Capítulo 28

11.4K 859 57
                                    

Capítulo 28 - Digão

Quando a segunda-feira chegou, foi hora de voltar pra porra da realidade.

Olho rápido uma página no twitter postando foto minha e da Luara saindo do baile. Nem rolo a página pra não ler o que tão falando dela, se não eu não vou conseguir prestar atenção em porra de reunião nenhuma. E essa reunião é questão de vida ou morte pra mim. Ela vai conseguir lidar meia hora com os fofoqueiros enquanto eu tô tentando salvar essa favela.

Meia hora, só isso que eu preciso.

Minha mente tá estourando. Não fujo de trabalho, sempre tive disposição e essa é uma parada que vai morrer comigo, mas depois de mais velho, tô percebendo que ninguém consegue viver só disso.

Meu domingo foi foda, o chá que aquela pretinha me deu tá marcado na minha memória. Impossível não pensar nela, desde o corpo perfeito até cada reação que ele tem aos meus toques. Me imaginei fudendo com ela desde o primeiro momento que eu vi, toda cheia de medo, mas com uma atitude de mulher madura, e o resumo entre eu e ela foi muito melhor do que eu pensava.

Ela é gostosa pra caralho e não tenho medo de dizer que em 33 anos nenhuma transou comigo do jeito que ela transou.

Eu sabia que pra nego dizer que ela tá no meu porte era dois segundos, eu tô preparado pra isso já e também quero que ela esteja, por isso sempre dou o papo reto, deixo ela ciente de tudo. Não tô afim de perder o que nós dois temos por causa dos outros. Quero que se foda os outros.

Olho pra tela do computador enquanto os outros donos discutem a divisão de uma área nova que nós tomamos em conjunto ano passado. Nem entro nessa discussão porque já tô com problema demais pra procurar mais um.

Pretinho: Eu tô na responsa do Jogador, Pepe. Meu patrão é ele, se o cara mandou eu não meter a mão nessa porra, eu não vou meter — o frente do Complexo do Lins diz sério — Não tem conversa.

Ouço a discussão, sabendo que mesmo sem dar uma palavra, minha opinião vai ser considerada. Apesar de hoje a gente não ter um líder pra gerenciar a facção, eu, Coreano, Princesa e Jogador temos a mesma cabeça pros negócios... É difícil uma coisa que não seja do nosso agrado virar lei, porque a gente sempre fecha junto. O mesmo serve pra Pikachu, Pretinho, Dedé e Chocolate.

Pepe: E eu tô falando que é pra tu meter a mão? — dono do Salgueiro rebate — To dizendo que se ninguém se propor a gerenciar essa pica vai explodir no meu cu só porque eu tô mais perto, e eu não quero. Não vou tá me fudendo só pra agradar vocês, a solução era que todo mundo dominasse essa porra junto, porque foi de comum acordo que a gente tomasse e agora fica um empurrando pro colo do outro.

Esse moleque tem visão, é novinho, mas não é bobo. Tá agindo certinho.

Coreano: Vamo fazer o seguinte? — olho pro meu parceiro, através da chamada de vídeo — Semana que vem nós vai sentar só pra resolver essa porra. Cada um aqui vai trazer uma proposta pra resolver, sem colocar no rabo do irmão — Olhei a expressão do Pepe, que não gostou muito, mas concordou --- Por enquanto vamo deixar do jeito que tá. 

Jogador: Passa a visão, Digão — cruzou os braços, na altura do peito ao lado da Princesa — Qual foi? Polícia estragou teu baile?

Digão: Mano — passo a mão no rosto — sorte que eu tava preparado, os caras botaram dois caveirão sábado de madrugada na minha porta. O baile tava fervendo... Uma dor de cabeça do caralho.

Princesa: Alguma baixa? — franziu a testa.

Digão: Não — nego com a cabeça — Eles brotaram aqui, mas não viraram nem a primeira rua. Eu tô ligado 24 horas, tão vindo toda hora me tentar, tô sentindo que daqui a pouco eu vou tomar distraído.

Pepe: Tu tem que olhar pra dentro do teu comando, mano. Precaução nunca é demais... Sei que tu é correria, não tô duvidando da sua visão, tu sabe disso, é mais cascudo que eu...

Digão: Tô ligado. Não tô confiando nem na minha sombra... Mas se eu entrar na neura, a favela para de funcionar — eu tô ligado que ele entende o que eu tô falando, nenhum chefe gerencia sozinho, tem que delegar função.

Eu tô sufocando os da minha confiança já, preciso dar um jeito de virar esse jogo.

Princesa: Adiantar o carregamento que vai chegar te ajudar? — pergunta porque é ela que tá de frente disso agora.

Coreano: Posso mandar uns soldado...

Digão: Ajuda. Vou tá em dívida com vocês, mas os caras não tão me dando um respiro.

Pikachu: Dívida de cu é rola — ouço a voz dele pela primeira vez, tá quietinho hoje — Nós é irmão ou não é? Se ninguém se ajudar, cai todo mundo junto.

Era verdade. Nós aprendemos com o Dom a merda que seria deixar que a Princesa e o Jogador caíssem. Hoje, eu estaria na merda, muito mais vulnerável, sem o apoio deles.

Princesa: Quando a gente precisou, tu tirou do teu morro pra ajudar. Impediu, você e Coreano, que o Capitão entrasse na Penha — falou comigo — Quando eu agradeci, você falou que a gente estaria junto nas boas e nas ruins. Tô adiantando o carregamento das armas e mandando gente da minha confiança pra te ajudar.

Os outros chefes também se disponibilizaram a mandar ajuda pra mim.

Coreano: Um bonde meu vai partir praí amanhã de manhã. Como tá tua relação com os caras, suspendeu o arrego?

Digão: O batalhão da área tá na minha mão, nada mudou, quem tá batendo aqui é o Bope — tomo um gole de água — Mas tão fudidos na minha mão, também não vou recuar mais. Tô nem dormindo pra descobrir o porque a mira sou eu.

Jogador: Tu tem uma mente do caralho, mano. Vamo pensar numa solução, não vai cair nenhum de nós aqui.

Concordo, a gente termina de ajustar alguns assuntos pendentes e desligamos a chamada. Geralmente nossas reuniões são pessoalmente, mas eu não tô podendo sair da favela, Jogador e Princesa tão com neném em casa... Teve que ser assim dessa vez.

Passo o meu olhar pela sala e vejo o saltinho rosa da Luara encostado ao lado do sofá. Respiro fundo, tentando arrumar um jeito de não deixar que nada disso respingue muito nela. Uma coisa ou outra vai acabar respingando, tá respingando já.

Pego meu celular e abro na minha conversa com o Jogador.

Mensagem de Digão: Preciso trocar uma ideia no particular contigo, quando tiver de bobeira, me dá um salve?

Picolé: Patrão — Ouço o moleque me chamar abrindo a porta da sala.

Digão: Qual foi? — olho pra ele, que tem a testa franzida e um arranhado no braço.

Picolé: Luara.

Minha meia hora já acabou. 

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora