NATÁLIA AMARALSeus olhos eram como os de um falcão, afiados e perspicazes, me analisando dos pés à cabeça. Eu não conseguia me mover ou dizer qualquer coisa, apenas o encarava, observando seu rosto bonito em uma carranca séria, que quase me fez soltar um comentário ácido. Mas hoje não estava com disposição para lutar com ele, só queria um cantinho para deitar minha cabeça. Ele continuava a me encarar, acompanhando meus movimentos. Eu tentava fingir que não estava abalada pelo fato de ele estar no meu espaço com sua presença marcante, seus ombros largos encostados na minha poltrona, que parecia até minúscula ao recebê-lo. Eu tentava não mostrar que minha respiração estava elevada, que meu coração estava descontrolado, que minhas mãos tremiam e minha barriga parecia estar em uma nuvem flutuante. Eu tentava não demonstrar como gostei de vê-lo aqui, nesse quarto rosa, com colchas de babados e ursos de pelúcia em cima da cama. Esse quarto era meu santuário, algo bem feminino e que apenas Eloá e Camélia tinham acesso.
— Muito rosa. — Foi tudo que ele disse.
— Eu gosto. — Disse ao pendurar a toalha e me sentar em minha cama, afastada dele. Ele continuava a me encarar.
— O que aconteceu? — Indagou com autoridade, como sempre fazia, dominante por natureza, nunca perguntava sem esse tom de poder. Eu coloquei meu cabelo atrás da orelha e lambi meus lábios, ganhando tempo para colocar meus pensamentos em ordem.
— Eu vi o seu novo servo. — Tentei ser ácida, mas hoje não conseguia ser a pessoa que iria lutar com ele, então murchei em meu lugar e limpei minha garganta quando minha voz embargou.
— Eu achei que fosse uma boa ideia ir lá expulsá-lo daqui, então eu o fiz. Me aproximei e disse que iria chamar a polícia e tal. Quando me dei por satisfeita, resolvi me virar e ir embora. Estava atravessando a rua quando um carro em alta velocidade quase passou por cima de mim. Eu vi a morte, William, eu senti meu corpo recebendo o impacto, eu senti... — Novamente caí no choro. Odeio quando a vulnerabilidade me atinge. Sempre sou forte, mas quando algo me deixa assim, não consigo controlar e me transformo em uma poça d’água.
— Você possui algum inimigo? — Perguntou ao se levantar e vir até onde eu estava, me entregando um lenço. Quase não aceitei, mas o lenço parecia tão macio que resolvi pegá-lo. Nossas mãos se tocaram por alguns segundos até ele se afastar de mim, colocando um espaço entre nós dois.
— Não. Ninguém vem à minha mente. — Menti. Um cara como Davi não teria dinheiro para pagar um carro para me atropelar, não é? Ele sempre acusa que estamos escondendo algo, que ele vai descobrir, mas nunca passou de ameaças vazias.
— Meus homens repararam que, por algumas vezes, um cara chamado Davi Montenegro rondava sua casa. O que me levou a investigá-los. — Ergui meus olhos para encará-lo, e lá estavam os olhos frios e intimidadores. William nunca tinha me olhado dessa forma. Era diferente, chegava a me fazer encolher com o que via neles. Rapidamente, ele desviou o olhar de mim e colocou as mãos nos bolsos.
— Como assim investigá-los?
— A família Montenegro é muito influente. Alguns diriam que são poderosos e têm uma reputação admirável. — Expõe.
— Não consigo entender. Que eu saiba, Davi é um mendigo. Ele sempre me pede para deixá-lo tomar banho aqui em casa, e eu sempre nego. Eu não sei por que, mas não confio nele. — Resolvi contar metade do que sabia.
— E faz bem. Os Montenegro não são confiáveis. Para o mundo, eles são admiráveis, invejáveis, mas a verdade é que são escória, tão sujos quanto um esgoto. — William disse com a voz baixa, fria como gelo, seu olhar era sagaz e me deu calafrios.
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Ligados Pela Obsessão
RomanceLivro+18 Natália, uma jovem de 25 anos do interior de Minas Gerais, sempre viveu sua vida sem limites, até que um furacão de caos e dominação chamado William entra em seu caminho. William, aos 34 anos, é um membro da Máfia siciliana que veio ao Bras...