CAPÍTULO 55

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                  NATÁLIA AMARAL

Fui para casa com um pressentimento ruim no peito, temendo que William pudesse querer machucar meu pai. Ele prometeu que não faria isso, e eu acreditei. Acreditei e confiei em sua palavra, mas ele me decepcionou. Não pensei em mais nada; fiquei cega de raiva. Quando percebi, já estava o estapeando, principalmente por ouvi-lo falar novamente o nome daquela mulher com pesar, como se tivesse perdido o amor da vida dele. Isso me feriu, porque amo esse imoral sem escrúpulos. Mesmo o odiando, eu o amo, e isso me deixa com uma fúria incontida. Tudo o que desejo é arrancar esse sentimento do meu peito, esse amor idiota, e deixar apenas o ódio, pois com ele sei como agir.

William segurou meus braços com força, mas foi quando cuspi nele que percebi quem ele realmente era: William Cardinalli, a besta fera que ele guarda dentro de si, o monstruoso e assustador William. Quando suas palavras frias e duras saíram de seus lábios, percebi que esse lado dele era fácil de odiar. Eu me contive ao perceber que ele tinha razão, que não podia fazer aquilo na frente de todos. Novamente, deixei minha impulsividade falar mais alto, agredindo-o quando poderíamos ter conversado a sós. Quando ele me liberou, apenas pensei em segurar meu pai e tirá-lo do olhar perspicaz de William.

Agora estou eu, papai e Adão no quarto onde tive minha primeira vez com William. Involuntariamente, fico envergonhada. Meu pai liga isso ao que aconteceu comigo e William, segurando meu rosto e observando onde ele me apertou. William não me machucou, ele me assustou, mas não me machucou.

— Vamos embora, filha. Posso tentar arranjar ajuda de alguém para proteger você, como venho fazendo ao longo dos anos. Não vou permitir que William te machuque. Não posso exigir que você suporte abusos dele para que ele possa proteger todos nós. — As palavras do meu pai aquecem meu peito, mesmo estando decepcionada com ele. Solto um suspiro e o encaro.

— Papai, acalme-se. Estou preocupada com o senhor, está bem?

— Estou bem, filha, só cansado, decepcionado e perdido. Deixei que tudo isso fosse longe demais. Sou o culpado por tudo o que está acontecendo e venho carregando esse fardo há anos. Isso está me afetando além da conta. Me perdoe, filha, por colocá-la em perigo.

— O senhor sabia de tudo? — indago, tentando não mostrar a decepção em minha voz.

— Eu sempre colhi informações para proteger você, filha, para nos proteger. — Ele tenta se explicar. Me afasto de meu pai e me sento na cama.

— Mas escondeu, pai. O senhor escondeu informações importantes e deixou que eles se aproximassem de mim. Imagine se William não se importasse comigo? Ou se ele não tivesse chegado ao Vale do Café? — indago, chateada. — O senhor já pensou que eu poderia estar morta agora? Já ocorreu que William poderia nem se quer se interessar pelo meu bem-estar? Pai, isso é muito sério, e me deixar à deriva, à mercê de pessoas que não conheço e não entendo a magnitude do perigo que posso estar correndo, é uma falha muito grande da sua parte. Sua omissão pode me levar à morte. Eu ouvi apenas uma parte do que William falou sobre Iara, mas acredito que, no geral, ele está correto. Não se esconde das pessoas o perigo que estão correndo.

— Foi para protegê-la, filha — tenta se explicar, mas eu nego com a cabeça.

— Não, pai, isso não é proteção; é me entregar de bandeja para pessoas vis me machucarem. Precisa entender que eu não sou mais aquela garotinha. Sou uma mulher e consigo lidar com toda essa merda — expresso, levantando-me e encarando meu pai. — Posso me quebrar? Sim, posso. E vou, pois com William isso é inevitável. Sei que ele não terminou comigo e sei que irei cair tão fundo que será difícil me encontrar depois. Mas eu aguento, pai. Já sobrevivi uma vez e vou sobreviver novamente — explico, e meu pai me olha com pesar e horror.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora