CAPÍTULO 62

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             WILLIAM CARDINALLI

Desde o dia em que saí do Vale do Café, imaginando que teria paz e sossego, que aproveitaria o tempo que me resta no Brasil usufruindo da companhia e do corpo de Natália, tudo o que me aconteceu foram tragédias. Queimaram um dos meus carros, tentaram invadir minha cobertura, e precisei voar às pressas para Belo Horizonte, já que Ângelo também estava com problemas. Gaston e Getúlio precisam ser parados. Eu estava adiando a divulgação das provas e informações que Leonardo e seus parceiros colheram para ter mais tempo com Natália, para ter mais dela. No entanto, não posso adiar mais. E como se tudo isso já não bastasse para me colocar no limite, encontro Natália sorrindo para outro filho da puta. Ela parecia tão à vontade, leve, solta e feliz, como nunca foi comigo, que por um momento me senti traído. Um sentimento estranho tomou conta de mim, trazendo um gosto amargo. A impotência que senti por alguns segundos, o sentimento de que a perdi, me dominou, e enxerguei tudo vermelho. Eu quis e tomei-a naquela árvore, sem me importar se alguém nos visse ou ouvisse ela gritar meu nome. Eu só precisava mostrar a ela e a todos a quem ela pertence. Ela é minha, porra, cada sorriso, cada olhar, cada coisinha me pertence... Eu fui para espancar Lauro, mas ele foi sincero ao dizer que não tinha segundas intenções com minha mulher. Isso não significa que não distribuí alguns socos e pontapés para ele não se aproximar novamente de Natália. Ele revelou que ela foi muito clara quanto a ter alguém, o que me deixou mais tranquilo e menos irritado.

Natália é meu descontrole. Ela é meu desequilíbrio, minha fraqueza. Natália é meu vício. Minha obsessão. Ela é meu tudo, e me dar conta disso neste momento não está me fazendo bem. Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é procurá-la. Vê-la chorar no chão do banheiro me deixa insano. A tiro de lá, enxugo seu corpo e a levo para o quarto que sei que ela mais gosta na casa. Deixo-a lá e vou tomar meu banho. Assim que termino, peço a Glória que prepare meu jantar e subo para ver Natália. Já passa das vinte e três horas e ainda não consegui comer nada. Assim que invado o quarto, a vejo encolhida. Deito-me ao seu lado e a puxo para o meu peito. Ela tenta inutilmente resistir.

— Não me teste, Natália — aviso, e ela bufa, deixando que eu a vire para o meu lado. — O que foi agora?

— Você me tomou na frente de todos e depois me fez passar vergonha, toda acalorada e vermelha, com a pele marcada, para quê, hein?

— Para provar que você é minha, porra! Você ainda não percebeu que me pertence, Natália? — ela solta uma risada sem humor e se senta na cama.

— Você está indo embora para sempre. Está me deixando e quer provar que eu pertenço a você? Até quando? Até daqui a dois dias? Ou uma semana? — seguro seu rosto e a faço me encarar.

— Para sempre, Natália. Você me pertencerá para sempre — sentencio, irritado por ter que me explicar, por ter que discutir.

— E você? Você me pertencerá para sempre também? — indaga, me encarando com rancor e ódio. — E aquela história de que era apenas sexo, hum? Cadê aquele discurso de que iria quebrar meu coração, de que não era um romance? — ela grita, e seu corpo chega a tremer. Solto um suspiro e me deito na cama de barriga para cima, cobrindo o rosto com o braço. — Como imaginei. Ainda é só sexo para você. Ainda sou apenas uma boceta quente para se enfiar.

— Pare de falar besteira, Natália.

— Estou dizendo a verdade. Você está levando tudo de mim, William. O que vai me restar quando você se for? — ela solta um soluço, e então ouço que está tentando controlar as lágrimas. — Eu entreguei tudo a você. E você nunca me entregou nada, nunca se mostrou verdadeiramente para mim, só me deu migalhas e sexo, exigindo todos os meus pedaços, sem levar em consideração o quão ferida eu sairei disso tudo. Você não me deu escolhas, William, apenas pegou o que queria. Isso é cruel — desabafa, e eu permito, tentando não deixar suas palavras ganharem terreno dentro de mim, o que é quase impossível. Se Natália ao menos pudesse imaginar o quanto me importo com ela, o desejo que tenho de levá-la para o meu mundo, de tê-la para sempre por perto. Como tenho pensado em incontáveis maneiras de consertar as coisas para que fiquemos juntos. 

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