Ligados Pela Obsessão

CAPÍTULO 69

  
                NATÁLIA AMARAL

            VÁRIOS MESES DEPOIS

Hoje foi um dia exaustivo de trabalho. Os clientes VIPs resolveram aparecer aos montes; Danúbia e eu quase não demos conta. Estávamos as duas sentadas no sofá, com as pernas para o ar, tão cansadas que nos perguntávamos como voltaríamos para casa andando.

— Bem que você podia ligar para o Davi e pedir que ele nos leve para casa — pediu Danúbia, com uma expressão suplicante. Dei um leve tapa em seu ombro.

— Depois você nega que não está ficando com ele — brinquei, e ela me jogou um travesseiro no rosto.

— Quem me dera! Davi está muito preocupado em procurar o pai para pensar em qualquer outra coisa — explicou Danúbia.

A operação para a prisão de Montenegro foi gigantesca, e todos os meios de comunicação só falavam dos crimes que ele cometeu: as facções das quais fazia parte, os desvios de verbas do governo, a venda de drogas, as empresas falsas, os laranjas e até mesmo as pessoas que ele extorquia com vídeos e fotos comprometedoras. Ele estava sendo odiado mundialmente. Chegaram até a revelar sua ligação com uma família mafiosa.

— Fico tentando imaginar como ele conseguiu escapar e por onde anda. A Polícia Federal e o FBI estão atrás dele, e ainda não o encontraram. Às vezes, meu pai diz que alguém de dentro da polícia contou a Montenegro sobre a operação e facilitou a fuga dele. —  Quando a polícia e o FBI foram à casa de Montenegro, não o encontraram. Davi disse que o pai estava em uma das casas de campo deles fora do estado e que havia saído cinco dias antes. Davi contou isso à polícia, mas eles subestimaram Montenegro, ou foi de propósito. Só sei que ele fugiu sem deixar rastros; é como se tivesse evaporado.

— O cara tem ligação com a máfia, Natália. Das duas, uma: ou ele foi eliminado pelos companheiros mafiosos, ou eles o estão escondendo.

— E eu pensando que a máfia só existia em livros e filmes — falei, brincando com Danúbia.

— Não sei qual é a sua surpresa. Seu namorado é um mafioso — afirma, levantando-se do sofá para terminar de guardar as roupas que os clientes retiraram da arara. Instintivamente, aperto minha gargantilha segurando o W, a única letra que possuo. William sumiu, nenhuma ligação, nenhuma mensagem, nenhum sinal de vida. Nada. Isso tem me matado aos pouquinhos. Eu passei tantos dias, semanas e até meses ao lado de William. Nós morávamos juntos, dividíamos a cama, eu vivia em seu clube, na sua cobertura. Hoje em dia só tenho suas camisas na casa que ele me deu. Todas as noites eu durmo com uma delas, todas as noites deixo a porta do meu quarto aberta, esperando que a qualquer hora ele passe por aquelas portas. Sinto falta do colchão afundando, do cheiro de seu perfume, do toque dele na minha pele, o beijo na minha boca, e seu corpo grudado no meu.

— Natália. — Saio dos meus pensamentos e percebo que meus olhos estão marejados. — Oh, querida, me perdoe por tocar no nome dele. — Sorrio sem graça para Danúbia e limpo as lágrimas que não chegaram a cair.

— Não precisa se desculpar, Danúbia, está tudo bem. Sabe que já superei. — Ela finge que acredita, mas, na verdade, todos fingem que acreditam que eu o superei. Ambas começamos a organizar a loja, trancamos e fomos para casa. Freitas é minha sombra, o que me traz um consolo a mais, no entanto, desde a fuga de Montenegro, tenho outros dois agentes que me acompanham até em casa. Aproximo-me do carro de Freitas.

— Vai querer uma carona hoje, Natália?

— Se importa? Estou exausta. E não vim de carro hoje pensando que caminhar resolveria alguma coisa. — Bufo sem graça. Ele abre a porta do passageiro para mim. Agradeço e me sento ao seu lado. Ele dirige todo o trajeto até minha casa em silêncio.