CAPÍTULO 57

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                 NATÁLIA AMARAL

              ALGUNS DIAS DEPOIS

Ter a porta do meu quarto forçada às três da manhã exigiu de mim um esforço sobre-humano para resistir à tentação de abri-la e deixar que William entrasse. O quanto eu desejei sentir seus braços ao redor do meu corpo, seu calor emanando dele! Entretanto, sei que preciso ser forte. Preciso me distanciar para o meu próprio bem. Não posso ser dependente desse sentimento doentio que nos envolve.

Isso não quer dizer que eu não sinta falta dele, que não esteja louca para vê-lo. Agora mesmo, passa das cinco da tarde e não o vi. Nos últimos dias, tenho o evitado, me escondendo e trancando a porta do meu quarto. Sei que é infantil, mas preciso me proteger. Já andei por toda essa enorme mansão, bisbilhotei cada cantinho e ainda não o encontrei hoje. Descobri até mesmo que no terceiro andar fica a suíte master. Não entendi por que ele não ficou nela. Mas a suíte é um sonho: cheia de janelas de vidro espelhado, uma gigantesca claraboia no teto. O quarto é totalmente arejado, a cama deve ter o dobro do tamanho da que está no meu quarto, com lençóis escuros. Tem uma TV tão grande que parece um cinema, um tapete tão peludo que me lembra um ursinho fofo, um sofá de quatro lugares que deve caber meu corpo inteiro, e duas estantes com algumas esculturas contemporâneas estranhas. Existe um balanço pendurado no teto na varanda e uma banheira jacuzzi. Não consegui sair desse quarto magnífico, não consegui deixá-lo. Parece algo de outra dimensão. Me sentei na espreguiçadeira com um copo de leite, olhando para o horizonte, as cores alaranjadas dominando o céu, misturando-se suavemente com os tons dourados e rosados do pôr do sol. Fico imaginando como deve ser bom ser tão rico, poder ter várias casas, viajar para onde quiser, ter o poder de fazer qualquer coisa. Meus pensamentos são interrompidos quando sinto sua presença. Meu coração parece errar uma batida, sinto-o bater na minha garganta, minhas pernas tremem e tento disfarçar.

— Vejo que gostou do quarto — diz ele, se aproximando do guarda-corpo. Sua postura é intimidante, segura, altiva. Ele está de costas para mim, com uma mão no bolso e a outra, imagino, em sua barba.

— É uma suíte incrível. Por que não ficou com ela?

— Muito aberta, a iluminação me incomoda, e preciso de um cômodo adjacente. Me disseram que não ficaria ornamentado caso fosse construído como exigi. Então foi construída uma suíte principal no segundo andar, e essa sendo uma extensão — revelou, parecendo mais falante. Fico em silêncio. Acredito que isso o incomodou.

— Me trancou para fora todos esses dias — sua voz parecia normal, inalterada, entretanto o conheço o suficiente para saber que significava muito mais do que ele deixou transparecer.

— Preciso de um tempo longe de você — revelei, sentindo-me levemente arrependida. Ele solta uma risada sem humor. Fica em silêncio por alguns minutos e então vejo-o caminhando para fora do quarto, mas antes ele diz algo que me faz levantar em um rompante.

— Talvez seu desejo se realize antes do que você imagina. Espero que fique feliz quando acontecer — o sigo e chego a correr para alcançá-lo. Ele estava descendo as escadas quando o faço parar.

— O que quer dizer? — ele se vira para mim, e nos seus olhos enxergo muito mais do que suas palavras poderiam dizer.

— Em breve partirei para a Itália — revelou, seguindo para o segundo andar. Atordoada, me sento em um dos degraus, tentando entender o que ele disse. Era isso que eu queria, não é? Não percebo que ele retornou até que o sinto se aproximar e me erguer do chão. Deixo que ele me pegue e encosto meu rosto em seu ombro, inspirando seu cheiro, querendo guardá-lo em minha memória. Ele se senta no sofá comigo em seu colo.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora