Ligados Pela Obsessão

CAPÍTULO 54

            WILLIAM CARDINALLI

— O caso entre mim e os Montenegro não entra em pauta agora — diz incisivo. — Você só precisa saber que minhas atitudes passadas nos trouxeram até aqui. Natália conheceu um rapaz na escola de Albuquerque; ele trabalhava como bibliotecário. Como expliquei antes, eu relaxei e a levei comigo para Albuquerque para passar mais tempo com ela e Sônia — revela angustiado. — Natália conheceu um rapaz chamado Gael. Pensei que fosse uma amizade saudável, até que ela resolveu revelar segredos de nossa família, coisas que ela sabia por alto, como a presença de Camélia em nossa vida, algo que nem Sônia sabe. Sônia é tão desligada que nem desconfia que Camélia mora conosco, e eu nunca fiz questão de revelar. Existem coisas que precisam ficar em segredo. — Tento entender onde Bráulio quer chegar, mas não consigo, e me sinto até lesado por não antecipar o resultado. Resolvo continuar ouvindo para descobrir onde ele vai com essa história. — Ao contar isso, ela despertou o interesse do tal garoto pela nossa vida, e ele começou a fazer visitas inesperadas, sem aviso. Preocupado, decidi voltar com ela para o Vale do Café, para protegê-la. Mas era tarde demais.

— Por quê? — indaguei confuso.

— Quarenta dias depois de nossa volta, estava planejando retomar minhas viagens, quando Natália recebeu uma ligação do tal Gael. Na época, ele era muito mais velho que Natália; ela tinha quinze anos, e ele mais de dezenove.

— Como permitiu que um homem de quase vinte anos se aproximasse de uma garota como Natália? — perguntei, irritado, enquanto via o assombro nos olhos de Bráulio.

— Você conhece bem Natália. Sabe como ela é desobediente e ardilosa, não era muito diferente de agora.

— O que aconteceu?

— Gael confessou que contou ao pai tudo o que eles conversaram. Foi vago em sua explicação, mas mandou Natália me ligar e pedir para chamar a polícia, pois seu pai havia mandado alguém para nos matar. — Levantei-me do sofá, desconfortável em ouvir isso sentado. A adrenalina correndo pelo meu corpo me fez desejar torturar Bráulio apenas por ser burro o suficiente para deixar uma adolescente sem regras destruir a vida deles.

— Termine o que aconteceu — exigi, cansado de tanta enrolação.

— Quando Gael avisou, já era tarde demais. Passava da meia-noite, e eu não estava em casa. Assim que Natália me telefonou, corri o mais rápido que pude para chegar a tempo. Quando estacionei o carro de qualquer maneira na rua, a porta de casa havia sido arrombada. Eu pensei o pior. Corri pelas portas dos fundos, peguei uma faca e fui à procura da minha filha. Tudo estava quebrado, parecia ter havido uma luta corporal ali; havia sangue no chão, e Natália gritava socorro, mas muito fracamente. Então, eu o vi. Vi um homem com Natália; ele estava agarrando-a pelo pescoço, a vida de Natália estava se esvaindo. — Estava de costas para eles e apertei meus dedos contra a lâmina da adaga apenas para ver o sangue brotar em abundância, tentando conter o desejo assassino de caçar aqueles *stronzi* e matá-los com minhas próprias mãos. — Não precisei pensar muito. Ele foi descuidado com os gritos de Natália e a pessoa ferida, perdendo sangue no nosso tapete. Cheguei por trás dele e enfiei a faca incontáveis vezes, surpreendendo-o ao ponto de ele não ter reação contra mim. Eu o matei, matei e mandei Natália correr sem olhar para trás, que não olhasse nem por um segundo sequer. E pela primeira vez, minha menina me obedeceu. Ela correu cambaleante e tonta, tropeçando nos degraus da escada, às vezes subindo de mãos no piso, mas ainda assim sem olhar para trás, para não presenciar o assassino em que o pai dela havia se transformado. — Talvez por se sentir oprimido, Bráulio se levantou da cadeira, e eu permiti. Também me encontrava perturbado demais para controlar seus impulsos. Bráulio estava com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Aquela noite foi uma das piores da minha vida, pois ali me tornei um assassino e coloquei um novo alvo nas minhas costas.
— Por quê? — quis saber.