Atravessei o caminho até a tenda; alguns guardas cruzaram meu caminho em direção ao local onde nossa exaustiva batalha ocorreu. Tentei correr o máximo que pude, ignorando completamente a dor latejante em minha perna. Todos os civis estavam do lado de fora, alguns em estado catatônico devido ao medo, outros choravam baixinho, e outros conversavam entre si. Algumas fadas saíram de dentro da tenda, carregando uma bacia de madeira com panos completamente ensanguentados. Ouvi Hendry emitir outro grito de dor e entrei na tenda.
Ele estava deitado sobre uma mesa baixa, a blusa aberta revelando o ferimento causado pelo Trovarghoul; havia muitas outras cicatrizes distribuídas por seu abdômen, algumas delas enrugadas, indicando que eram antigas. Ao redor do machucado, o sangue misturava-se a algo preto, formando linhas semelhantes a veias, e aquela substância parecia se alastrar por seu tronco. Hendry suava profusamente, gemendo de dor; a cada vez que Elowen recitava algo, suas costas se arqueavam e ele soltava gritos. Apertei os lábios, tentando conter as lágrimas que surgiam em meus olhos sem permissão. Hendry, parecendo tonto, virou lentamente a cabeça na minha direção. Faeryn estava abaixado ao lado, auxiliando Elowen nos feitiços.
— Ka...ly — tentou falar, estendendo fracamente sua mão em minha direção.
Me aproximei, não conseguindo desviar o olhar do ferimento. Ajoelhei-me ao seu lado e segurei suas mãos, ele abriu um sorriso com muita dificuldade. Em seguida, fechou os olhos. Meu coração apertou-se fortemente no peito.
— Dry?! — o chamei desesperada, tentando fazê-lo acordar.
— Ele vai ficar desacordado alguns minutos... — Elowen explicou, avaliando o ferimento.
— Ele vai ficar bem, não vai?! Vocês não podem deixá-lo morrer!
— Estamos fazendo de tudo para retirar o veneno do corpo dele, evitando que ele sofra, mas temo que ele não aguentará por muito mais tempo — Faeryn respondeu. Ele estava curvado, como se um peso estivesse em suas costas.
— Estou fazendo o possível para atrasar a chegada do veneno ao coração dele, mas... — o rei elfo parou e franziu a testa.
Na mesma hora, Ýüny e Valandriel entraram. Ýüny ficou sem fôlego ao ver Hendry e se aproximou de mim, colocando seu braço em volta do meu ombro.
— Mas? — indaguei, com o choro preso em minha garganta, ainda segurando a mão do meu amigo.
— Não tem como eu fazer isso para sempre... ele morrerá em poucas horas — respondeu, soltando um intenso suspiro. — Isso é culpa nossa. Não devíamos ter permitido que lutassem.
As lágrimas brotaram nos olhos de Ýüny, que se afastou, passando a mão na testa. Eu não conseguia conter as minhas; elas escorriam em cascata pelo meu rosto. Fechei os olhos, e a dor de Hendry parecia ter percorrido por minhas veias, atingindo cada parte do meu corpo. Tremi.
— Tem que haver algo que possamos fazer, pai! — Valandriel exclamou, sério.
Olhei na direção de Elowen; ele parecia refletir. Seus olhos se moveram de Hendry para seu próprio filho e, finalmente, para mim. Havia algo em seu olhar, e uma faísca de esperança que começou a acender em mim.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...