CAPÍTULO 88

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                   NATÁLIA AMARAL

                 ALGUNS DIAS DEPOIS

Adormecer nos braços de William depois de tantos meses foi como bálsamo para minhas feridas e mágoas, foi como voltar ao lugar que começamos tudo. Ouvir sua respiração suave, seu calor foi incrível.
William fez um hábito aparecer a minha casa todas as noites, evitamos falar do passado, na verdade evitamos falar, deixamos a dor, o sofrimento, a raiva o abandono o coração partido e os quase três anos dele longe suspenso, como se ele nunca tivesse quebrado meu coração tantas vezes que não sei como ainda posso senti-lo bater forte todas as vezes que o vejo. William apenas se deita ao meu lado, me puxa para seus braços e deixa um beijo em meus cabelos, eu fecho os olhos e durmo como há muito tempo não fazia, sempre antes do amanhecer ele se vai e sinto o vazio que sua falta deixa. Sei que estou sendo fraca que deveria expulsá-lo não só do meu quarto como também de minha vida, mas não consigo. Já era para eu ter voltado para casa, só que o medo dele não me acompanhar me faz ficar, eu sei que o certo era afastá-lo, mas como?

Hoje mesmo eu vi quando ele foi embora, mas antes de sair ele beijou meus cabelos e abriu a janela pulando para fora. Na mesma hora senti falta de seu calor e de seu abraço, não consegui dormir novamente então fiquei olhando para o teto até o amanhecer. Vejo quando minha mãe entra em meu quarto, ela vê a cama desfeita.

— Não fizemos nada. — Justifico e a vejo sorri e se sentar na ponta da cama do meu lado.

— Sei que não fizeram. Há alguns dias atrás quando chegamos do expositor os vimos dormindo abraçados e resolvemos fechar a porta. Vocês se reconciliaram? — eu neguei com a cabeça.

— Ele me machucou muito mãe. — Pela primeira vez a chamo de mãe e vejo seus olhos se encherem de lágrimas, ela as limpa e sorri.

— Sabe filha. Seu pai me magoou muito também. Quando tivemos que nos separar para que você pudesse ter uma vida normal sem levantar suspeitas de Getúlio. Ele aceitou muito rápido a minha solução, simplesmente trouxe uma mulher desconhecida para dentro da nossa casa, eu os vi se beijarem, ela sorrir das palavras dele, aquilo feriu minha alma. Quando eu soube que ele a tocou, que dormiu com ela. Uma parte minha morreu. Mas era um sacrifício por você filha então, valia à pena. Mas não conseguiria ver outra mulher se apossar de minha família, dormir com meu marido e ter minha filha a chamando de mãe. Eu fugi para o Vale do café, meu irmão comprou um terreno e construiu uma casa para mim. Eu não podia sair muito, mas tinha uma vida dentro do possível normal.  — Ela sorri tristemente ainda em lágrimas.

— Passei alguns anos sem vê-la. E aquilo me fez entrar em depressão, estava infeliz sem os três amores de minha vida, e por muitas vezes pensei em desistir. No entanto quando seu pai resolveu deixá-la perto de mim novamente eu me senti no céu. Eu não quis vê-lo, mas Camélia sempre fazia a ponte entre nós dois. Foi minha ideia deixar a casa maior para você e ficar com a menor nos fundos. — Ela abre um pequeno sorriso triste.

— Assim como afastar Sônia de lá. Fiz Camélia mandar Bráulio dizer a Sônia que aquela casa pertencia à mãe de Natália, e que o último desejo meu era de não ter nenhuma mulher morando nela. — Cubro minha boca.

— Por isso que Sônia não ficava muito tempo lá.

— Justamente. Seria demais para mim, ter seu pai e aquela mulher maculando meu lar.

— Nossa mãe... — Ainda é difícil chamá-la assim, mas se eu tenho pretensão de perdoar William que me deixou na merda, me fez passar o inferno sozinha, por que não perdoar a mulher que me colocou no mundo e se sacrificou por mim?

— Você sofreu muito. — Ela concorda com a cabeça.
— Mas valeu a pena filha, e passaria por tudo de novo. Se isso a mantivesse a salvo e de alguma forma perto de mim. Diferente de Davi eu pude acompanhar seu crescimento. — Não suportando as palavras de carinho que ela me disse eu pulo em seus braços, a abraço e choro baixinho. Ficamos grudadas por muito tempo.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora