Capítulo 29

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Capítulo 29 — Luara

Quem disse que sexo gostoso era garantia de bom humor?

Os orgasmos podem te deixar leve, mas é só você voltar pro mundo real que a vida trata de te mostrar rapidinho como ela é.

Aguentar as porradas eu aguento, agora, ser simpática já é muito.

Não tem como ter bom humor quando você chega no seu trabalho e suas colegas tão de fofoquinha com o seu nome. E você ainda tem que aceitar calada porque não pode perder a porra do emprego que acabou de conquistar depois de muita luta.

Se não fosse a Luiza me mandando print do que tava acontecendo, eu ia pensar que era eu mesma que tava de avesso. E também se não fosse por ela ter mandando isso e eu ter futucado mais,  não ia descobrir que o cara me fudeu ontem o dia todo é um cachorro salafrario, que não aguenta o pau dentro da cueca, e já comeu minhas duas colegas de trabalho.

Eu falo, mano, é castigo de outras vidas isso. Não pode ser que eu tenha feito tanta coisa ruim numa vida só.

Como se nada disso pudesse piorar, vejo a loira peituda, tal de Gabrielly, atravessar a rua em direção da padaria. Ela para no balcão e conversa com as atendentes, fazendo algum pedido.

Pronto. A Organização dos lanchinhos do Digão tá reunida. E eu tô inclusa.

Anda até o meu caixa, com aqueles peitos quase pulando pra fora do cropped, e joga um saco de pão e uma coca de dois litros no balcão.

Luara: Bom dia — forço educação e passo o saco de pão no leitor, depois a coca-cola — Deu quatorze reais.

Coloco os dois produtos na sacola e entrego pra ela, pegando uma nota de dez e outra de cinco de sua mão. Guardo o dinheiro no caixa e devolvo um real de troco.

Gabrielly: Tá errado — empurra a moeda na minha direção.

Luara: Não, a conta deu quatorze reais, você me pagou com quinze, o troco é um real — explico calmamente, sem entrar na pilha dela, porque ela quer me afrontar.

Se numa coisa eu sou boa é em matemática, pode ter certeza que eu sei fazer uma subtração simples.

Gabrielly: Eu te dei uma nota de vinte, garota. Você é burra? — perguntou, toda nojenta e eu respirei fundo. Somando todo resquício de paz de espírito que habita dentro de mim.

Eu desconto do meu salário, mas não deixo essa puta azucrinar o meu juízo por causa de coisa boba.

Luara: Quanto que falta?

Gabrielly: Cinco reais  — ela diz e eu puxo a nota de dentro do caixa, entregando pra ela.

Deixo ela bater na minha cara aqui dentro, mas não perco o meu trabalho. Agora, lá fora, se ela entrar na minha frente, vai tomar, porque eu não sou nenhuma vagabunda da laia dela.

Com o ódio corroendo a minha pele, assisto ela ir embora e mando um áudio pra dona Cida, explicando por alto o que havia acontecido.

Me mantenho isolada o resto expediente, falando com as meninas somente o extremamente necessário. Não tenho nada contra elas e, infelizmente, quando sentei naquele pau, não vinha escrito quem tinha sentado antes. Se não eu tinha evitado a fadiga... Ou não também, que se fodam elas.

Na hora de ir embora, nem penso em esperar o Picolé, o combinado era que a partir dessa semana ele não precisava mais me buscar e eu tava louca pra chegar em casa. Tomar um banho pra tirar o suor e a urucubaca dessas mal amadas.

Viro a primeira rua depois da padaria em direção à minha casa e a Gabrielly tá na esquina conversando com uma menina, encostada numa birosca. Penso em voltar pra padaria e pedir pro Picolé vir me resgatar, mas se isso seria tudo o que essa vagabunda mais quer.

Ou você intimida o mundo ou o mundo intimida você.

Passo de cabeça erguida, ignorando totalmente a presença da songa monga.

Gabrielly: Ala, Tuane, a puta ainda passa jogando cabelo na minha cara — aponta com o queixo pra mim.

Meu Deus, eu tô tentando muito ser uma pessoa melhor.

Tuane: Deixa isso pra lá, gabi — diz baixo e nervosa, enquanto eu já tô quase passando por elas.

Gabrielly: Deixa pra lá nada — grita pra eu ouvir — É uma piranha, quis me roubar, é por isso que é sozinha no mundo, nem os pais devem querer ela.

As palavras chegam em mim quase em câmera lenta, todo bom senso parece tá saindo dos meus poros.

Eu vi minha mãe lutar contra a morte pra ficar comigo, acho bom essa piranha não entrar nesse assunto, porque ela não sabe até onde isso leva.

Luara: Tá falando comigo? — paro e giro o corpo na direção da vagabunda.

Gabrielly: Tá vendo mais alguém na rua? — coloca a mão na cintura.

Ela não faz ideia de com quem tá falando...

Atravesso a rua como uma bala e chego a poucos centímetros do rosto da filha da puta. Feia.

Tuane: Gente, pera aí... — Tenta se meter entre nós duas, mas nem eu nem Gabrielly nos movemos um passo.

Ela tá achando que porque é uma cavala se garante contra mim. Vai se fuder na minha mão e eu não vou avisar.

Luara: Repete o que você falou — digo seria e num tom baixo.

Gabrielly: Qual? — debocha — a parte que você é uma piranha ou a parte que ninguém te quis.

Luara: Presta atenção, sua puta — apontei o dedo na cara dela — Tira o meu nome da sua boca, finja que eu não existo, porque você não me conhece.

Gabrielly: Tô nem aí — dá de ombros e a Tuane força pra tentar manter a distância entre nós duas — o resumo da sua vida eu já sei. É uma piranha, sem pai e sem mãe.

Foi difícil ouvir ela dizer o final da frase, porque sem que eu pudesse pensar em me controlar, passo a mão na cadeira de plástico da birosca e acerto a lateral do rosto dela e o ombro.

Ela cambaleia pra trás com um corte no rosto e a tal tuane voa longe.

Luara: Nunca mais na sua vida você se refira a minha mãe — arremesso a cadeira em cima dela, vendo as duas pernas se quebrarem com o impacto da minha força — Nunca mais, tá me ouvindo?

O ímpeto de agressão não conseguiu aliviar nem um pouquinho o ódio que eu tava sentindo dessa vagabunda, por isso montei em cima dela, puxando um tufo de cabelo loiro.

Gabrielly: Sai de cima de mim — tentou forçar o corpo contra mim, mas eu tava cega de ódio — Tá maluca?

Luara: Tu não quer fazer maluquice? Eu sei fazer maluquice também — grito e puxo o cabelo com mais força, arrancando alguns fios do couro cabeludo.

Eu não via nada além da cara de deboche fala falando da minha família.

Luara: Eu te falei pra fingir que eu não existo — agarrei os braços com um mão e bati o nariz no meio fio — Você não tem noção de quem eu sou, então não abre essa boca imunda de boqueteira pra falar da minha mãe — grito batendo nela e arranhando seu rosto, enquanto o sangue escorre — Piranha arrombada.

Picolé: Luara, caralho — passa a mão na minha cintura e me tira de cima dela quando eu ainda não fiz nem 1% do trabalho que quero fazer — Que porra é essa?

Eu vou quebrar todos os ossos desse corpo dela.

Luara: Me solta, picolé — me debato sob o aperto dele, tentando me soltar, enquanto um outro moleque segura a Gabrielly — Eu vou matar essa prostituta. Vou arrancar esse silicone na unha!

Gabrielly: Sua doente — ela gritava de volta e a voz dela me torturava por dentro — Você quebrou meu nariz, maluca.

Luara: Abre a boca agora pra falar da minha família, piranha. Abre, fala um a da minha mãe pra você ver se eu não te mato aqui e agora  — Picolé me arrastava pra longe e eu continuava a gritar e me debater. Puta barata. Rampeira. Rapariga arrombada.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora