CAPÍTULO 78

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                 NATÁLIA AMARAL

Sandro estava estranhamente ansioso para me levar ao trabalho hoje, o que achei muito suspeito. A situação piorou ainda mais quando Davi apareceu no meu trabalho e teve uma discussão com Sandro, dizendo que eu deveria saber a verdade. Ele mencionou que William e Ângelo estavam em minha casa e que William poderia matar minha mãe. Ele afirmou que eu era a única que poderia impedir. No primeiro momento, eu não entendi — minha mãe? Sônia estava em casa? Por que William mataria minha mãe? Sai correndo do trabalho, nem esperei pelos dois. Ao longe, vi Sérgio e Jonas, dei a volta pelos fundos da casa e peguei o final da conversa. William dizia que odiava os Rocco, que eles eram culpados pelo que aconteceu com sua irmã e com ele. Ele falava com tanto ódio, e a voz de Maria se elevou, meio debochada, meio triunfante. Por alguns minutos, imaginei ser outra pessoa, até que ela afirmou que eu era sua filha, uma Rocco.

Esbarrei em uma bomboniere que se espatifou no chão. Olhei para as duas mulheres que pensei conhecer, as que acreditei serem minhas amigas, as únicas que se importavam comigo, e encontrei mentiras e segredos. Elas tentaram falar comigo, mas eu não queria ouvir. Só queria fugir daquela casa, daquele lugar cheio de mentiras. Então encontrei meu pai conversando com William. Implorei para meu pai dizer que era mentira. Precisava ser. Eu vi quando William me olhou com ódio, depois com dúvidas. Ângelo disse algo a ele. William pareceu querer partir, mas me puxou para seus braços e ali encontrei paz. Quando encostei minha cabeça em seu peito e apertei sua camisa em minha mão, encontrei forças, consegui respirar. Não queria pensar no depois, no que iria acontecer agora; só queria me esconder, só queria voltar a dormir e, quando acordasse, que tudo estivesse como antes. Às vezes, a mentira é mais fácil de aceitar que a verdade, pois se tudo que eu acreditei por 25 anos for mentira, então eu sou uma mentira.

Davi entrou pelos portões e encarou Maria. Os olhos dos dois se encontraram e Maria se escorou em Camélia. Ela soltou um grito de dor e soluços. Eu encarei a mulher que diz ser minha mãe com uma mistura de ódio, tristeza e dor. Camélia disse algo em seu ouvido, o que fez Maria erguer o corpo e nos encarar. Percebo que William estava se distanciando de mim, mas agarro sua camisa e procuro seu rosto.

— Sei que você tem inúmeros motivos para me odiar, mas não me deixe sozinha aqui, não com essas pessoas que me enganaram por todo esse tempo. — imploro, e ele balança a cabeça, desviando o olhar para Maria.

— Conte a seus filhos a história deles, Gemma. — sua voz era fria. Encaro Maria novamente e depois William.

— Filhos? — então meus olhos recaem sobre Davi e sinto minhas pernas perderem a força. William me segura nos braços, minha cabeça roda, e preciso fechar os olhos. Ele parece falar algo com eles e me leva para dentro. Ele me coloca no sofá, e de repente um copo de água aparece na minha frente. Quando me acalmo, vejo meu pai sentado ao meu lado, no braço do sofá. William segurava minha mão, e Maria e Camélia estavam sentadas de frente para mim. Davi estava ao meu lado, e Ângelo estava de pé na porta da sala.

— Antes de vocês me odiarem, preciso me explicar.

— Precisa sim. — Davi interrompe. — Passei mais da metade da minha vida odiando você, Gemma Rocco Montenegro, e o restante tentando me redimir. Meu pai me criou para destruir a família Amaral. Plantou em mim o ódio, o desejo de vingança, a certeza de que Bráulio Mesquita era o culpado pela fuga e morte de minha amada mãe. Cada vez que eu chorava, que sofria, ou que ele me levava para uma de suas incontáveis reuniões de perversões, ele dizia que a culpada era você. — Davi se levanta do sofá e começa a andar pela casa. — Uma vez, ele me aplicou um tipo de droga apenas para ver meu desespero. Você deve conhecer bem o monstro que foi seu marido. — vejo Maria balançar a cabeça. — Ele implantou em mim a certeza de que eu não era querido ou desejado por você, que você foi tão egoísta e desumana que me abandonou mesmo sabendo o monstro que ele era. — Davi solta uma risada triste. — Ele foi capaz de falsificar meu nome e me fazer perseguir Natália. Ele me fez invadir a vida pessoal dela, e então reconheci o nome, até mesmo o rosto de Camélia Rocco, a irmã de minha mãe. E pensei: "O que a irmã de Gemma faz na casa de Natália?", sedento por obter a aprovação dele. Mas o que recebi foi uma gargalhada maldosa e a promessa de que ele mataria Natália e Camélia e traria minha mãe de volta para casa. Foi ali que percebi a grande loucura que tinha feito. Tentei avisar Natália para fugir. Quando meu pai se sentiu frustrado com a notícia de que Alexandro não voltou para casa, soube que o plano dele falhou. E jurei nunca mais cair nas mentiras dele. — Davi para em frente a Maria e pergunta: — Por que me abandonou? Por que fugiu? Por que escolheu ela e não eu? Por que escolheu eles? Por que não me procurou? Por que não me salvou? — sua voz embarga. Eu olho para William, tentando encontrar voz, tentando absorver o que acabei de ouvir.

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