Já havia caminhado por quase três horas quando minhas pernas falharam. O vento soprava com força, a ponto de quase arrancar uma árvore, tornando ainda mais árdua minha caminhada. Normalmente, eu enfrentava tempestades de neve quando estava aborrecida, o que me fazia sentir melhor, mas nunca tinha algo daquela magnitude. Percebi que não estava mais na floresta, pois não conseguia avistar nenhuma árvore. De repente, ouvi uma voz distante; não conseguia entender o que estava sendo dito. Rapidamente, desembainhei minha espada e me atentei melhor ao som.
"Kaalyndra", foi o que consegui ouvir.
A voz se aproximava cada vez mais, e quando chegou mais perto, consegui identificar o idiota a quem ela pertencia, graças ao calor que percorreu meu corpo mesmo em meio à nevasca.
"Aquele idiota me seguiu!", pensei, sentindo minha fúria crescer.
— Kaalyndra! Finalmente te alcancei! — Hendry falou, completamente coberto com roupas de inverno, mas ainda tremendo de frio.
— Hendry, eu juro pelos deuses que vou matar você! — lancei um olhar afiado, que não tive certeza se ele notou com aquele capuz três vezes maior que sua cabeça. — O que você está fazendo aqui?!
— Eu não poderia... deixar... você vir... sozinha — falou, tremendo por causa do frio. — Eu te segui... por Shyn, que frio!
— Você é mesmo um idiota! Se você ficar aqui, vai morrer — falei, preocupada. — Por favor, volte.
— Eu não... saberia voltar — falou com muita dificuldade.
O frio, dependendo de sua intensidade, poderia ser mortal para um Solariano. Olhei em volta, parecia que estávamos muito longe da capital. Com toda a nevasca, eu não conseguia me localizar.
O calor em meu corpo diminuía gradualmente; olhei para Hendry e o vi de joelhos. Tirei meu casaco e o coloquei sobre ele, tentando aquecê-lo um pouco mais. Senti um arrepio de frio novamente — o que me deixou confusa, já que raramente eu sentia frio. Olhei para as mãos de Hendry e vi que estavam embranquecidas, entrei em desespero. Parecia não haver nada ao nosso redor.
— Droga, idiota, por que você tinha que me seguir?! — esbravejei, em desespero.
— Eu não poderia... deixar a... minha noiva... esquentadinha... sozinha — sua voz soou mais fraca a cada palavra.
Fui até ele, coloquei seu braço direito sobre meu ombro e o ajudei a levantar. Começamos a andar, minha esperança era retornar pelo caminho por onde viemos, em direção à capital. No entanto, a nevasca parecia se intensificar ainda mais, fazendo-me perder qualquer senso de direção.
Continuamos a andar por mais tempo do que eu pretendia, com Hendry cambaleando, o que tornava a caminhada ainda mais difícil. Acabei escorregando em uma pedra, fazendo com que nós dois caíssemos e rasgando minha blusa no busto; também tive um corte feio na mão, que atravessou a luva, pois tentei impedir a queda. Ficamos no chão por um tempo. Ouvi Hendry gemer de dor e percebi que ele havia batido o lado esquerdo da cintura em uma pedra afiada, que deixou um grande corte, sangrando abundantemente. Tirei minha luva, levantei, colocando novamente seu braço direito ao redor do meu pescoço, enquanto tentava estancar o sangramento com a minha mão esquerda, que também sangrava.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...