NATÁLIA AMARAL
VÁRIOS DIAS DEPOIS
Dezoito dias. Esse é o tempo que estou sem ver William. Dezoito dias sem ouvir sua voz, sem sentir seu cheiro, sem ver seu rosto carrancudo. Dezoito dias sem ver sua sobrancelha debochada quando me acha um pouco louca demais. Não sei se ele está em São Paulo ou BH. Não sei se ele sente minha falta ou se já me esqueceu. Eu ainda não o esqueci e tentei, apagando seu número da agenda do meu celular, bloqueando seu contato no WhatsApp, para logo depois desbloqueá-lo desejando que ele ligasse ou mandasse mensagens. Tentei inutilmente não pensar nele, não desejar vê-lo ou ouvi-lo.
Pensar que parecia que estávamos tão bem, então tudo desandou, e novamente voltamos à estaca zero. Dois cabeças-duras dificilmente dariam certo. A solidão me acompanha agora, algo a que não consegui me adaptar bem. Tinha me acostumado com William e sua cobertura movimentada, e minhas idas ao clube. No entanto, estou voltando aos poucos para o meu trabalho, cuidando da loja que parecia não andar sem mim. Até gostei de ver meus clientes e poder conversar com Danubia. Quando vi dona Elsa, pedi perdão, mas ela já não me olha com os mesmos olhos. Acredito que me culpa pelo que aconteceu com seu filho. Ainda não vi Josué. Estava tão ligada a William que me esqueci por completo dos meus amigos, da minha família. Só queria viver no seu mundo.
A bronca que meu pai me deu me fez refletir sobre minhas atitudes e comportamento. Estou tentando mudar minha forma de agir e pensar. Não posso viver em uma eterna rebeldia e loucura, não posso tomar decisões impulsivas que não condizem com minha idade, apenas por capricho ou para chamar atenção. Ouvir as palavras duras do meu pai me machucou, mas sei que ele fez isso para que eu melhorasse meu modo de ser. Estou tentando ser diferente, por mim, para mim e quem sabe...
Hoje resolvi sair um pouco com Rose, Laura e Eloá para tentar distrair minha mente. Não choro mais por William, mas isso não quer dizer que não sinta. Eu apenas sei guardar minha dor. Sempre fui durona; a vida exige isso de mim. Estávamos em uma sorveteria.
— Como está indo seu namoro com Corrado, Eloá?
— Como sempre digo, amiga, meu caso indefinido com Corrado está maravilhoso — responde sonhadora. Até a pele de Eloá está mais brilhante. Ela está mais feliz do que já me lembro de tê-la visto.
— Fico tão feliz por você ter se encontrado, amiga. — Eloá bate seu ombro no meu.
— E ele? — indagou Eloá.
— Nada, sumiu.
— Se arrepende de ter sido precipitada e terminado tudo com ele só porque ele foi a trabalho para longe?
— Sim, me arrependo, mas acredito que, se eu não tivesse saído da bolha de loucura que nos envolvia, talvez não visse como minhas atitudes eram irritantes e descabidas — confesso, aborrecida.
— Pretende procurá-lo?
— Não sei... ele não me ligou, e eu também não fiz questão de ligar para ele.
— Por quê?
— Não sei. — Dou de ombros. — Às vezes espero que ele me ligue, que ele dê o primeiro passo. Eu não quero uma relação como a de antes, Eloá — confesso baixinho. — Mesmo que a falta dele machuque, se continuarmos como dois estranhos que fazem amor como selvagens, não passaremos disso. — Solto uma risadinha e ela me acompanha. — E se ele me deixasse novamente, não sei se seria capaz de sobreviver a isso. Preciso que ele me deixe entrar em sua armadura impenetrável, que me ofereça mais do que orgasmos e discussões, que me entregue mais do que poucas palavras e uma noite de sono deitada em seu ombro. — Eloá sorri tristemente para mim.
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Ligados Pela Obsessão
RomanceLivro+18 Natália, uma jovem de 25 anos do interior de Minas Gerais, sempre viveu sua vida sem limites, até que um furacão de caos e dominação chamado William entra em seu caminho. William, aos 34 anos, é um membro da Máfia siciliana que veio ao Bras...