"Dia 100
Hoje, ela despertou finalmente de seu torpor. No início, parecia desnorteada e confusa, mas logo recordou-se de sua irmã, e uma agitação a tomou novamente. Testemunhei seu poder, uma manifestação pura de ódio e mágoa. Nunca antes vi algo tão intenso. Não é de se admirar que Sheen tenha cerrado as portas de seu reino; ele é um covarde ingrato. Meus pais concederam-lhe poder e glória, um reino para auxiliar Celestria, e no primeiro deslize, ele desaparece para sempre. Se não fosse a misericórdia dos meus pais, já o teria matado há eras.
A mantive reclusa em uma das suítes do palácio, protegida por runas anti-magia, para que fique confortável, mas não faça mal a ninguém. Tenho visitado-a constantemente, tentando compreendê-la, mas ela se recusa a conversar comigo. Afirma odiar a mim e aos meus pais por termos concedido poder ao seu pai; como se eu tivesse culpa disso. Ela possui um estresse como nunca vi em nenhuma outra criatura, chega a ser irritante.
Frequentemente, ela acorda todo o palácio com seus gritos após pesadelos, mas nega-se a aceitar ajuda. Mantendo-a aqui, Celestria não tem sofrido com as batalhas insanas. Solar não possui coragem suficiente para vir até aqui, mas não sei por quanto tempo poderei mantê-la presa. Contudo, desde que meu povo esteja a salvo, não vejo problemas nisso."
"Dia 105
Ontem, ao visitá-la, presenciei algo incomum: ela conversava animadamente com um pequeno passarinho, como se fosse um igual. Ele cantou para ela, permitindo-me testemunhar o primeiro sorriso em seu adorável rosto. Era tão encantador que parecia iluminar todo o cômodo; não consegui conter o meu próprio sorriso. Como alguém com um sorriso que me faria fazer qualquer coisa para vê-lo todos os dias, pode abrigar algo sombrio dentro de si? Eu não consigo entender.
O passarinho retornou hoje e, finalmente, ela dirigiu-me uma palavra que não carregava raiva ou rancor. Perguntou se eu poderia trazer algo para o seu novo amigo emplumado comer, até mesmo contou-me o nome do animal. Ela parecia entendê-lo, como se sentisse o que ele sentia. Enquanto isso, o efeito que seu sorriso estava causando em mim era evidente; ela abriu-o ainda mais, revelando duas covinhas em cada uma de suas bochechas. Senti-me um tolo por não conseguir recusar, mas quem poderia resistir?
Providenciei todos os diferentes tipos de pães que os cozinheiros eram capazes de fazer, para dar ao maldito pássaro de penas azuis em troca de mais alguns sorrisos de agradecimento. Consegui até mesmo algumas palavras gentis. Senti-me ainda mais idiota por estar feliz com algo tão simples. Eu, o guardião do mundo inteiro, filho de deuses, tratando bem um mísero pássaro por um sorriso."
"Dia 135
O pássaro continua retornando e tem trazido grande conforto a ela, então não me importo de ouvir seu canto o dia inteiro. Ela me contou que o nome de sua espécie é Aurora-Azul, pois quando ele canta, uma leve aurora em tons azulados irradia de suas penas. Para ela, é sua espécie de pássaro favorita, pois evoca lembranças de seu antigo lar nos momentos felizes. Para mim, porém, me lembra seus olhos azuis claros, como a água mais cristalina das grutas sagradas de Dracária, como o Daphirix mais puro e belo, presentes naquele rosto doce e suave.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...