— Está gostando do que vê? — Hendry falou abrindo os olhos lentamente, acompanhado do seu típico sorriso brincalhão. — Não sabia que só poderia me ver dormindo depois de casarmos, princesa Kaalyndra?
Eu estava parada à porta do quarto, observando-o. Ele dormia tão tranquilamente que não quis acordá-lo. Estava apenas de calça, mas todo o seu abdômen estava enfaixado. Ele se sentou em seguida. Aproximei-me lentamente, com receio de machucá-lo apenas por estar próxima, e sentei ao seu lado na cama.
— Dizem que os Solarianos são bonitos até quando dormem — entrei na brincadeira. — Acabei de descobrir que é uma grande lorota.
Ele gargalhou, fazendo algo atingir meu coração. Eu abri um sorriso contido. Não parecia haver nem uma sombra de dor nele. Sentei-me em sua cama, ficando de frente um para o outro. Ao olhar seu abdômen enfaixado, meu pequeno sorriso se desfez ao recordar o que aconteceu com ele. Desviei o olhar.
— Como está se sentindo? — perguntei, com os olhos fixos em minha mão.
— Eu estou bem. Elowen e Faeryn fizeram um bom trabalho curando todas as minhas feridas — respondeu.
— Que bom... — minha voz saiu vacilante.
Ele me olhou por um tempo, como se tentasse decifrar algo em minha expressão.
— A pergunta que realmente deveria ser feita é: como você está?
— Não fui eu quem fiquei entre a vida e a morte.
— Mas foi você quem lidou com tudo depois — Hendry falou, segurando a minha mão.
Um nó apertou minha garganta. Ele mandou pelos ares a minha regra de não chorar na frente de ninguém, desde o inicio da nossa aventura. Quando percebi, lágrimas escorriam e soluços escapavam de mim.
— Kaly, nada do que aconteceu foi culpa sua — ele me consolou, acariciando a minha mão.
— A culpa é minha por você ter se machucado — confessei entre soluços. — Não defendi meus pontos fracos como você me orientou. O Marcado deixou claro que só estavam ali por minha causa; fui fraca demais para derrotá-lo e ainda o deixei escapar... — meu peito apertou ao imaginar sua possível volta e o impacto que isso poderia ter em todos no reino das fadas.
Hendry me puxou para seu peito, envolvendo-me em um abraço enquanto acariciava meu cabelo. A lembrança de todas as coisas terríveis que aconteceram fez com que eu chorasse ainda mais. Ficamos assim por um tempo, até que me desvencilhei do seu abraço, enxugando o rosto. Eu não conseguia encará-lo.
— Nada disso que você citou foi culpa sua.
— Você não sabe o...
— Eu sei sim — me interrompeu. O encarei. — Faeryn me contou tudo; era como ele me mantinha acordado enquanto cuidava do meu ferimento. Sei que derrotou sozinha todos os Trovarghouls escuros com uma força e poder absurdos. Na nossa primeira luta contra aquelas criaturas, você liderou a batalha, nos dizendo o que fazer. Foi graças a você que todos saíram vivos, Kaalyndra — ele acariciou minha bochecha. — Se não tivesse esgotado suas forças lutando contra todos aqueles monstros, teria aniquilado aquele caçador. E você me salvou. Não aceitaria ter minha vida ligada a mais ninguém, além de você.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...