Mais um dia nessa porra de vida, o tanto que eu odeio viver com esse desgraçado.
Hoje eu apanhei por que esqueci de tirar o uniforme dele da máquina.
Depois de mais um surra, eu me levanto do chão frio. As manchas de sangue estampam o porcelanato branco.
E de pensar que tudo isso é culpa dos meus pais...
Eles me fizeram casar com esse desgraçado forçado.
Eu só tinha dezoito anos quando fui obrigada a casar com ele.
Entro no banheiro e acendo a luz. Me olho no espelho e o que eu vejo já não me surpreende mais.
Meus olhos roxos, meu nariz ainda sangrando.
Uma semana atrás, eu resolvi soltar o cabelo para ir no supermercado. Estava faltando algumas coisas em casa e eu queria fazer uma surpresa pro meu esposo.
Nós marcamos dele ir me buscar no supermercado.
Eu nem ouso fugir, não tenho pra onde ir. A casa de praia que meus pais me deixaram é extremamente longe daqui.
Estava com as sacolas esperando por ele. Quando entrei no carro, coloquei as sacolas no banco de trás. Eu percebi que tinha algo errado com ele, mas não sabia o que.
- É aqui que você vem encontrar seu amante?
Engoli seco.
Mesmo sem ter culpa alguma, já sabia que ele iria me bater, só por ter soltado o cabelo.
- Responde! - ele apertou meu braço.
- Para Eduardo, por favor...
- Em casa nós conversamos.
O pânico tomou conta de mim.
Rezei o caminho inteiro pra que ele se acalmasse e não fizesse nada comigo.
Eu desci do carro e peguei as compras, ele veio logo atrás em seguida.
Enquanto eu colocava as sacolas em cima da ilha, ele me surpreendeu por trás com uma tesoura.
- Isso aqui, é pra você não soltar a porra desse cabelo, tá me ouvindo?
- Amor, não... Eu te juro, eu não solto mais, não faz nada comigo. - supliquei, mas foi em vão.
Ele me jogou no chão e ficou em cima de mim e me bateu.
Dias atuais.
Tomo um banho pra tirar o sangue do corpo.
Pego um pano úmido pra limpar o chão que estava sujo de sangue.
Eu preciso fugir daqui, eu não aguento mais...
Termino de limpar o chão e logo me deito no sofá. Meu corpo está totalmente dolorido, várias manchas roxas por toda parte.
A porta abre e ele entra.
Ele tira o colete e a arma e coloca em cima da mesa.
Eduardo é PM, o que dificulta tudo. Eu tenho medo que ele me mate se eu tentar fugir.
Amanhã eu vou tentar fugir pro morro do Alemão, o morro mais próximo daqui de casa, lá eu sei que a polícia não entra.
Imagina você conviver com um homem que te bate todos os dias por algum motivo besta.
Passei a noite ali mesmo no sofá.
Quando amanheceu o dia, eu saí de fininho de casa.
Eduardo sabe que eu jamais fugiria por medo dele. Eu tenho medo, mas também não posso mais viver assim.
Eu não consegui correr muito, meu corpo doía por toda as partes. O morro não era muito longe, rapidinho cheguei.
Homens fortemente armados me encararam. Um deles me chamou atenção.
Ele me olhava atentamente.
- Moço, me deixa passar, eu não aguento mais apanhar todos os dias do meu marido. - me ajoelhei nos pés dele.
- De onde que tu é?
- Eu sou daqui perto, eu só não aguento mais. - não consegui controlar minhas lágrimas.
- Isso não é problema meu.
Me levantei e sentei em uma calçada com sombra.
Àquele homem que me chamou atenção, apenas me olhava, não falou nada sobre o outro moço não ter me deixado entrar.
Eu vi o carro do Eduardo parando, ele desceu e veio até mim, estava a paisana.
- Filha da puta, eu sabia que tu ia fugir.
Ele me puxou pelos cabelos.
- Qual foi tio, tá chapando? Deixa a mina, pô.
Àquele homem alto empurrou o Eduardo, enquanto eu tava no chão.
- A mulher é minha, eu faço o que quiser com ela.
- Ela não vai contigo não, ou tu vai embora sozinho, ou eu descarrego essa porra aqui na tua cara. - ele apontou o fuzil pro Eduardo.
O Eduardo saiu correndo, apesar de ser PM, ele nunca iria peitar um traficante, ele é corrupto pra caralho.
O homem me pegou no colo e me jogou no ombro dele.
- Gavião, trás minha nave.
Não demorou muito e esse tal Gavião chegou com o carro.
Ele me colocou no banco do passageiro e entrou no carro em seguida.
Eu só sabia chorar.
O caminho todo eu fui de cabeça baixa. Sei que não devemos confiar em estranhos, mas ele me passou uma certa confiança.
Paramos em um casarão, tinha vários homens armados na frente da casa.
Eu desci do carro assim que vi ele descendo.
Nós entramos na casa e ele sentou no sofá.
- Obrigada por me ajudar. - forcei um sorriso.
- Senta aí pô.
Me sentei no cantinho do sofá.
- Tá com fome?
- Não...
Ele levantou e foi na cozinha, a casa é toda integrada.
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No Morro do Alemão
Fanfiction+18 | Esse livro possui conteúdo pesado, se você for sensível, recomendo não ler. Fernanda é uma jovem de 24 anos que é casada com um capitão da PM. Ela vive uma vida resumida em sofrimento, até conhecer o Cobra. Ela crê que sua vida irá mudar e mel...