WILLIAM CARDINALLIUma das vantagens de ser treinado por um dos maiores assassinos da Itália é aprender a manter a calma sob pressão. Antes, eu era imaturo e confiante demais, tomando decisões sem pensar e comprometendo não só minha vida, mas também a de minha irmã. Depois daquele fatídico dia, nada mais me abala ou assusta; todo medo, confusão e pânico morreram comigo naquele galpão. Às vezes penso que apenas meu corpo vaga por este mundo, enquanto minha alma se foi há dez anos. Pode ser pesado e doloroso para alguns, mas já me aceitei como sou.
Assim que saí do quarto de Natália, iniciei a ligação com a cúpula. Tenho acesso ao que ela faz no aparelho, uma precaução. Percebi que Bráulio estava ligando e entrei no quarto dela, sabendo que estavam armando algo. Informei Ângelo antes de vir para casa e precisei comunicar aos meus superiores sobre os problemas que estou enfrentando. Desta vez, além de Matteo, Lorenzo, Cesare e meus irmãos Carlo e Leonardo, estavam presentes também Don Antônio, seu subchefe Federico, o conselheiro Emílio e meu pai Camilo. Todos me encaravam, buscando respostas e estratégias.
- Já passou da hora de Guglielmo voltar ao nosso país e se casar com... - Tenho vontade de revirar os olhos, mas continuo ouvindo o discurso de meu pai. O primeiro a desejar que eu fosse morto, que gritou aos quatro ventos que eu não era necessário para a família, que eu tinha morrido para ele. Solto um sorriso irônico. Se eu possuísse sentimentos ou um coração, talvez teria se partido quando ele puxou a arma e apontou para minha cabeça. Eu simplesmente me ajoelhei e esperei.
- Ainda não é o momento. - Interpõe Don Antônio, encarando a tela. Sei bem o porquê ele me quer aqui, eles não. Todos ficam em silêncio; a palavra de Antônio é lei.
- Precisa reduzir os danos, Guglielmo. Suborne, mate, intimide, seja democrático se necessário, mas termine a operação. - Concordo com a cabeça.
- Sim, Don. Não deixarei rastro. - Respondo em respeito ao seu pedido.
- Já deixou rastros, William, no momento em que matou um Stronzo por uma escória como Ângelo. - Desafia Carlo, levantando a voz e defendendo o que acredita ser a opinião de todos. Escondo minha vontade de zombar de sua inocência, mas percebo que Matteo concorda com Carlo, e noto que os dois estão próximos, o que me faz erguer uma sobrancelha.
- Minha missão aqui, Carlo, é caçar e matar os ratos. Não vou descansar enquanto o último filho de Aldo Rocco não estiver a sete palmos debaixo do chão. - Revelo, furioso por ter que explicar para meu irmão o motivo de estar infiltrado. Odeio ter que me justificar para alguém.
- Isso não teria acontecido se você tivesse feito o trabalho direito, sem deixar pontas soltas. Isso prova o quão descuidado e amador você é. Não me surpreende que esteja agora prestes a ser preso, colocando em risco não apenas o sucesso da operação, mas também nos expondo mundialmente. - As palavras de Carlo são cheias de ódio e regozijo, como se ele fosse o dono da razão.
- Carlo está certo, William. Você não é mais o mesmo de antes, está deixando a desejar e lutando guerras que não fazem parte das nossas causas. O plano era caçar os filhos de Aldo e voltar, não se envolver nos problemas de Rivera, já que em breve não fará parte desse mundo de qualquer forma. - As palavras sombrias de Matteo fazem Antônio olhar com decepção para o filho.
- Pelo menos uma pessoa com pensamentos como os meus. William não tem mais serventia para essa organização. - Deixa claro Carlo, cheio de ódio. Como havia pensado, Matteo se corrompeu e está na companhia de Carlo, ficando arrogante e sem juízo igual. Só espero que os dois não provoquem uma guerra. Ignorando Matteo, abro um sorriso sardônico para a tela.
- Eu matei mais de dez homens naquela noite, a faca e à mão, gastei poucas balas dos meus carregadores. Peguei Aldo fugindo com as calças na mão, subestimando a mim. Quer mesmo desfazer minha operação e estratégia? Quer mesmo me desafiar, Carlo? Então faça melhor do que eu. Sobreviva a dias de tortura, sofrendo os métodos mais desumanos que existem, dizime uma família sozinho, cace e mate quem destruiu sua vida e depois venha discutir comigo, de igual para igual. Até lá, escolha com cuidado as palavras que usa comigo. - Todos ficam em silêncio. Ninguém ousa dizer nada. Sempre preciso gastar saliva para colocar Carlo no lugar dele. Isso me frustra mais do que Adão no meu pé.
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Ligados Pela Obsessão
RomanceLivro+18 Natália, uma jovem de 25 anos do interior de Minas Gerais, sempre viveu sua vida sem limites, até que um furacão de caos e dominação chamado William entra em seu caminho. William, aos 34 anos, é um membro da Máfia siciliana que veio ao Bras...