Capítulo quatro

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Vivian Coleman - doze anos de idade

Algumas crianças passavam correndo pelos corredores do colégio, se comportando feito animais, nem mesmo pareciam vir de famílias ricas e de elite.

— Para uma escola particular, isso mais se parece a um chiqueiro de tanto garoto fedido – reclamo, passando a mão por minha saia que só ia até um pouco acima dos meus joelhos.

O uniforme era o que eu mais gostava de todo o colégio, as meninas vestiam saias azuis escuras, com meias longas e brancas próximas ao joelho, e botas de cano longo pretas, blusas sociais brancas de botões e um terninho por cima na cor azul, todos os detalhamentos eram em vermelho. Já os meninos, calças, camisa social e terno, eu gostava do código de vestimenta da escola, pelo menos nisso era bom, apesar de poucos meninos usarem os ternos.

Diana ri, entrelaçando um braço ao meu.

— Isso é porque você é mimada e bem cuidada.

— Sua realidade não é muito diferente da minha, afinal, somos irmãs.

— Isso pode ser verdade, mas eu tenho contato com pessoas.

— Que ironia, vindo da pessoa que é totalmente a favor de me deixar presa em casa – bufando, reviro meus olhos.

Ela se põe em minha frente, segurando meus ombros com firmeza e me encarando dentro dos olhos, me passando a segurança que somente ela sabia fazer.

— É para o seu bem, mamãe e papai podem não mostrar isso, mas todos nós só queremos te proteger.

— É, vocês não me deixam esquecer isso em nenhum momento – retruco, entrando para dentro da minha sala e deixando-a parada lá na porta, mas Diana era fria demais para pensar em minha chateação, em como eu estava me sentindo, não demora muito até vê-la entrar na sua sala, que ficava de frente para a minha.

Encostado na parede de braços cruzados e com a gravata do uniforme meio frouxa em seu pescoço, Christopher conversava com Viktor Miles, eles dois eram os únicos garotos da escola avançados demais para quem tinha apenas quatorze anos de idade, as meninas eram apaixonadas por eles, e sendo ambos do time de futebol, Viktor o zagueiro do time, e Christopher, o atacante, isso acabava por aumentar suas famas, principalmente com as garotas.

Normalmente, as pessoas tinham medo de conversar com eles dois, principalmente com Christopher, que sempre parecia um psicopata assassino, eu e ele não conversamos mais desde aquela noite em que ele invadira o meu quarto, na minha casa, mas ele sempre fazia visitas para jantares e eventos, e quase sempre, ficava ao lado de Diana e conversava com ela. Ela era a única pessoa na qual ele parecia ser uma pessoa normal quando estava conversando, ou ao menos tentava.

Confesso que isso sempre me irritou, ele nunca teve paciência para falar comigo e muito menos para ficar perto de mim, nas vezes em que puxei assunto, ele sempre me olhou com indiferença como fazia com todas as pessoas, exceto por Diana. E nunca, em todas as tentativas, ele havia aberto a boca para me responder até um simples boa noite.

Ele me intrigava, me fazia questionar porque era ele a única pessoa a não se encantar por mim e principalmente pela minha aparência.

— Ele sabe que você está encarando ele – a voz de Rosalie, minha única amiga da turma e do colégio todo, me puxa dos meus devaneios.

— O que? – olho entre ela e Christopher, que olhava atentamente para o aparelho nas mãos de Viktor, ele provavelmente estava mostrando mais uma de suas criações tecnológicas que somente Viktor era capaz de fazer e compreender para ele — Ele não.. – pisco atônita, desviando o olhar para Rosalie e seus incríveis olhos cor de mel — Ele definitivamente não sabe.

— Por que você não deixa esse fascínio de lado?

— Não é fascínio, eu só queria saber porque ele me evita se eu nunca fiz nada para ofender a sua pessoa.

Os cabelos loiros e ondulados de Rosalie voam quando o vento entra pela janela e atiça seus fios sedosos e brilhantes, mesmo nova, Rosalie possuía uma beleza de morrer com seus cabelos loiros, seus olhos verdes e seu rosto delicado como o de uma princesa real.

— Esquece isso de uma vez por todas, Vivian. Além do mais, ele te faz um favor ficando longe de você.

— Por que acha isso?

Balançando seus ombros de maneira descontraída enquanto folheia seu caderno, ela diz — Ele tem cara de quem provavelmente já escondeu algum corpo por aí, sinceramente, amiga, só você tem interesse em entender esse louco.

Abro e fecho minha boca várias vezes, não sabendo como responder a isso. Ciente de um olhar em mim, viro minha cabeça a tempo de ver Christopher me encarando com seus olhos escuros como a noite, tão frios que me causam arrepios e me fazem engolir em seco.

Com o passar dos anos, ele começou a usar lentes de contato castanho escuro para esconder sua heterocromia, acho que apenas minha família e a sua sabia de sua doença.

— O que você acha da gente dar uma escapada depois do colégio? – Rosalie pergunta, o que me faz franzir as sobrancelhas e encará-la, cortando o contato visual com Christopher.

— Para onde iríamos? – pergunto.

— A galera está pensando em dar um pulo no lago que fica logo após a trilha nos fundos do colégio.

Mordo meu lábio inferior, hesitante — Você não acha.. perigoso? é na mata, alguém pode se machucar, e se formos pegos..

— Não vai acontecer nada – ela diz sorridente — Nós só vamos seguir a trilha até chegar ao lago, os meninos já fizeram isso diversas vezes.

— Alguém pode notar a nossa ausência.

Imediatamente, ela nega com a cabeça.

— Temos aula vaga até às três horas hoje – percebendo meu receio, Rosalie insiste — Vamos, pode ser divertido.

— Se Diana descobrir.. – Rosalie bufa, revirando seus olhos.

— Eu sabia que você se preocuparia com a sua irmã, e por isso me informei de algumas coisas.. – ela ri, parecendo vitoriosa.

— O que?

— Ela só tem aula até o meio-dia hoje, ela não vai ficar até as cinco. O que significa que Christopher também não vai estar para contar tudo a ela depois, já que ambos são da mesma turma.

— Não sei, Rosalie, parece arriscado..

— Ah, qual é? – ela diz, impaciente. — Podemos usar nossos biquínis que deixamos guardados aqui para usar durante os banhos de piscina nas sextas-feiras.

Arqueio as sobrancelhas, estudar em uma escola integral tinha suas vantagens às vezes.

Semicerrei meus olhos, olhando para o sorriso sapeca de Rosalie.

— Você pensou em tudo para que eu não chegasse a dizer não, não foi?

— É claro, tem que se pensar em tudo para convencer você – ela pisca para mim, sorrindo e virando-se para a frente quando a professora adentra a sala.

⟫⟫⟫

Quando saímos da sala, Rosalie passa um braço pelo meu ombro enquanto caminhamos até o refeitório para almoçar e diz:

— E então? Você se decidiu?

— Você tem certeza que nenhum dos dois estarão por lá?

— Absoluta, apenas confie em mim.

Respiro profundamente antes de responder.

— Ok, acho que não vai me fazer mal algum.

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Boa leitura! ❤

Casamento por contrato - A verdade por trás dos murosOnde histórias criam vida. Descubra agora