CAPÍTULO 92

278 32 4
                                    

                NATÁLIA AMARAL

— Se estiver me interrompendo por nada, vou brincar com sua cabeça de tiro ao alvo, Jonas — ouvi Jonas sorrir, e isso me fez encará-lo.

— O estande de tiro está pronto, chefe — informou Jonas, e William soltou um suspiro.

— Estamos indo, Jonas. — O homem desapareceu assim que recebeu a resposta.

— Amore mio, precisamos ter uma conversa séria. Sei que você não deseja fazer parte da minha vida obscura, e eu entendo. Farei o impossível para que meu trabalho não afete você. — Engoli em seco e o encarei, confusa.

— Não sei se entendi.

— Vamos sair do carro e caminhar pela fazenda. — William abriu a porta e me ajudou a descer. Começamos a caminhar pela linda fazenda, e o ar puro me fez respirar profundamente. Fechei os olhos por alguns segundos, até sentir os braços de William rodearem minha cintura.

— Não tem medo de cair andando de olhos fechados? — Abri meus olhos e o encarei.

— Sei que você não me deixaria cair — ele abriu um sorriso torto e convencido.

— Confia muito em mim, bella mia.

— Sempre — sussurrei, olhando para ele. Ele se afastou e começou a caminhar, mas eu entrelacei meus dedos com os dele, e ele pareceu não se importar, apertando minha mão. Caminhamos em silêncio por alguns minutos. — Sabe, William, se me lembro bem, você está me devendo um encontro. — Ele semicerrou os olhos, e eu gargalhei.

— Tivemos um encontro na pousada Sol Poente. 
— Não conta.

— Por que não?

— Foi à força. 

— Não foi.

— Foi sim.

— Mulher teimosa. — Ele bufa e eu rio alto.

— Você me ama assim, eu sei. — Ele aperta minha mão, e sei que é sua maneira de afirmar. William costuma dizer “ti amo” em italiano, mas nem sempre. Ele ainda mantém sua postura durona que eu tanto amo. Olho ao redor: a natureza, os pássaros, galinhas de angola, patos e gansos no lago à nossa frente. Minha vida sempre dá uma guinada de 360° com William. Contemplo as árvores ao redor do lago, a grama verdinha com flores silvestres, e os bancos sob uma enorme árvore, com salgueiros, ciprestes e jacarandás. William me conduz até um desses bancos, que está cheio de folhas. Ele se preocupa em limpar o lugar antes que eu me sente, e então ficamos admirando a imensidão do lugar, a água cristalina onde vejo libélulas voando e borboletas fazendo festa.

— Alguns lugares deveriam ser chamados de paraíso. — digo, impressionada com a beleza ao nosso redor.

— Sim, existem muitos lugares perfeitos no mundo. Por isso quero levá-la ao meu país. — Ele diz isso de repente. — Sei que pode parecer assustador. No entanto, não tenho muito mais tempo no Brasil; Don Antônio precisa que eu faça um trabalho para ele. Depois disso, terei uma folga maior e, se desejar, podemos voltar ao Brasil.

— Mas você acabou de voltar da Itália. — Tento argumentar.

— Tenho mais de um mês aqui. — Franzo a testa em confusão.

— Mas amanhã fará quinze dias que nos vimos.

— Sim, eu sei. Acontece que cheguei há um tempo e estava tentando deixá-la seguir em frente. Mas não consegui. — Olho para ele, irritada.

— Não vou brigar com você, William, pois não adiantaria.

— Não mesmo. Eu saí da Itália às pressas, depois que descobrimos a localização de Martina Rocco. — Esse último nome ainda me dá calafrios. Eu sou uma Rocco. Não qualquer Rocco, sou filha da mulher cujo irmão William matou.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora