CAPÍTULO 25

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            NATÁLIA AMARAL

         ALGUNS DIAS DEPOIS

Passei dois dias muito brava com William. Mesmo com o pedido de perdão dele e seu visível arrependimento, o ignorei na maioria das vezes que tentou falar comigo. Só falávamos o necessário. Entretanto, depois de dois dias, a raiva foi passando, e percebi que ele mudou. Não me irritava mais, não me provocava, nem me olhava com calor. Ele era frio, polido e indiferente. Passou a sair ao entardecer e voltar ao amanhecer. Mal estamos nos vendo, e isso está me matando. Ele é dono de um clube de sexo. Não adiantou eu lutar com ele ou chamar sua atenção provocando-o. No fim, ele se foi embora de qualquer maneira. Me arrependi de atormentá-lo ao ponto de ele agir como um Neandertal. Agora não tenho mais o William que eu queria, e sim alguém frio e distante. Saio do quarto de hóspede sem graça e sigo para a cozinha, onde encontro Glória. Ela me dá um sorriso acolhedor, mas pouco faço para tentar retribuir.

— Está cansada de ficar presa, minha querida?

— Não vou mentir, Glória, isso está me matando. Mas o que mais me deixa em frangalhos é assistir William viver na baderna noite após noite — revelo, com os olhos fundos e cheios de olheiras que nem a mais potente maquiagem conseguiu cobrir.

— Olha, minha querida, sinto muito pelo que aconteceu entre vocês dois. William às vezes pode ser um pouco complicado. Temos que ser de pulso forte e resistentes para lidar com ele — concordo com a cabeça, mesmo me sentindo um fracasso humano. Então, o segurança do prédio liga e Glória atende. Ela me olha com um sorriso travesso e manda subir.

— Quem é?

— Alguém que acredito que alegrará seu dia — imaginei que fosse Kátia, mas quando a porta se abre vejo uma Eloá muito feliz e radiante. Corro para abraçá-la.

— Você veio me ver, amiga? — fungo, sem querer terminar nosso abraço.

— Nunca a deixaria só, amiga. Pedi a Corrado para me trazer aqui e ele prontamente me atendeu — revela com um sorriso contagiante.

— Hum, pelo que estou vendo aqui, estão indo muito bem, hein?

— Não posso reclamar de nada, amiga. Corrado, apesar de ser todo fechado e calado, é maravilhoso, não só na cama, como fora dela — ela começa a me contar como estão vivendo uma linda história de amor, só que no sigilo. Vibro de felicidade por ela. Então, começo a contar meu desastre. Vamos juntas para o quarto que estou ocupando e ando de um lado para o outro, narrando como estou destroçada. Ela ouve tudo calada e pensativa.

— Você mentiu para mim esse tempo todo, Natália?

— Não diria mentir. Omiti as partes que pensei não serem necessárias.

— Ah, claro, conhecer alguém que tem gostos peculiares sexuais e que quer fazê-la submeter a ele é coisa simples. E não se esqueça de que vivem brigando como cão e gato. Você está certa, são omissões pequenas.

— Em minha defesa, você mal estava falando comigo.

— Perdão, Natália.

— Tudo bem, amiga. Só não tenho ideia do que fazer. Eu realmente ferrei com tudo.

— Vocês dois são culpados, amiga. Ambos cabeça dura, que não dispensam um desafio, e acabaram misturando a atração de vocês em um jogo perigoso que terminou com essa bagunça aí.

— Como eu faço para voltarmos a ser como era antes?

— Não tenho ideia, Natália. Mas se antes estava ruim, por que voltar?

— Eu tinha orgasmos poderosos e beijos de molhar a calcinha. Eu tinha o vislumbre de perder minha virgindade. Agora só vejo ele chegando ao amanhecer e dormindo o dia todo. Quando não treina na academia ou sai de casa, todo o bendito dia só volta no próximo dia ao amanhecer. Isso está me matando.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora