CAPÍTULO 45

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              WILLIAM CARDINALLI

Deixar Natália naquele quarto foi uma das coisas mais repugnantes que já fiz com ela, mas Natália é meu descontrole, minha fraqueza. Eu não dei espaço a ela, mesmo assim, ela entrou sem pedir licença, como uma força destrutiva, não deixando um lugar intacto, alcançando lugares que não deveriam existir em mim. Preciso me manter longe; tenho minha vida programada e nela não existe espaço para Natália.

Estou no clube de Belo Horizonte há mais de três horas e ainda não consegui sair da minha sala para enfrentar Ângelo, não depois da conversa que tive com Matteo. Parece que estou traindo sua confiança só por ter dito a Matteo que o mataria, que os dias dele estão contados. Do outro lado, tem a pessoa que daria sua vida por ele, uma dualidade impressionante e a porra da escolha mais difícil da minha vida: matá-lo e ter minha posição na famiglia garantida, ou me rebelar contra minha própria organização, correndo o risco de ser morto.

Esfrego os dedos no meu rosto, soltando um suspiro longo antes de me levantar. Dirijo-me à adega e retiro a minha caixa de charutos. Ao abri-la, escolho um charuto, desenrolo-o do papel e corto a ponta com o cortador. Coloco-o na boca e acendo-o com o isqueiro, girando-o lentamente para aquecer e facilitar a queima. Em seguida, giro o charuto na boca, inalando a fumaça e apreciando o aroma e o sabor marcante do tabaco. Solto uma nuvem de fumaça, tentando aplacar os sentimentos conflitantes que me assolam. De repente, a porta da minha sala é escancarada, e solto outra baforada que forma uma nova nuvem de fumaça. Entrego-me ao controle que tanto necessito, enquanto a porta é fechada, revelando a presença de Ângelo Rivera.

— Não fui avisado de sua chegada.

— Precisei vir antes do planejado.

— Qual motivo?

— Nada que necessite de sua atenção. — Ângelo ergue a sobrancelha e se senta em uma das poltronas dispostas na enorme sala.

— O que aconteceu entre você e Natália que o fez fugir de Albuquerque?

— Por que acha que tem algo a ver com Natália?

— Você é pontual, analítico, não age por impulso, só pode ter algo relacionado a ela. — Tomo meu tempo apreciando o gosto do tabaco, soltando a fumaça em seguida.

— Eu perdi meu controle.

— Qual a novidade? Ela sempre o faz.

— Natália me cobrou sobre o porquê não a avisei da minha viagem para BH antes. Eu nunca precisei me explicar, nunca precisei contar sobre meus passos, não será agora que farei. Ela enlouqueceu.

— Se vocês estão juntos, ela tem razão.

— Não estamos juntos.

— Ah, claro que não. Ela dorme todos os dias em sua cama, mora na sua casa, usa suas camisas e vive no clube que somos donos, e vocês não estão juntos. — Ironiza as palavras com ar debochado. Esfrego meus cabelos, mais estressado que o normal. — Você sabe que ela tem razão e por isso fugiu.

— Não fugi!

— Enfrentou ela no dia seguinte? Disse quando voltaria?

— Não.

— Fugiu. — afirma com convicção, me fazendo soltar um grunhido irritado.

— Você se diz tão experiente. Quero ver o que fará com seu passarinho. — expresso, querendo que ele experimente do próprio veneno.

— Meu passarinho já conhece a maldade humana, William. Não preciso protegê-la de nada, a não ser de mim mesmo. — responde de forma sombria. Ele é o próprio mal. Nós somos. Não sou muito diferente, chego a ser pior em questão de perversidade. Eu gosto de matar, mesmo sabendo que Natália poderá vir a me odiar se descobrir, mas um ponto entre tantos contra o que temos.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora