CAPÍTULO 36

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             NATÁLIA AMARAL

A noite chegou e, com ela, meus pensamentos se encheram de William. Ódio, raiva, tristeza, saudade, insônia. Olho para o teto do quarto de Eloá e tento dormir, virando-me de um lado para o outro, mas o sono não vem. Dormi naquela cobertura luxuosa por mais de vinte dias, e muitos deles com William. Ainda consigo sentir seu toque, seus beijos, seus dedos em todas as minhas partes. A dor entre minhas pernas não me deixa esquecer que o tive aqui, que foi real, que não sou mais virgem. A intensidade com que William faz tudo o que se propõe a fazer me deixa bêbada e insana. Eu queria me levantar daqui agora e andar por aí, pensar com clareza no que farei de agora em diante, no que quero para minha vida. Eu sempre fui imprudente, e esse é o resultado. Me entreguei a um homem, sem ao menos lembrar de camisinha, me apaixonei por ele, e agora fui abandonada e não consigo nem pegar no sono. Tudo o que consigo fazer ao fechar os olhos é sentir sua presença, desejar seu toque, projetar seu rosto em meus pensamentos e desejar que, de alguma forma, tudo tivesse sido diferente. Que nada dessa loucura de hoje tivesse acontecido. Estaríamos em sua cobertura, ou naquela casa onde nos amamos. Ele chegaria e me puxaria para deitar em seu ombro, e eu dormiria ouvindo sua respiração ritmada. Seu cheiro inconfundível estaria presente em nosso quarto. Nosso quarto, como sou patética. Saio das minhas lamentações quando ouço um barulho estranho. Pensando que foi um evento isolado, tento ignorar, mas então ouço novamente, parece algo no portão. E logo depois, o celular de Eloá começa a tocar. Vejo que ela acorda assustada, liga o abajur, pega o celular e atende sem verificar quem poderia ser.

— Alô... — sua voz era rouca e ela parecia confusa. — Como é que é? — pergunta sentando-se na cama, e seus olhos se arregalam. — Certo, hurum... — continua falando. E então ela me encara, parecendo com um pedido de desculpas. — Não... ela está sim... — Eloá se levanta da cama e se aproxima de mim. Eu estava deitada em um colchão no chão. — Para você, amiga... me desculpe. — pego o celular sem entender até que ouço sua voz, calma, baixa e fria.

— Natália, Natália... o que faço com você? Você tem ideia de que me fez revirar o Vale do Café atrás de você? — perguntou, e eu me sento melhor no colchão, encostando minhas costas na parede.

— Achei que tivesse acabado comigo. — digo amarga. Ele solta um suspiro.

— Você que está tentando acabar comigo, cara mia.

— Está enganado, William. De você eu só quero distância. Você deixou bem claro que meu lugar é aqui, e não quero seus seguranças de merda atrás de mim. Quero que todos vocês me deixem em paz e vão para o inferno. — percebo que o irritei quando ele fala um palavrão em italiano.

— Vou te dar cinco minutos para aparecer aqui fora, antes que eu arrebente a porra desse portão e acorde todos dessa casa. E tenho certeza de que esse povo tão humilde e hospitaleiro irá se assustar no inferno com vários homens explodindo o portão deles a essa hora da madrugada. Escolha. — ele não fez isso. Ele não desligou na minha cara. Eu tenho vontade de quebrar o celular, mas lembro que ele pertence a Eloá. Respiro fundo e entrego o aparelho a ela, seus olhos culpados me encaram.

— Me perdoa, amiga, mas ele disse que se eu estivesse escondendo você aqui, dele, ele iria ter uma conversinha com meus pais. — ergo minha mão e me levanto do colchão.

— Não precisa se desculpar, amiga. Eu já convivi tempo suficiente com William para saber do que ele é capaz. Ele quase matou Josué enforcado. — revelo exausta e olho para o vestido de Eloá que estou vestindo.

— Ele fez o quê? — ela quase gritou. Eu acho que esqueci de contar a ela esse detalhe.

— Ele chegou lá em casa, viu Josué me abraçando e quase matou ele enforcado. — acho que falei com mais naturalidade do que devia. William está me corrompendo. — Amiga, vou precisar ir com suas roupas.

Ligados Pela ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora