Capítulo 50

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Capítulo 50 - Digão

Luara: Doente! — ouço ela resmungar enquanto fecho a porta da minha casa casa com ela dentro.

Eu tô com o peito queimando em ódio, ela tá no ódio dela também, mas não vamo ficar separado cada um na sua casa nem fudendo.

Digão: Eu tô errado no que, porra? — franzo a testa com a cabeça estalando de tanto problema que eu arrumei junto dessa preta de um metro e sessenta.

Luara: Tá de sacanagem? — vira de frente pra mim e eu consigo ver a veia marcando o pescoço, sinal claro da irritação dela — Você quer uma lista em ordem alfabética? Mano, você quase estourou um cara agora porque na sua cabeça de doido o cara olhou pra mim! — aponta pro peito.

Digão: Na minha cabeça o caralho! Conheço olhar de homem, porra, maluco é ele de colocar o olho no que é meu — sinto o ódio esquentar meu corpo todo.

Luara: Olha o jeito que tu fala! Eu não sou um objeto! — chega mais perto de mim e me encara de igual pra igual.

Me atinge o fato de que ela não tem um pingo de medo de me afrontar, apontar, discutir... Ela vem pra cima de mim do jeito que marmanjo nenhum faz.

Digão: Luara, será que tu entende qual é o caralho da minha posição nesse morro? — olho nos olhos dela enquanto nossos narizes quase se encostam — Um filho da puta chegar e olhar pra minha mulher na minha cara é porque ele não tem respeito nenhum por quem eu sou.

Luara: Essa sua ceninha não impõe respeito, impõe medo! — encosta o nariz no meu.

Digão: Foda-se!

Meu tom de voz se eleva e ela dá dois passos pra trás, franzindo a testa.

Luara: Para de xingar ou eu vou parar de conversar com você — aponta o dedo pra mim.

Digão: Tira o dedo da minha cara tu também — agarro a mão dela e puxo pra perto — Tu tem que entender quem eu sou, preta — mudo o tom.

Luara: Eu entendo, só não quero ser tratada como se fosse uma boca de fumo, pra você dar ordem e mandar matar quem chega perto.

Respiro fundo pra não perder a paciência com essas comparações malucas que ela faz.

Digão: Luara, não é boca de fumo não, caralho — ela levanta a sobrancelha pra mim por causa do palavrão, mas eu não deito pra ela também não — Tu não sabe o que é pra um homem ver um outro cara olhando pra mulher dele.

Luara: Eu vejo o tempo todo as mulher babando em cima de você e não mando bater em ninguém — faz aquela carinha de metida que me quebra e ela nem sabe.

Digão: Quer mandar bater? — agarro a cintura dela, sentindo o cheiro que me acalma — Manda bater.

Luara: Não! Eu tenho confiança em você, mas aparentemente tu não tem confiança nenhuma em mim. — dá de ombros e desvia o olhar.

Digão: Não é isso, preta. Tem muita coisa envolvida. Mulher de bandido tá em outro patamar.

Luara: Isso é só desculpa pra você continuar resolvendo as coisas com dinheiro e violência — coloca o indicador no meu peito, afastando o rosto do meu — Cara, você deu cinquenta mil dólares pra minha tia!

Digão: Porra, Lua... — seguro ela com uma mão e passo a mão no rosto com outra — você ia resolver como então?

Luara: Eu não sei — encolhe os ombros — sinceramente eu não sei, mas ia tomar porrada da vida até arrumar uma solução.

Digão: Não tem necessidade disso, amor — sinto a respiração dela fraquejar e ela mudar de postura.

Luara: Tem sim, preto. A vida é assim, a gente apanha e aprende. É duro, mas é necessário.

Digão: Eu não vou deixar você apanhar porra nenhuma, Luara. Eu vou resolver, eu já apanhei pra você não precisar apanhar mais.

Porra, eu já apanhei pra caralho e não entendo essa mina querer entrar nessa porradaria se tem eu aqui oferecendo tudo já pronto na mão dela.

Luara: Eu não quero me sentir dependente de você, Rodrigo. — nega com a cabeça — eu não sei mais lidar com sentimento ficar presa a alguém

Digão: Eu não quero te prender, quero te dar o melhor, mas não vou te obrigar a ficar, pretinha — me defendo, prendendo as minhas mãos na lombar dela e mantendo o contato visual.

Eu me perco pra caralho no jeito dela.

O ódio que eu senti do desgraçado lá fora ainda tá aqui, mas ela me faz sentir também medo. Eu não quero que ela vá embora e desista da gente por não saber lidar com o meu jeito, mas esse é quem eu sou.

Luara: Eu quero tá contigo, mas nunca vou tá preparada pra te deixar se você fizer tudo por mim. Isso é o que me deixa com a cabeça fervendo — encosta a testa no meu peito — só você carregando o mundo pros dois eu não quero. não quero tudo do seu jeito.

Ouço as palavras que ela diz sem enxergar saída, papo reto. Luara tem dezoito anos e a teimosia é coisa da idade, mas tem coisa que ela diz que eu nunca vi mulher mais velha ser suficiente pra dizer

Luara: Você vai deixar eu segurar um pouco o nosso mundo também?

Digão: Pretinha... Tem coisa que tá além da minha vontade. Tenho muita coisa pra pensar, é muita coisa pra organizar na minha cabeça — tento explicar

Luara: Você quer me gerenciar... como uma boca de fumo — nega, com a cabeça ainda baixa, e solta um riso sem humor.

Digão: Eu só sei ser assim, tudo que eu fiz na minha vida foi isso.

Luara: Para de me irritar falando isso! Quando a gente reconhece uma limitação, a gente tenta melhorar. Eu não tô pedindo nada demais, só um pouquinho de conversa e reciprocidade. Se você tivesse no mínimo conversado comigo antes de pagar minha tia pra ir embora...

Digão: Você teria reclamado pra caralho.

Luara: Teria, mas também teria aceitado, se você tivesse me mostrado que ela aqui era ruim pra minha segurança eu teria entendido. Eu não sou burra.

Digão: Eu nunca disse isso. Te acho a mulher mais foda que eu conheço, mas as minhas decisões são assim, Luara. Não vou ficar esperando sua aprovação pra tudo.

Luara: Sabe o que eu acho? — ergue a cabeça pra me olhar — Tô ficando cansada dessa bateção de cabeça... Tá na cara que você nunca vai me deixar participar da sua vida de verdade, ser sua parceira, te ajudar, te ouvir... Nunca vai acontecer. Você nunca sequer me contou sua história, entendo você ser fechado, mas dá pra ver que a gente não tá na mesma sintonia nesse relacionamento... É uma pena, mas você sempre vai me tratar dessa forma distante.

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