NATÁLIA AMARAL
ALGUNS DIAS DEPOISHoje faz cinco dias, cinco dias que estou em minha casa, cinco dias desde que dispensei William, que disse a ele que não o queria mais. Cinco malditos dias e ainda consigo sentir minha intimidade molhar ao imaginar seu toque, sua dureza entre minhas pernas, seu toque possessivo e cheio de autoridade, o seu perfume no ar. Cinco malditos dias e nenhuma ligação, nenhum sinal dele, nada. Nem mesmo os seguranças estão acampados em minha porta. Às vezes os vejo, mas eles nunca se aproximam ou falam comigo. Parece que estou longe de William há um ano, e não apenas dias.
Faço meu mais novo ritual, me levanto da cama vestida com uma de suas camisas e vou ao banheiro. Tomo um banho, visto um vestido comportado. Eu cheguei a mudar meu estilo piriguete. Solto uma risada amarga, tentando não pensar tanto. Vou direto à casa de Maria. A porta se abre e Camélia nem me repreende mais. Me jogo em cima da cama de Maria, e ela me abraça.
— O que foi, minha filha? — Ultimamente ela tem me chamado de filha, o que só me faz chorar ainda mais.
— Por que eu mandei ele ir embora da minha vida? — Pergunto aos prantos, e Maria me entrega um lenço.
— Ele vai voltar, minha querida.
— Não acho, Maria. Não tem nem sinal dele. — Assoo meu nariz que está vermelho e até ferido de tanto eu assoar e chorar.
— Me diga, Natália, por que terminou com ele se sabia que iria sofrer? O que esperava que acontecesse, minha filha? — Seus olhos eram de uma compreensão tão enorme.
— Por que você não é minha mãe? — Indago, e vejo seus olhos transbordarem em lágrimas.
— Só você me entende, Maria. Minha mãe mal me ligou esses cinco dias. Meu pai está vindo para cá hoje. — Revelo, tentando fazer minha respiração normalizar.
— Você mudou de assunto. Me diga, por que agiu por impulso se não era o que realmente desejava?
— Pensei que ele voltaria correndo, imaginei que ele viria de helicóptero e calaria minha boca como só ele sabe fazer. Eu estava tão enganada, Maria. — Deixo minha cabeça em seu colo, e ela alisa meus cabelos e começa a cantar uma cantiga que me lembra minha infância e me acalma. Fecho meus olhos e adormeço.
Acordo com Camélia cutucando meu braço e percebo que estava deitada em um travesseiro confortável.
— Seu pai chegou, Natália. Vamos rápido, querida. — Eu me levanto ainda meio tonta de sono e saio pelo quartinho de Camélia. Topo de cara com meu pai na cozinha, perto da geladeira, tomando água. Ele olha minha cara de choro e abre os braços. Me jogo em seus braços, e ele beija meus cabelos.
— O que a fez chorar, minha querida? — Não consigo segurar e choro abraçada ao meu pai.
— Acho que estou resfriada.
— Hum. Não tem a ver com a sua volta para casa? — Indagou, me afastando de seu peito para olhar em meu rosto.
— Eu terminei com William. — Revelo, e papai me olha com preocupação. E até um pouco em pânico.
— Agiu por impulso? — Fungo e balanço a cabeça, e ele coça sua cabeça, ficando em silêncio. — Precisa parar de fazer essas coisas, Natália. Eu não sou fã de William, no entanto, a proteção dele é essencial para mantê-la segura.
— Me manter segura de que, pai? Para mim, o atropelamento foi um fato isolado. — Meu pai balança a cabeça negando e segura meu rosto, limpando minhas lágrimas.
— Nada foi por acaso, Natália.
— Mas tudo só aconteceu depois que William apareceu, pai. Ele é culpado, o perigo o cerca. — Me explico, me afastando de meu pai, que nega com a cabeça novamente, virando de costas para mim.
— O perigo sempre existiu, Natália. Pode ser que a aparição de William tenha contribuído para os ataques menos sutis, entretanto, sempre houve perigo. Você só não notava. — Tento entender o que meu pai está falando, mas parece loucura demais.
— Do que está falando, pai? — indago confusa.
— Você não se lembra, filha? Dos dias em que nossa casa era invadida? De quando você quase foi atropelada ainda uma criança? Do quanto eu estou sempre viajando para longe de você, levando os perigos comigo? Acha mesmo que faço tudo isso porque não amo você? — A confissão de meu pai me pega desprevenida. Engulo em seco e então a compreensão me invade: as perseguições, o sentimento de que estava sendo seguida ou observada.
— Por que? Por que nos perseguem? — Indago em um sussurro, perdida nos pensamentos, tentando de alguma forma entender o porquê disso tudo. Meu pai engole em seco e se vira para mim.
— Eu fiz algo muito errado há alguns anos, filha. — Confessa baixinho, cobrindo os olhos com os dedos, parecendo exausto. — Desde então, nunca mais tive um dia de paz. Sempre imaginando quando será o próximo ataque, o que me levará dessa vez. Não posso e não consigo te proteger de tudo, Natália. E no momento você não pode escolher proteção. — Adverte. Eu me sento em um banquinho da ilha, sentindo que tudo está girando. Olho para meu pai pensando que ele só pode estar enlouquecendo, que deve ter bebido alguma coisa, e está falando coisa com coisa.
— Não enlouqueci, Natália. Só não posso mais protegê-la de tudo. Você já tem idade suficiente para entender o perigo real que corre. Sua mãe não é fútil e desprovida de amor por querer. Ela precisa ser fria. Precisamos mostrar que não amamos vocês, que vocês não são importantes, para assim não tirarem você de nós.
— Por que me tirariam de vocês? Por que estão me perseguindo? Ou são vocês? O que querem? — Várias perguntas tomam meu cérebro, se misturando em um emaranhado de confusão que não me leva a lugar algum. — Pai? Por que está me contando isso agora? Eu não estou compreendendo nada. Por que está fazendo isso? — Aperto minha cabeça com minhas duas mãos, não querendo ouvir mais mentiras, pretextos.
— Natália...
— Não quero mais ouvir mentiras, pai. Não quero mais ouvir nada.
— Você precisa ouvir. Precisa amadurecer e parar de agir como uma menina mimada que quer chamar atenção. Você é uma mulher, Natália, e precisa começar a se comportar como uma, ou acabará morrendo. — Ele se aproxima de mim e segura meu rosto, se agachando. — Está me ouvindo? Não foi à toa que deixamos você se cuidar sozinha. Você precisava crescer e sobreviver sem nós, querida, precisa controlar seus impulsos. — Concordo com a cabeça e tento engolir o choro. Meu pai nunca foi duro assim comigo, muito menos tivemos uma conversa tão franca e séria.
— O que fizemos para sermos perseguidos assim? — Pergunto em um sussurro. Meu pai desvia o olhar.
— Para sua segurança, não irei revelar, querida. Tentarei entrar em contato com William para que ele a leve novamente para sua cobertura.
— Mas pai... — Tento me explicar, mas é em vão.
— Sem mas, Natália. Acredite em mim, ele é o único que pode protegê-la.
— Antes dele, quem me protegia? Por que agora tem que ser ele? — Indago enraivecida, e meu pai se apruma e segue para o corredor. Cheguei a pensar que ficaria sem respostas.
— Alguém que se importa com você a protegia, mas agora está de mãos atadas. William é nossa única salvação, então controle seu temperamento se quiser sobreviver. — Meu pai sumiu pelos corredores, subindo a escada, me deixando na cozinha com uma enxurrada de pensamentos, tentando entender como fomos parar em uma situação de perigo. E o que faço agora?
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Ligados Pela Obsessão
RomantizmLivro+18 Natália, uma jovem de 25 anos do interior de Minas Gerais, sempre viveu sua vida sem limites, até que um furacão de caos e dominação chamado William entra em seu caminho. William, aos 34 anos, é um membro da Máfia siciliana que veio ao Bras...