CAPÍTULO 42

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                  NATÁLIA AMARAL

Eu procuro pelo banheiro feminino da sala de pole dance. Ela não está sendo usada hoje. Entro nele, tranco-me em uma das cabines e tiro meu celular do bolso. Sei que é tarde, mas preciso dela. Disco seu número e a ligação quase cai.

— O que aconteceu, querida criança?

— Estou com medo, estou cansada, estou perdida, Maria. — Solto um soluço e ouço ela se mexendo na cama; deve estar se sentando.

— Me conte o que aconteceu, minha querida.

— Eu me apaixonei, Maria, eu me apaixonei. — Tento conter as lágrimas que saem dos meus olhos e o soluço que vem em minha garganta.

— Não é a primeira vez, minha querida. O que te assusta?

— Não é da mesma forma, Maria. É diferente, é mais intenso, é mais forte, é mais difícil, é mais dolorido, é mais... mais...

— É amor, minha querida. O nome disso é amor...

— Não pode ser amor, Maria, não pode! Tem que ser atração, tem que ser desejo, tem que ser paixão, tem que ser algo passageiro. Não amor. — Ela solta um suspiro baixo que me acalma.

— Respire, minha criança, e não se desespere. Não sofra por antecipação. Não procure pensar no futuro, ou no que virá. Concentre-se no agora, no momento. Deixe todas essas preocupações, medos e temores para a hora certa. — Ela me aconselha tão sabiamente.

— E quando chegar o depois, o que farei? O que vai acontecer? Isso não vai durar, Maria. Isso irá me quebrar... o que vou fazer?

— Por enquanto, nada, filha. Saberemos o que fazer na hora certa. Sei que estou longe de você no momento, minha criança, mas você sempre está em minhas orações e pensamentos. Estou esperando por você de braços abertos. E, caso chegue a hora e todo seu conto de fadas acabe, estarei aqui para ajudá-la a se reerguer e se fortalecer. — Ela me assegura e respiro fundo. Eu tenho Maria. Eu não vou me abater. Vou seguir seu conselho. Não preciso pensar no que virá. Não vou pensar, não agora.

— Você sempre terá a mim, minha criança. Sempre...

— Muito obrigada, Maria. Não sei o que seria de mim sem você. Sempre que me sinto sozinha ou triste, é em você que penso. Já pego o celular e ligo, não importando que já passa das duas da manhã.

— Não é para importar mesmo, minha querida. Sempre estarei à sua disposição.

— Muito obrigada, Maria. — Nos falamos por mais alguns minutos e eu prometo ir vê-la e até mesmo ficar na casa dela caso William viaje mesmo. Assim que desligo a chamada, a porta do banheiro é chutada e William está lá. Seu olhar não revela se ele ouviu toda a minha conversa ou se pegou apenas alguma parte. Ele apenas me encara. Nossos olhos se encontram e nos dele não vejo nada. Ele não me mostra sentimento algum. Já os meus devem demonstrar meus conflitos e medos. Meus sentimentos ficam evidentes? Será que ele enxerga algo? Ou consigo esconder bem? Baixo meu olhar, não querendo me fazer vulnerável.

— Vamos. — diz ele, e eu apenas o sigo em silêncio, rendida. Percebo que ele está descendo e não subindo, o que quer dizer que estamos indo para casa... casa...

Alguns minutos depois, estamos na cobertura. Ele seguiu para o seu quarto e eu para o meu, outro limite rígido: seu quarto. Aos poucos, percebo quais são seus limites sem ele usar palavras para dizer. Entro no banheiro, tomo um banho rápido e visto apenas uma de suas camisas. Sei que, pelo andar da carruagem, não dormiremos juntos hoje. Também não sei se desejaria tê-lo em minha cama, não depois de tudo. Comi algumas porcarias no clube, mas às vezes prefiro comida saudável ou uma fruta. Algo que não seja apenas salgados ou hambúrgueres, então resolvo ir à cozinha procurar algo leve para comer. Ligo a luz e começo a vasculhar a geladeira, me abaixando para pegar um cacho de uvas, uma maçã e uma banana, quando sinto mãos agarrando minha cintura. Meu corpo retesa por alguns segundos, mas logo seu cheiro inconfundível sobe em minhas narinas.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora