O livro abriu-se na primeira página. Aproximei-me novamente dele, ainda atônita com o fato de a chave ser a primeira frase da cantiga que meus pais criaram para mim. Na primeira página, uma dedicatória chamou minha atenção.
— Para o meu passado, o meu presente e o meu futuro — li em voz alta.
Sentei na cama e comecei a folheá-lo. Era muito antigo, um pouco castigado pelo tempo. As primeiras páginas pareciam rascunhos de algumas estruturas que me lembravam muito as casas que vimos em Dracária, intituladas como "futuros projetos". Continuei folheando até encontrar poderosos feitiços Dracárianos, desde curas até magias mortais. Tudo estava escrito em Bravarian. Era como um grimório pessoal dele. Percebi manchas de tinta e comida em várias páginas.
"Ainda bem que não sou a única", pensei, sorrindo internamente.
Continuei folheando. Até que uma folha branca surgiu; ao virá-la, deparei-me com algumas páginas rasgadas e manchadas, o que dificultava um pouco a leitura.
"Dia 98
Desde que a encontrei inconsciente na Floresta Amaldiçoada, tenho cuidado dela. Ela exibia ferimentos profundos provenientes de outra batalha. Mesmo ao utilizar os feitiços de cura mais intensos que existem, ela recusa qualquer tentativa de se curar. Parece quase como se desejasse a morte. Não a culpo.
O maior perigo está na coisa maligna que cresce dentro dela. Não há magia suficiente para matá-lo ou simplesmente removê-lo de seu interior. Aquilo a está transformando, e sinto-me completamente impotente; nunca vi algo semelhante. Se Shyn pretendia fazer suas filhas sofrerem, deveria ter buscado outras formas de castigá-las. Suas ações agora afetam toda Celestria, meu mundo. Temo por todos.
Éryagonn tem liderado patrulhas nos céus com outros dragões, enquanto meus soldados permanecem em solo para evitar que Solar se aproxime dela. No entanto, sei que assim que ela despertar, irá atrás da irmã para mais uma batalha.
Embora eu esteja ciente de que minhas palavras podem ser em vão, mantenho a esperança de persuadi-la a abandonar essa busca por vingança. A cada dia, busco sabedoria em meus pais, mas eles permanecem adormecidos. Não tenho ideia de quanto tempo precisarei aguardar até o próximo eclipse."
Fechei o livro, completamente atônita — a tranca voltou a como estava antes. Aquilo era a prova de que a história sobre como os reinos haviam sido criados era completamente verdadeira. Naquele instante, senti que tudo o que eu julgava saber não passava nem da ponta do iceberg da verdade.
Guardei o livro no mesmo compartimento no chão onde eu costumava colocar meu grimório — ninguém sabia dele, nem mesmo Elara. Não poderia permitir que alguém pusesse as mãos naquele livro.
Apaguei o candelabro e me enfiei sob as cobertas. Todos os eventos invadiram minha mente. Havia outro Dracáriano próximo a mim, o rei de Solaria era um Marcado, Kaa e as outras deusas existiram. Minha cabeça latejava a ponto de afastar o sono de mim. Sem a permissão para usar magia, eu teria que suportar aquela dor infernal.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...