Capítulo 8 - Rodrigo
Tô dando um trago no baseado quando ela entra pela segunda vez no mês na minha sala. Juro que não esperava ver essa mina de novo nem tão cedo, porque por mais que ela more na minha favela, não é de ficar dando as caras em furdunço.
Fora que eu tava tão focado em colocar meus bagulhos nos eixos, que não tava nem olhando pro lado. Pra desarrumar foi rapidinho, mas pra colocar de volta no lugar, puta que pariu...
Luara: Tu já pode tá fumando assim? — levanta a sobrancelha e me analisa.
Tenho a impressão de que ela não pensa muito antes de falar, só sai falando o que vem na mente.
Digão: A onda alivia o incômodo — sorrio e relaxo o corpo na cadeira — TH passou um rádio mandando o papo de que tu queria falar comigo...
Olho pros detalhes do seu rostinho enquanto ela se mexe desconfortável na cadeira. Começo na sobrancelha desenhada, passo pelo nariz perfeitinho e termino na boca... Que boquinha inchadinha linda. Ela é toda linda, papo reto mesmo.
Tem mina que eu olho e acho gata, mas essa é linda mesmo. Tem os traços desenhados e delicados, Deus tava inspirado quando fez, pena que eu não me envolvo com essas novinha pra evitar dor de cabeça.
Luara: Uhum — olha nos olhos e morde o cantinho da boca, pensativa. Ela tá hesitante pra caralho e eu quero saber o porquê — Pedi pra ele ver se você podia me receber...
Digão: Tô aqui. O que tu quer comigo, preta? — Mantenho o corpo relaxado e dou um último trago na ponta do baseado, prendendo a fumaça, vendo que o apelido causou de resultado nela.
É o que eu digo, essa mina pode fazer o máximo de força pra não falar as merdas que vem na cabeça, o que já é difícil pra caralho, mas o que ela tenta esconder em palavras, entrega no olhar e na expressão corporal.
Luara: Olha — esfrega uma mão na outra e eu solto a fumaça — se eu tô aqui falando contigo é porque é minha última alternativa... Não quero que tu pense nada de errado e eu tô ligada que ficar devendo favor pra traficante é um cu — levanto uma sobrancelha ao ouvir ela dizer — com todo o respeito.
Digão: Precisa ficar enrolando não — faço gesto com a mão pra ela acelerar o papo — fala.
Luara: Não tô enrolando — franze a testa — Tô te explicando só. Enfim, queria tua ajuda pra arrumar um emprego.
Digão: Emprego? — questiono, apagando a ponta do baseado no cinzeiro — Que emprego?
Luara: Qualquer um — se apressa a dizer, levando o corpo pra ponta da cadeira — Quer dizer, qualquer um não... Prostituição tá fora de cogitação.
Solto uma risada baixa e nego com a cabeça, porque já tô montando o jeitinho dela todo na minha cabeça.
Digão: Por que tu acha que eu ia mandar tu vender teu corpo, garota? — sorrio.
Luara: Sei lá — encolhe os ombros — Sinceramente, eu nem queria ter que tá te pedindo essa ajuda... Não quero seu dinheiro, só seria bom se tu pudesse me indicar pra alguma vaga aqui no morro... Como eu te disse, naquele dia da invasão eu tava indo cumprir período de experiência numa loja na pista, mas como eu faltei, não me contrataram. Preciso pagar minhas contas, comprar minhas coisas... Sou só eu por mim mesma. E meu amigo já me falou que tu ajuda os moradores como pode...
Franzo a testa e inclino meu corpo pra frente, estudando suas palavras. Não acho que ela esteja mentindo, mas é estranho ela ter essa carinha de novinha, uns dezoito no máximo,e dizer que tá sozinha no mundo.
Digão: Quantos anos tu tem?
Luara: Dezoito — concordo com a cabeça, é o que eu imaginava.
Digão: Vou tentar arrumar uma parada pra tu — passo a mão no cavanhaque — Mas não posso obrigar nenhum comerciante a te contratar só porque eu quero, tá ligado? Tu tem que ter paciência porque tu é novinha e não tem experiência nenhuma.
Luara: Eu tô ligada... — passa a pontinha do dedo no cílio direito enquanto me olha.
Digão: Até eu conseguir, tu não tem nenhum familiar pra te dar uma ajuda não? — pergunto querendo saber mais dela.
Luara: Tenho uma tia só, mas ela mora fora do Brasil e eu não tenho mais contato — desce a mão pra bochecha, ainda desconfortável, e eu divido a minha atenção entre o movimento dela e os olhos — Na hora do aperto, até família some.
Absorvo as palavras por alguns segundos, sei como é isso, precisar de dinheiro pra sobreviver e não ter ninguém pra ajudar. Foi assim que vim parar onde eu tô.
Digão: Tô ligado como é — Foco meu olhar no dela — No final é cada um por si.
Ela concorda com a cabeça, me olhando séria. Pego meu celular em cima da mesa e entrego a ela.
Digão: Coloca teu número aí — pega meu celular desbloqueado, hesitante, e começa a digitar — Mais tarde o TH ou o Picolé vai passar na tua casa e deixar uma bolsa lá. Tu só vai separar pra mim, nada demais e eu te dou um pagamento por isso.
Luara: É droga? — levanta o rosto do celular pra mim, de olhos cerrados.
Digão: Dinheiro — pego meu celular de volta e coloco em cima da mesa — Nós tem uma máquina que separa, mas quebrou e eu preciso fazer um pagamento com aquele dinheiro, mas tem que tá separado.
Luara: Só isso? — ela pergunta e eu concordo com a cabeça — Tá bom. Eu tenho até quando pra fazer?
Digão: Amanhã de tarde — vejo ela levantar e o short embola um pouco nas coxas grossas — Depois nós acerta o pagamento.
Ela é gostosa pra caralho. Toda pequena, cinturinha fina, mas a bunda grande e a perna grossa é o que deixa vagabundo maluco.
Luara: Obrigada por isso, Digão — ajeita a barra do short — Não quero ficar em dívida contigo, única coisa que eu quero é trabalhar pra poder me sustentar...
Digão: Ta suave, preta. Pode ir lá que os moleques vão passar na sua casa mais tarde.
Ela sorri e eu enxergo a timidez no ato. Essa é uma parada totalmente fora do esperado na personalidade dela... Ela é toda corajosa pra idade, cheia de personalidade, fala o que pensa, mas tem uma certa timidez.
Me prendo nas pontas loiras nos cachos e o short marcando a bunda na visão dela indo embora.
Digão: Luara — chamo sua atenção e ela vira pra mim — Eu sei quanto tem de dinheiro lá, tá?
Luara: Eu não sou burra, Digão. Posso ter carinha de idiota, mas sei muito bem o que me acontece se eu vacilar contigo.
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nota da autora:
sou muito cadela de vcs né? toma ai mais um!
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Ligações de Alma [M]
FanfictionLigações de alma, eu falo seu idioma Traduzo suas emoções, entendo sua confusão. Luara e Digão