CALLERI
Dias depois
Amanhã é dia de viajar para a Argentina para fazer o procedimento cirúrgico que venho adiando há meses. Hoje, vou buscar o Pietro no colégio e, à tarde, quando a mãe dele chegar, nós vamos conversar e contar a ele sobre a viagem.
Já estou com o coração partido por ter que ficar longe dele por tantos dias. Da última vez que ficamos uma semana sem nos ver, ele sofreu muito, e desta vez não vai ser diferente.
Agora pela manhã, não tenho muita coisa para fazer. Não estou indo mais ao CT treinar, então estou praticamente de férias. Só não posso considerar assim, porque depois da cirurgia terei fisioterapia e, então, voltarei ao centro de treinamento.
Mariana vai ficar com o cachorro. Pensamos que, assim, Pietro não vai sentir tanto a minha falta; brincando com o irmão peludo, ele vai se distrair e esquecer que vou estar longe.
Aproveitei a manhã livre para fazer a minha mala e também separar as coisas do Jokic para levar para a casa da minha noiva. Depois, preparei o almoço com tudo o que meu filhote gosta e fiz o suco favorito dele também.
Chegou a hora de ir buscá-lo na escola, e eu já sentia vontade de chorar, sabendo que essa cena só vai se repetir daqui a muitos dias.
Sou apegado demais a ele, não sei explicar, só sei sentir. É o maior amor que já senti por alguém, porque, com ele, não tem dias ruins. Não sinto raiva, não sinto tristeza, não me decepciono. Com o Pietro, eu só sinto as melhores coisas da vida. É a sensação gostosa de ter um refúgio, um porto seguro.
Ele é meu porto seguro, apesar de ser tão pequenininho.
Saí de casa mais cedo para não me atrasar. Gosto de ver a reação dele ao me encontrar no portão do colégio. Mesmo sabendo que eu vou buscá-lo, ele reage com alegria, como se não esperasse.
Ao chegar à escola, alguns carros já estavam estacionados na rua. Faltavam apenas dez minutos para os alunos serem liberados.
Mandei mensagem para a mãe dele avisando que já estava esperando, mas ela não visualizou.
Comecei a ouvir o barulho das crianças falando ao mesmo tempo e desci do carro. Cumprimentei alguns pais que estavam próximos e me aproximei do portão.
O sorriso brotou no rosto do meu filho assim que ele percebeu a minha presença. Quando ele se aproximou, eu segurei sua lancheira e sua mochila e o peguei no colo para dar um abraço.
- Estava com saudades, papá - ele falou, e eu amo ouvi-lo me chamar assim.
- Eu também, meu amor - respondi.
Quem passasse e ouvisse nossa conversa ia pensar que fazia dias que não nos víamos, mas nós dormimos juntos.
- Estou com meu estômago roncando de fome - meu filho disse ao ser colocado na cadeirinha.
- Papai fez almoço, meu amor - disse a ele.
- Fez suco também, pai? - ele perguntou.
- Fiz, suco de manga - respondi.
- Oba! - ele comemorou.
Voltamos para casa e ele começou a me falar sobre as atividades que vão ter na escola durante a semana da criança. Isso me cortou por dentro, porque eu não estarei aqui para acompanhar. Não vou participar da semana do Dia das Crianças dele.
Disfarcei a tristeza porque ele ia perceber; ele sempre percebe tudo. Tentei me animar perguntando detalhes do que ele queria fazer, o que queria ganhar de presente, e ele foi me contando tudo, empolgado. Espero que essa empolgação o ajude a lidar com a distância.
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UM CERTO ALGUÉM - Jonathan Calleri
FanfictionQuando um certo alguém desperta o sentimento, é melhor não resistir e se entregar.