forty-eigth

517 72 92
                                    


Vote e deixe um comentário para a autora ficar feliz, pliss.

»»»»»»»»

Três dias depois...

O quarto está totalmente fechado, escuro e frio, a única coisa viva lá dentro é a carne de Hellory, pois a alma decompõe por completo em meio a tantas lágrimas. A dor não passa, a saudade só aumenta, pressionando seu peito e a afogando dentro de um mar de sentimentos apavorantes, tristeza raiva e saudade essa é a definição.

»»»»»»»»»»

Tento colocar um filme, algo para me distrair e esquecer por um breve momento sequer à morte de minha irmã, mas não consigo arranjar um foco, me encolhi novamente em posição fetal lembrando de seu abraço e de quão bom era fazendo, toda minha dor passar em um conchinha, me perguntando se serei capaz de encontrar isso novamente. Sufocada com a situação, me levanto indo devagar até o interruptor e iluminando o quarto bagunçado, com pacotes de chipes pelos cantos e roupas espalhadas. Minha vida está uma bagunça, mas pelo menos aqui dentro ninguém me julga por isso.
Apanho um short preto que avistei jogado por ali e o visto a caminho do banheiro, prendo meu cabelo em um rabo alto e escovo meus dentes. Fito minha aparência no espelho e suspiro, em apenas três dias eu estou parecendo uma morta viva, olheiras enormes e cansaço no olhar com certeza efeito das três noites em claro, me envenenando com um pacote de miojo por dia e salgadinho.

Caminho para fora do quarto indo direto para a porta da sala, no caminho encontrei Hanna e Cris na sala, seus olhares passaram por mim, mas não faço questão de falar com eles ou sequer olha-los, não preciso dar detalhes da minha vida. Ando pelas ruas calmamente, já que até se andar rápido essa desgraça de menstruação parece que sai um rio à mais, não posso nem espirrar.

É tarde, o sol está ardente e as flores caindo sobre seu flete de luz, a rua está calma, mas mesmo assim tenho o desprazer de cruzar com pessoas rindo alto e barulho dos poucos carros que por ali há. Faço uma parada em uma floricultura a caminho e pego o mesmo arranjo de sempre, poupando falas e a mulher entendeu já que não insistiu em ser uma boa atendente, paguei e sai pelas ruas novamente. Minutos depois, adentro os portões do cemitério sentindo o nó em minha garganta aumentar, nunca irei me acostumar com a dor de ter que vê-la somente aqui. Caminho até a área exclusiva, rodeada por muros e sistema de segurança que Cris mandou fazer somente para Cler, Hanna cuidou de todo o sistema de segurança que é rodado por câmeras, alarmes e etc para quem quisesse invadir. Estamos enfrentando bastante roubos de cadáveres e túmulos na cidade, sim, é horrível. Então eles fizeram questão de dar a ela esse luxo e conforto, assim pouparem que o cemitério aumente com a morte do filho da puta que roubasse seu túmulo.

— oi Cler, como você está? — me sento beira de seu túmulo o enchendo de lírios brancos, era suas flores favoritas — que saudade de você maninha...— meu tom de naturalidade desaparece como sempre e eu abraço meus joelhos olhando para sua lápide chique e com letreiros escrito "exemplo de filha e melhor irmã". As lágrimas rolam por meu rosto e meu peito dói em ver somente sua lápide, lembrando que um dia eu estava olhando direto em seus olhos brilhantes e calmos como o mar pela manhã — dói tanto não poder te abraçar Cler, eu queria tanto te ver somente mais uma vez e dizer que eu te amo — soluço entre lágrimas e a dor se alastra por meu peito. Choro durante minutos longos, horas talvez, sentindo o cheiro da terra e à grama úmida e verde embaixo de mim. Fungo o nariz enxugando as lágrimas e sorri para as flores — você já deve estar enjoada de lírios né?... não, você amava. Que tal trocar a cor na próxima? Isso, trarei azul — rodo uma flor em meus dedos — Cler, tô péssima! — assumo em meio ao silêncio — tem três dias que estou evitando todos, saí do meu quarto em raros momentos e sei que é injusto com eles, principalmente com Henrique, ele está tentando me entender e dar espaço, mas sei que o machuca a minha suposta rejeição, ele sempre foi por todo mundo, mas não sei se quero deixa-lo me ver assim.

My wife Onde histórias criam vida. Descubra agora