Assim que entramos no labirinto, os gritos de dor dos soldados ecoaram pelas estreitas paredes. Para avançar, era necessário nos espremermos e andar com cautela.
Eldric já havia sido cortado no peito e nas mãos; ele seguia à minha frente. Meu corpo estava bem acomodado graças à minha falta de curvas avantajadas. Valandriel, à frente dele, lamentava a ardência do corte em suas costas. Hendry, liderando o grupo, exibia cortes em seu rosto e braços. Os gelos pontiagudos eram tão duros quanto diamantes; sem magia, era impossível quebrá-los.
Não sabíamos se estávamos indo na direção certa, mas seguimos em frente.
— Ele estava ciente de nós dois o tempo todo? — Eldric sussurrou em Eldrivian.
— Sim, ele sabia. Revelei no mesmo dia em que anunciaram nosso noivado.
— E você confia o suficiente nele para ter compartilhado isso? — ele perguntou novamente, gemendo de dor ao ser cortado mais uma vez.
Ele olhou para mim sem diminuir o ritmo.
— Valandriel também está ciente. E eu diria que é possível confiar uma vida nas mãos de Hendry.
— Não acha que em algum momento ele irá trair você? Quer dizer, ele é um Solariano... — franzi o cenho; ele percebeu minha expressão desagradável. — Sei que se tornaram amigos, mas sabemos de quem ele é filho.
Suspirei; já havia ouvido aquele mesmo discurso sobre Hendry.
— Ele é uma boa pessoa. Você, melhor do que ninguém, sabe que não devemos pagar pelos erros dos nossos pais — retruquei.
Eldric baixou os olhos e uma sombra irrompeu seu rosto. Me arrependi instantaneamente de ter mencionado aquilo. O pai de Eldric era um criminoso que morreu quando ele tinha apenas quatro anos.
— El, me des...
— Se confia nele, tudo bem, é uma escolha sua — interrompeu-me, com uma compreensível rispidez. — Mas eu passei bastante tempo com os soldados Solarianos que estão na corte há vários anos. Então me diga, se ele é tão bom como você diz, por que possui um segredo que faz o rei ameaçar de morte qualquer um que sequer pense no assunto?
— Segredo? — franzi o cenho.
Não sabia o que dizer. Lembrei da vaga conversa que ouvi entre Éry e Hendry em nossa primeira noite em Dracária. Aparentemente, havia algo que ele escondia de fato. Baixei o olhar.
— Até você sabe que há algo de errado, não é? — indagou, percebendo minha hesitação.
— Pela expressão de vocês, parecem estar discutindo — Valandriel interveio. — Não quero ser inconveniente, mas poderiam se concentrar e deixar esse assunto, seja lá qual for, para depois? Precisamos sair daqui.
Assentimos com a cabeça e voltamos nossa atenção para o caminho à frente. Lancei um rápido olhar na direção de Hendry, que retribuiu com um meio sorriso tranquilizador.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...