Assim que entrei, o aroma de guisado preencheu o ar, fazendo meu estômago roncar de imediato. O ambiente tinha um calor acolhedor, o que explicava por que Kellan gostava tanto daquele lugar. Uma lareira crepitava suavemente, aquecendo o espaço, que era simples, mas aconchegante. Uma mesa de madeira desgastada, com um candelabro de ferro, ocupava o centro, cercada por cadeiras que mostravam sinais de uso constante. Na parede, uma estante abrigava livros com títulos variados e em diferentes idiomas. Uma divisória de madeira separava os cômodos. Kellan, ainda resmungando e tentando se livrar do aperto de Yron, foi solto com um leve empurrão. Ele cruzou os braços e lançou um olhar firme, embora a tentativa de parecer autoritário não surtiu o efeito que desejava.
— Sentem-se — ordenou Yron, com um tom seco. — O guisado está pronto.
Kellan, já acomodado em uma das cadeiras, revirou os olhos.
— Essa é a maneira estranha dele convidar vocês para jantar — murmurou.
— Agradeço, mas não temos tempo a perder — interrompi. — Kellan me garantiu que você poderia nos ajudar.
Yron nem sequer levantou o olhar para mim. Simplesmente colocou quatro tigelas sobre a mesa e as encheu com o guisado, o aroma fazendo meu estômago se contorcer de fome. Kellan se lançou sobre sua tigela, devorando o ensopado sem hesitação.
— Seu estômago ronca como trovões. Se não comer, acho que não vai conseguir chegar aonde quer tão depressa — comentou Yron com desdém, lançando um olhar rápido para as algemas em meus pulsos, mas sem nunca olhar diretamente para mim. — Imagino que esteve presa, não é? Kellan, você sabe como escolher seus amigos...
Kellan o olhou de esguelha, irritado.
— Ele tem razão. Você está muito fraca. Como pretende lutar sem forças? — Kael sugeriu, em tom preocupado.
Soltei um longo suspiro e me sentei à mesa. Peguei a tigela de guisado e levei a primeira colherada à boca. O sabor era tão reconfortante que quase me fez chorar. Ou o equilíbrio dos ingredientes estava perfeito, ou minha fome era tanta que parecia a melhor refeição da minha vida. Comi rapidamente, tanto que Kael gentilmente ofereceu a dele para mim. Ele aproveitou o momento, para curar meus outros ferimentos.
— Não está tão ruim, certo? — brincou Yron. — Agora, preciso saber os nomes de vocês e o que fazem aqui.
Ele manteve o olhar fixo em sua refeição, ocasionalmente lançando um olhar a Kellan e Kael, mas nunca a mim.
— Sou Kael — respondeu meu amigo, firme, atraindo o olhar semicerrado de Yron. — Como você já deve saber, sou um Marcado, e estou aqui para acompanhá-la. A guerra já deve ter começado, se é que você sabe o que está acontecendo em Celestria.
— Sei muito bem o que está acontecendo — replicou Yron, voltando-se para sua comida, aparentemente desinteressado. — E você, garota?
Apertei o punho com força, sentindo que a cada segundo perdido naquela conversa fútil, vidas estavam sendo sacrificadas.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...