— Eldric, é o Kellan! — exclamei, levantando-me rapidamente.
Ava acordou confusa e olhou em volta.
— Quem? — Eldric perguntou, também se levantando, visivelmente confuso.
Juntei-me a Eldric enquanto caminhávamos até o menino. À medida que nos aproximávamos, Eldric pareceu reconhecê-lo, pois sua mão instintivamente foi para o cabo da espada. Kellan soltou um leve grunhido em sua direção, e Eldric bufou em resposta. Ajoelhei-me até ficar da altura de Kellan e esperei que ele se aproximasse. Nosso último encontro mostrou que ele não confiava facilmente. Aos poucos, ele se aproximou e parou diante de mim, erguendo meu casaco. Tentou um sorriso sem jeito, que eu retribuí.
— Isso é seu, não é? — perguntou novamente.
— Sim, é meu. É muito gentil da sua parte trazê-lo até aqui para me entregar — peguei o casaco, mas o coloquei ao redor do menino, que pareceu ainda mais confuso. — Mas acho que fica melhor em você.
Seus olhinhos verdes, semelhantes aos de Hendry, me olhavam incrédulos. Eu sabia que, apesar de suportarem bem o ar gélido por precisarem brevemente dele, os Dracárianos sentiam frio. E com as roupas maltrapilhas que o menino usava — além dos dedos dos pés e das mãos levemente azulados —, era fácil deduzir que ele sentia naquele momento.
— Não preciso de esmolas! — exclamou, ofendido. Não pude deixar de sorrir; sua personalidade me lembrava a de Eldric quando era mais novo. — Yron sempre diz que um verdadeiro guerreiro conquista as coisas com as próprias mãos. E eu sou um guerreiro!
— Eu não duvido disso. Mas o que Yron não lhe contou é que guerreiros também têm princípios. Um deles é não recusar um presente dado de coração — argumentei. — É apenas um presente.
O olhar desconfiado da criança encontrou o casaco, depois a mim, Eldric e de volta ao casaco. Finalmente, sem dizer mais nada, ele enfiou os braços no agasalho e murmurou um "obrigado". Afaguei seus cabelos. Ver suas características tão semelhantes às minhas me fez perguntar quantos Dracárianos ainda restavam e onde estariam.
— Kellan, querido, o que faz aqui? — perguntei, enquanto ele acariciava as mangas do casaco, admirando sua maciez. — Ou melhor, como chegou até aqui?
O olhar dele passou por mim e parou em algo atrás de mim. Seu rosto ficou sério, mas iluminado. Seu cenho se franziu em alívio, e eu soube que ele estava olhando diretamente para Éry.
— Sempre ando por esta parte da floresta e o vi voando em direção a esta montanha — ele começou a falar, dirigindo-se a Éry.
Eldric estava tenso, pronto para atacar, mas me aproximei e toquei seu ombro. Nossos olhos se encontraram e ele suspirou, cedendo. Segui Kellan e me posicionei ao lado de Éry.
— No começo, não acreditei. Mas Yron sempre contou histórias sobre o grande dragão branco que lutou ao lado de nosso rei eterno, o guardião do mundo. Disse que seu retorno significaria o retorno de nosso rei para reerguer Dracária — Kellan continuou, aproximando-se lentamente de Éry. — Por isso, segui vocês até aqui, escalando esta montanha com pedras. Não posso acreditar que você realmente está aqui.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...