Segui as pegadas de Hendry, mesmo em meio à escuridão, mas desacelerei ao escutar batidas repetitivas. Paralisei diante da cena que se desenrolava à minha frente; Hendry desferia socos e mais socos em uma árvore. Sangue escorria de seu punho, mas ele não parecia se importar. Meu peito se apertou com a enxurrada de sentimentos que emanava dele. Dor, raiva, tristeza extrema, mágoa... tantos sentimentos ao mesmo tempo.
— Hendry... — o chamei, com a voz quase inaudível.
Ele não parou, ao contrário, socava a árvore com ainda mais força. O fato de não emitir um único gemido de dor me deixou completamente em pânico. Ele estava se machucando propositalmente, e me culpei por isso. A raiva que eu sentia minutos antes se dissipou completamente, tomada pela triste cena que eu via.
— Hendry, pare com isso, está se machucando! — dei um passo à frente, relutante.
Ele não parou, nem por um segundo.
— HENDRY! — gritei. Então, aos poucos, os socos desaceleraram, até parar completamente.
Seu rosto se virou na minha direção, mas seus olhos permaneceram baixos. Seu cabelo estava levemente grudado na testa, enquanto seu peito subia e descia, ofegante. Olhei para suas mãos, ainda cerradas, de onde algumas gotas de sangue caíam lentamente. Levei as mãos à boca, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. Nunca imaginei que o veria naquele estado.
Seus olhos se ergueram lentamente até encontrarem os meus. Estavam sombrios — quase sem vida. O encarei, sentindo uma profunda dor pelo que eu havia causado. Ele desviou o olhar para a árvore que tinha esmurrado, depois para suas mãos, e finalmente para mim. Em seguida, desabou no chão, chorando intensamente, com as mãos na cabeça.
— Me... perdoa... — tentou falar, mas sua voz mal saía. — Me perdoa...
Aproximei-me dele com cautela. Enxuguei a lágrima que escorria pelo meu rosto e me ajoelhei diante dele. Ele me puxou para um abraço, apoiando a cabeça em meu peito. Envolvi-o fortemente com os meus braços e o deixei chorar. Passei minhas mãos por seus cabelos e depositei um beijo em sua testa — como ele sempre fazia em Dracária, quando eu acordava assustada de um pesadelo.
— Me perdoa... — repetia em meio as lágrimas. — E-eu estraguei tudo...
Beijei sua testa novamente e acariciei seus cabelos; ele apertou seus braços ainda mais ao redor da minha cintura.
— Está tudo bem — sussurrei, apoiando meu queixo em sua cabeça. — Estou aqui... ainda estou aqui.
Ficamos naquela posição por um bom tempo, e eu não me importei nem um pouco com a dor latejante na minha perna. Aos poucos, o choro de Hendry foi diminuindo, dando lugar a uma calma que lenta. Ele acariciava meu quadril com o polegar, enquanto eu passava meus dedos suavemente por seus cabelos. Sem dizer uma palavra, ele finalmente afrouxou nosso abraço, e eu me afastei um pouco. Hendry olhou para suas mãos e fez uma expressão de dor. Imediatamente, tirei meu casaco e, com a ajuda da minha espada, cortei as mangas da minha blusa preta, criando três tiras longas — pensei em usar magia para curá-lo, mas o feitiço para mascarar o cheiro da minha magia já havia se quebrado durante o desafio.
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Além da Neve
FantasyNas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os mais próspero e dominantes. Em um desses quatros reinos, chamado de Frosthaven, onde o inverno incessante era sua principal característica...