Capítulo 70

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           WILLIAM CARDINALLI

Estou há algumas horas no Centro de Treinamento De Lucca, no subterrâneo do Palazzo. As paredes do lugar são de pedras expostas, e a iluminação suave vem de grandes lâmpadas industriais. O ambiente cheira a suor e a metal, típico de um local de treino exaustivo.

Sigo em direção ao ringue de boxe no centro, cercado por tatames onde praticamos técnicas de luta como jiu-jitsu e defesa pessoal. Sacos de pancada de diferentes pesos e tamanhos estão espalhados pelo local, junto com bonecos de treinamento, e há também uma área dedicada a treinos com armas brancas e de fogo. Estou vestido apenas com uma calça cargo militar e uma camisa de manga longa.

— Estava sentindo falta desse centro de combate, hein? — Matteo pergunta, enquanto se prepara para uma luta corpo a corpo comigo, ajustando as ataduras nas mãos.

— Não posso negar que os equipamentos de Palermo e o nosso treinamento são diferenciados. — Respondo, antes de avançar contra ele. Matteo se esquiva agilmente dos meus golpes, e voltamos à posição inicial de ataque.

Ele sorri, provocando. — Não saberia viver em outro país. Palermo e a Sicília são parte de quem sou. — Matteo acerta um golpe rápido em meu abdômen, e eu, distraído, apenas consigo me defender parcialmente. Natália está complicando minha vida ao começar a sair com o tal do Josué e Davi. Porra, a mulher me tira do sério mesmo a milhares de quilômetros. Ela ainda consegue dominar minha mente e foder com o meu juízo.

Minha distração me custa caro. Matteo percebe e ataca com força, me obrigando a recuar. Em um momento de descontrole, acabo acertando um golpe mais forte do que pretendia, cortando o lábio dele.

— Cazzo! Ficou louco, stronzo? — Matteo exaspera, limpando o sangue com o dorso da mão. Eu suspiro e me sento no chão do ringue, derrotado.

— Não estou com cabeça para lutar hoje.

— E só me diz isso agora? — Matteo senta-se ao meu lado, ainda rindo. — A brasileira te amarrou pela boceta, bem amarrado, hum? — rosno, irritado, mas ele gargalha. Assim como eu, Matteo possui cicatrizes, e há algo quebrado dentro dele também. Geralmente, não lutamos diante de outras pessoas.

— Não fale merda, Matteo.

— Vai me dizer que não está preocupado? — Ele pergunta de forma mais séria. Fecho os olhos, cobrindo o rosto com as mãos.

— Por seu pai, ele cancelaria o noivado. Mesmo contrariado, já que, nas palavras dele, um caporegime como Biagio abre portas para a nossa organização e nos enriquece.

— Sei que sim. Meu pai é um homem justo e percebeu que você se importa de verdade com essa brasileira. O problema é que o contrato foi firmado há anos, Guglielmo, dificilmente Biagio irá isentar você de sua obrigação com a filha dele. — Toda vez que ouço isso, tenho vontade de matar Biagio. Seria tão fácil com ele morto. — Matá-lo não tirará de você a obrigação de se casar com a filha dele. O acordo foi feito há cinco anos, Guglielmo. Você o está enrolando há anos. Ele está uma pilha de nervos. E até trouxe Alessia para a Itália. — Solto um gemido de desaprovação.

— Quando? Não estava sabendo disso.

— Ela chegou esta manhã. Meu pai já tinha o chamado para conversar sobre o cancelamento do noivado. No entanto, não sei o que foi decidido. — Fico em silêncio, absorvendo o que foi dito.

— Meu pai está terminantemente contra o cancelamento do noivado. Ele, juntamente com o Don De Lucca, firmaram o acordo.

— E você vai e me mete uma de que a brasileira poderia estar grávida. — Matteo ri, e eu dou um soco em seu braço mal cicatrizado. Ele me acerta de volta no peito, sorrindo. Somos idiotas, na maioria das vezes. — Não venha me calar. A moça estaria de quase seis meses, e sabemos que você não foi mais visitá-la. E a gracinha está com a barriga mais chapada que uma top model.

— Pare de observar minha mulher pelas câmeras de segurança ou eu farei o mesmo com Elettra.

— Você não é nem louco. Eu posso matá-lo sem pensar duas vezes e estaria fazendo um favor a Biagio, salvando a honra de sua preciosa princesa da Máfia. — Solto um rosnado irritado e me levanto do ringue.

— Não encostei em um fio de cabelo daquela mulher.

— Você só pode ter sérios problemas. Eu não veria problema algum em tomá-la como minha esposa. Ela é uma perfeita princesa da Máfia, sabe os nossos costumes, é submissa e ótima nos negócios.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora