CAPÍTULO 48

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             WILLIAM CARDINALLI

— William, ele poderia ter nos dado a localização. — começa a falar Ângelo, e eu ergo os dedos.

— Ele estava morrendo. Só adiantei o processo. Trabalhamos nele por cinco malditos dias, ele disse tudo que sabia. — me levanto do chão e sigo para o banheiro que possuímos do lado de fora. Tranco a porta e retiro a roupa ensopada de sangue, pensando em todas as respostas que ele deu nesses sete dias, tudo que eles estavam descobrindo sobre a minha vida. Concluo que Bráulio e Adão estão metidos nisso, o que não se encaixa. Os Rocco não se misturariam com a polícia. Ainda mais eles, que são procurados internacionalmente. Fizemos questão de colocar o rosto deles espalhados por todos os lugares. Quem está por trás disso tudo? Onde Gaston se encaixa, filho de um dos soldados mais leais da organização De Lucca, um traidor da própria famiglia. Qual a motivação? Repassarei o que descobri ao Don Antônio e torcerei para que ele tenha mais sucesso que eu ao conectar tudo que se encontra nessa bagunça total de informações picadas.

Deixo a água cair pelos meus cabelos, escorando a cabeça na parede. Penso e repenso em quem está por trás disso tudo, e se não forem os Rocco? Quem será? A quem eu irritei? Quando me dou por satisfeito, desligo a água e visto um par de roupas que estava ali à minha espera depois de enxugar meu corpo. Saio do banheiro com Ângelo à minha espera. Nos afastamos e continuamos em silêncio.

— Não foram eles os autores do galpão queimado, dos bilhetes e pacotes direcionados a mim. — conclui Ângelo, pensativo. Claro que não foram, foi Carlo e Matteo. Os desgraçados não brincam em serviço.

— Não, não foram.

— Você lembra de algum outro inimigo? Alguém que irritamos? Alguma mulher que rejeitamos? — nego com a cabeça.

— Pode até ter o dedo de uma em tudo isso, mas não acredito que seja ela quem está nos fazendo de marionete ao andarmos em círculos. Precisa ter mais, Ângelo.

— Não sei, não subestime o desejo de vingança de uma pessoa com as motivações em dia. — fico em silêncio pensando. Fora os Rocco, quem mais poderia querer ferrar comigo? — Qual o próximo passo? — estava para respondê-lo quando meu celular toca. O retiro do bolso.

— Deixarei você atender sua ligação. Vou pedir a Giovanni para limpar tudo. — balanço a cabeça e atendo a ligação, vendo Ângelo se afastar.

— Bráulio Mesquita Amaral. Você não morre nunca... — comento procurando por Tom. O chamo e ele se aproxima.

— William... preciso cobrar um favor. — revela, parecendo extremamente constrangido.

— Me dê meus cigarros. — peço a Tom que se afasta. Estou em uma enorme varanda. Em todos os lados se veem apenas árvores e uma plantação de milho. Eles estão secos e prontos para serem colhidos, são várias hectares com o plantio. — Qual o favor? — consigo sentir daqui o temor de Bráulio e sorriria se não estivesse com tantos problemas.

— Você... suspendeu a proteção de Natália? Ela me contou que terminaram. Você prometeu cuidar dela, ela não pode ficar sem proteção. — atropela as palavras, parecendo extremamente nervoso e até desesperado. Como a segurança de Natália é importante para mim, mais do que gostaria que fosse, não o respondo com sarcasmo.

— Não suspendi.

— Eu cheguei em casa e não os vi. — reclama preocupado. Tom me entrega o maço de cigarros, pego um deles e coloco na boca, acendo e dou uma longa tragada. Isso é tão destrutivo quanto qualquer outra droga e mesmo assim me agarro a isso para tentar aplacar um pouco meu descontrole e encontrar em algum lugar o domínio que sinto escorrer por entre meus dedos. Me sinto em uma corda bamba, em um precipício. A queda será tão alta que, se acontecer, sei que não terei chances de sobreviver. Não posso deixar isso acontecer, ainda não é a hora.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora