Capítulo 52

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Capítulo 52 - Digão

Tomo um gole do whiskey e passo a mão na lateral da coxa dela, sentada em meu colo.

Tamires: Vamo no banheiro comigo? — levanta e estica a mão pra Luara que me olha rapidamente e eu concordo.

Nessas horas, ela nem parece a encrenqueira que me contraria em tudo. Luara sabe agir na disciplina mas também não concorda com qualquer bagulho de graça.

Fico um pouco aliviado em saber que, fora da nossa zona de conforto, ela vai sempre recorrer à mim antes de tomar alguma atitude.

Ela levanta e segura a mão da Tamires, saindo as duas em direção ao banheiro. Eu admiro cada detalhe dela de costas, a bunda linda marcando o vestido curto e o sorriso que ela dá pra mulher do Coreano.

Coreano: Tu foi garfado mermo — ri e bate no meu ombro — que onda.

Digão: Pra caralho... — passo a mão no rosto.

Coreano: Isso é bom, mano. Ser sozinho no mundo é uma vida ruim do caralho.

Digão: O foda é que ela acaba com meu juízo — apoio o cotovelo nas coxas — ela não entende que eu quero dar tudo pra ela, que ser minha mulher é isso. Acha que precisa resolver tudo sozinha nessa porra.

Coreano: Irmão, a mina não é interesseira, tá ligado? Adianta nada tu forçar que ela aceite todos os bagulhos de uma vez, se tá acostumada a correr sozinha, não vai aceitar deixar tudo na tua mão.

Digão: Não dá pra entende, mano, ela reclama das dificuldades da vida e não deixa eu facilitar pra ela.

Coreano: É igual, Tamires, pô. Falei pra ela que ia bancar a reforma da franquia do salão novo que ela vai abrir, de primeira, não aceitou. Só depois da gente morando junto e os caralhos, que ela foi aceitar dividir comigo — bebe um gole do copo dele — Quer o papo reto? Primeiro ela precisa confiar pra caralho em você, depois que ela ver que vocês tão junto mermo, de verdade, aí ela vai começar a entender as paradas.

Digão: Eu já coloquei ela como minha mulher, nunca fiz isso por nenhuma, faço tudo por ela, Coreano. Quer mais prova do que isso? Eu faço mais o que?

Coreano; Te falar o que a Tamires falou pra mim: Tá achando que mulher é igual cachorro? Tu dá casa, presente e leva pra passear e acha que tá bom? Ter mulher dá trabalho, porra. Por isso tu que saber se gosta mermo, se não gosta, abre espaço e deixa outro gerenciar.

Digão: Nem fudendo. Outro o caralho.

Só de pensar numa porra dessa meu sangue começa a ferver. Eu sou capaz de fazer uma loucura do caralho se outro filho da puta toca nela.

Coreano: Então, irmãozinho... — coloca a mão no meu ombro e me olha nos olhos — Ouve o que ela fala, mulher não fala nada de bobeira, tudo tem intenção... Depois que tu ouvir, tu resolve. Não deixa passar nada, porque, com todo respeito, tu tá com um avião no teu porte, tem que saber pilotar. É igual eu, pô, fiquei maluco correndo atrás da minha gatinha pra agora chegar em casa e encontrar ela toda cheirosa na minha cama.

Digão: Não quero nada além disso — sou sincero — quero ela, tá puta pra caralho comigo, não parece, mas tá... Mesmo assim só quero ela.

Coreano: Então faz o teu corre. Demora, comigo demorou pra caralho, mas Tamires viu meu pior e o meu melhor lado, ninguém me conhece mais, ninguém sabe lidar comigo melhor. Só tem uma parada, se quer rir, tem que fazer rir. Não vai pensando que a Lua vai se jogar de cabeça se tu não se jogar também.

As palavras dele ficam martelando na minha cabeça, mas não tenho tempo de responder porque elas voltam rindo do banheiro.

Tamires: Viu, Coreano? Luara é do tênis igual a mim — aponta pro tênis branco no pezinho da minha preta e senta no colo do marido.

Olho o horário no meu relógio, marcando quatro horas da manhã, e me surpreendo por nem ter visto a hora passar conversando com eles.

Luara: Fui de salto pra baile uma vez pra nunca mais — nega com a cabeça, sentando na minha perna e passa a mão na minha orelha.

Meu coração bate firme cada segundo que olho pra ela porque eu não canso de dizer que a beleza dela é de outro mundo.

Digão: Ela tava comigo naquele baile que tentaram invadir — explico, olhando pro Coreano, que avalia a forma que a Luara se comporta comigo.

Meu amigo é bom de onda pra caralho, mas é crítico e quer saber onde tô me metendo depois do papo que tivemos. Coreano já tá ligado que Luara não é qualquer uma pra mim e eu sinto que ele gosta dela. Não tem como não gostar.

Coreano: Papo reto? — Luara concorda.

Tamires: Ficou muito nervosa? — passa o braço no pescoço do Coreano — Nossa, eu tenho um medo disso, acho que passaria mal.

Luara: Eu fiquei sem entender nada, ele só me mandou entrar no banheiro, quando me tirou de lá, me enfiou num colete... — gira a taça de gin na mão com as unhas pintadas de branco — E já era a segunda confusão que eu me metia...

Digão: Ela tá acostumada já, essa pretinha — beijo o ombro dela — Todo tiroteio que eu tô, ela tá também. Nós se conheceu assim... Fala pra ela, Coreano, o que acontece com quem desobedece toque de recolher aqui na Rocinha...

Coreano: Ih, Lua, tem muito papo não... — ri.

Digão: Eu ia colocar ela pra varrer o baile.

Luara: Eu tinha que trabalhar — se defende com o mesmo argumento de sempre e eu nego com a cabeça, fico puto por ela ter se colocado em risco aquele dia — O que ele não conta é que eu salvei a vida dele!

Digão: Eu com um tiro na barriga salvei nós dois — aponto pra região.

Luara: Você é um convencido — olha pra frente, fazendo o casal rir e eu também sorrio — Devia ter deixado você sangrando sozinho.

Digão: Duvido. Você não ia aguentar deixar seu preto assim, já sabia que eu era o homem da sua vida — ela se encolhe no meu colo, com um sorriso bobo e nega com a cabeça, ainda pensando que eu sou convencido — Vamo?

Ela concorda com a cabeça e levanta do meu colo.

Tamires: Ah, já vão? — franze a testa.

Digão: Quero pegar a pista antes de clarear, daqui até lá é chão — abraço o coreano que levanta.

Coreano: Visão — aperta meu ombro — Chegando lá tu dá um toque. Valeu por ter vindo.

Digão: Satisfação sempre. Tu é meu irmão, sabe disso.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora