CAPÍTULO 39

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                  NATÁLIA AMARAL

Seguro minha respiração irregular. Minhas mãos tremem, meu corpo inteiro está fervendo de raiva, indignação, humilhação e muito tesão. O que está acontecendo com minha cabeça ao ponto de gostar do que ele fez? Sentir desejo mesmo depois dele ter rasgado meu top e se intitulado meu dono me dá tesão. Ele me chamou de putinha. Eu... eu... Nossa, ele é um doente! Lamber os sapatos dele? Quem se submeteria a uma humilhação dessas? Jogo água no meu rosto, tentando recuperar meus sentidos. Olho para meu rosto e percebo que está todo corado, meus seios estão expostos e a maior vergonha é ver meus mamilos rígidos e minha calcinha arruinada. O que esse homem está fazendo comigo? Retiro o que sobrou do meu top e jogo no lixo. Vou para o pequeno closet, pego uma camisa de botões e, para irritá-lo, deixo alguns botões abertos, mostrando a curva dos meus seios. Depois de recuperar minha sanidade, saio do banheiro. Ele já estava de pé, e não foi como imaginei. Ele não me encarou; estava sério e até frio.

— Venha, vamos. Preciso deixá-la na cobertura e terei que sair em seguida. — Suas palavras são secas, sua distância é como um tapa na cara. Tenho vontade de bufar. Ele é bipolar, tenho certeza. Antes de eu entrar no banheiro, ele estava todo cheio de tesão, ao ponto de me mostrar seu pau duro, e agora parece ser outra pessoa. O sigo em silêncio, pego minha bolsa que deixei no quarto e descemos pelo elevador. No carro, ele foi ainda mais frio e distante. Assim que chegamos à cobertura, ele vai para seu quarto e bate a porta na minha cara.

— Idiota! — Grito para ele ouvir e entro no quarto, deitando na cama. Minha cama... Senhor, estou virando uma pateta. Olho para o teto, inquieta. Vou para o banheiro, retiro minha calcinha arruinada e tomo um banho. Logo depois, para irritá-lo, visto meu baby-doll curto preto com rendas. Lavo meu cabelo, seco com secador e o deixo solto, passo batom vermelho, hidratante corporal de lavanda e aplico um pouco de perfume. Me sinto pronta para perturbá-lo. Saio do meu quarto usando um robe, caso ele não esteja em casa e eu encontre Glória ou algum de seus seguranças. Sigo pelos corredores enormes, todos com portas fechadas, e não o encontro em lugar nenhum. Assim que chego à cozinha, vejo Glória.

— Boa tarde, minha querida. Tudo bem? — Nego com a cabeça.

— Ultimamente estou vivendo uma montanha-russa, Glória. — Revelo e me sento na ilha da cozinha. Glória me serve um copo de suco de laranja e um sanduíche. Percebo que parece ser o que mais é servido aqui.

— Obrigada. Esse é o preferido de William? — Pergunto, curiosa. Ela concorda com a cabeça.

— Deu para perceber, não é?

— Sim, todas as vezes que ele me trouxe suco, era de laranja.

— Quando ele tinha por volta dos doze ou treze anos, já possuía muitas responsabilidades. Era um pequeno homem sisudo. Lembro que sua pobre mãe, Matilde, se preocupava muito com o fato de William sempre ser muito sério, comprometido, raramente brincava ou sorria como outras crianças. — Parece que ela se perde nas lembranças, pois fica triste por alguns segundos antes de voltar a contar a história. — Com medo de que ele se tornasse introspectivo demais, ela levou William, Leandro e sua irmã mais nova para a fazenda da família, longe do lugar que ela pensava fazer mal a ele. Eu fui com eles e posso dizer, sem dúvidas, que foram os dias mais felizes da vida de William. Ele corria entre os pomares de laranja com sua irmã Francesca, bem pequeninha. Subia nas laranjeiras para colher o fruto maduro e entregava para Francesca dar à mãe deles. Lembro que ele descascava a fruta docinha, sorrindo e tão feliz, seus olhinhos chegavam a brilhar. Ajudava Matilde a fazer bolo e suco de laranja com uma felicidade contagiante. Outras vezes, apenas brincava com os filhos dos caseiros. Mas o seu momento mais especial era poder ir aos pomares e subir nas laranjeiras. Acredito que, por se sentir no topo ou de alguma forma livre, ele ficava lá bastante tempo. Ele realmente foi feliz por alguns dias. — Contou, saudosa e até um pouco sentida.

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