Seguíamos todos montados em Éry, pois Kellan havia nos alertado sobre a necessidade de maior silêncio onde estávamos indo. Valandriel levou os cavalos de volta ao palácio através de um portal, garantindo que não precisássemos abandoná-los. Em pouco tempo, chegamos ao destino que Kellan queria nos mostrar. Ele pediu para que Éryagonn pousasse em uma colina que avistamos assim que saímos das nuvens. Éry desceu cuidadosamente, certificando-se de que não havia ninguém por perto. Desmontamos e aguardamos as instruções de Kellan.
— Precisamos esperar um pouco até que apareçam... — disse o garoto enigmaticamente.
Esperamos em silêncio. A quietude fazia o tempo passar devagar. Ava dormia com a cabeça no meu colo, enquanto eu me encostava em Éry, que também dormia, nos envolvendo com seu pescoço. Ýüny estava ao meu lado, acariciando o cabelo de Kellan, que roncava sobre as penas cruzadas da fada. Eldric estava encostado em um grupo de árvores que serviam bem para nos esconder. Ele observava fixamente um ponto na paisagem abaixo da colina. Eu ainda não entendia por que não sentia o cheiro das suas emoções; aquilo nunca havia acontecido antes. Parecia que estávamos cada vez mais distantes, e eu me sentia culpada por isso.
Desviei o olhar para Valandriel, que usava uma pedra escura para afiar ainda mais a ponta de suas flechas feitas de um aço especial fabricado pelos elfos. Observei Hendry, que se aconchegava perto da barriga de Éry, usando a asa do dragão como cobertor — estava uma noite muito fria para um Solariano ficar tanto tempo sem se aquecer. Ele tinha os olhos fechados, mas eu sabia que não estava realmente dormindo. Nossa ligação pulsava dentro de mim, e senti uma onda de calor brincar na palma da minha mão, onde a cicatriz estava. Um sorriso surgiu nos lábios dele, e seus olhos se abriram, dirigindo-se automaticamente para mim.
"Ele fez isso?", perguntei a mim mesma.
"Claro que fez, ele está pensando em você", Éry irrompeu meus pensamentos. "Nunca notou sua marca esquentar?"
"Não...", respondi, observando a palma da minha mão ficar levemente vermelha.
"Tão desatenta. Como sobreviveu esse tempo todo sem mim?", revirei os olhos para a piadinha do dragão.
"Estou pensando seriamente em desligar nossa ligação", rebati. Éry soltou uma risadinha rouca.
"É bem leve, mas se prestar atenção, verá que acontece muito", ele continuou. "Nunca vi um idiota tão apaixonado como aquele príncipe. É uma pena que ele não possa sentir o mesmo; acho que gostaria de saber quando você está pensando nele."
"Espera, ele não sente o mesmo?", perguntei, confusa. "Por quê?"
Éry abriu os olhos, e um brilho familiar tilintou. Seus olhos, de cor semelhante aos meus, me encararam com ternura.
"Às vezes, baixinha, você se fecha. Fica reclusa em seus próprios pensamentos e não permite nem mesmo que eu a escute ou sinta o que está sentindo. É como se você ficasse inconsciente mesmo desperta. Você faz o mesmo com ele. É como se estivesse o tempo todo tentando se proteger de todos", lembrei de Hendry mencionar algo parecido quando conversamos sobre o irmão dele. "Eu não a culpo, mas quero que saiba, e ele também, acredite, que não precisa passar por essa guerra sozinha. Principalmente a que acontece aí dentro."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...