CAPÍTULO 1

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Observação: Este livro segue a ordem cronológica do livro da Eloá. O relacionamento de William e Natália começa durante a visita de Natália e Eloá ao clube Dell’ÂNGELO. O LIVRO DE ELOÁ NÃO PRECISA SER LIDO. Divirtam-se!

               WILLIAM CARDINALLI

                       DIAS ATUAIS

Termino de vestir meu terno sob medida, enquanto o tecido macio e luxuoso se ajusta confortavelmente contra minha pele. Coloco meu relógio com um gesto preciso, sentindo o peso familiar em meu pulso. Ajusto minha camisa social, cada movimento feito com a precisão de alguém acostumado à perfeição.

Olho a imagem refletida no espelho, ciente de que essa fachada de homem controlado exala poder. Entretanto, por trás do exterior impecável, há uma escuridão que poucos podem imaginar. O monstro que todos temem às vezes está escondido sob um terno caro e a imagem de um empresário de sucesso. Entretanto, as marcas da violência e da lealdade deixam cicatrizes que perduram para sempre.

Saio das minhas divagações e percorro os corredores da minha cobertura. O ambiente familiar de São Paulo é o mais próximo que sinto do controle; Minas Gerais, com seu clima e pessoas desconhecidas, não tem o mesmo apelo para mim. Ainda não entendo por que Ângelo escolheu abrir um clube nesta cidade entediante.

Não tenho tempo a perder, por isso passo direto para a sala de estar, pegando a chave do meu carro no caminho. Glória, minha governanta, se aproxima enquanto estou de saída, mas decido não esperá-la. Abro a porta e parto imediatamente. Não sou muito sociável, na maioria das vezes evito contatos desnecessários.

Enquanto saio da garagem do meu prédio com o carro, sinto o ar frio tocando minha pele. Respiro fundo, controlando meus impulsos. Viver em um país estrangeiro exige muito autocontrole e autoconfiança. Não é fácil estar longe da segurança do meu país, sabendo que a cada esquina posso encontrar um inimigo. E quando isso acontecer, levarei eles para o inferno comigo, pois não há chance de escaparem sozinhos.

Dirijo pelas ruas de Albuquerque até chegar à entrada subterrânea imponente do Club Dell’Ângelo. Uso meu broche, uma tradição que considero desnecessária, mas Ângelo insiste que faz parte da nossa irmandade. Apenas Corrado tem um igual, o que prova que somos os três sócios da vida noturna. Pobre Corrado não faz ideia da sujeira e segredos que essas portas guardam. Ele nem imagina o lado feio do submundo em que eu e Ângelo vivemos às margens.

Subo para o último andar de elevador e caminho com passos seguros. Bato na porta do escritório de Ângelo, esperando que ele me chame para entrar.

— Chegou cinco minutos atrasado. — ele adverte assim que entro, e eu contive o impulso de revirar os olhos enquanto me sento em uma cadeira de frente para sua mesa.

— Você sabe que tenho uma vida fora daqui, hum? — sei que estou sendo um tanto grosseiro, mas não sou conhecido por minhas boas maneiras e odeio ter que me justificar. Ângelo me tem sob seu escrutínio, e se fosse outro homem, se borraria nas calças. Eu apenas me recosto melhor na cadeira.

— Precisa de mim para algum de seus trabalhos? — perguntei, erguendo uma sobrancelha. Nós dois não éramos de formalidades e sempre deixávamos claro o que pensávamos. Acredito que, por convivermos diariamente, não nos permitíamos usar máscaras.

— Sim, preciso que vá até um endereço que fornecerei a você e que flerte com uma garota e entregue a ela dois passes —, eu semicerrei meus olhos para Ângelo, tentando ver se eu entendi direito o que ele acabara de me pedir.

— Você sabe que eu não flerto, Ângelo, eu fodo! — expliquei exasperado. Ele abriu o que se pode chamar de sorriso zombeteiro.

— Não vai precisar de muito, William, apenas use seu sotaque estrangeiro. Ah, encomende algumas de nossas peças de couro —, tentei não me alterar com Ângelo e, para isso, respirei fundo.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora