.

— Você a matou? – ele indaga, parecendo preocupado.

— Não.

Voltando até o salão, observo quando todos estão sorrindo na mesa, trocando um olhar rápido com Diana, que parecia nervosa.

— O que eu perdi? – sentando-me à mesa, pergunto — Eu deveria ter aceitado a sua ajuda – digo a Diana — Me perdi pelo caminho.

Com os olhos semicerrados e beirando a desconfiança, Thiago, pai de Diana, diz: — Eu imagino que sim.

Ele sabia que eu estava mentindo.

— Que bom que chegou a tempo de nos ver fechar o nosso negócio – meu pai diz — Acho que agora é, de fato, o momento.

Um silêncio insuportável se faz presente na mesa, ciente de que dali em diante algumas coisas mudariam, digo:

— Vamos logo com isso.

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Boa leitura! ❤

Casamento por contrato - A verdade por trás dos murosOnde histórias criam vida. Descubra agora