Capítulo 48 — Digão
Desço da moto e faço sinal pro Picolé me esperar do outro lado da rua junto com o resto da minha contenção. Subo os dois degraus que vão dar dentro do bar e não consigo não pensar que esse é o lugar que eu senti o gosto do beijo da minha preta pela primeira vez.
Mesmo sabendo que provavelmente o motivo de eu ter vindo aqui vai deixar ela puta comigo, não consigo parar de pensar nela, nem parar de fazer as coisas do jeito que eu acho que vai ser bom pra ela.
Luara não entende o meu mundo ainda, pode tá se esforçando pra atender, mas não sabe como as paradas funcionam ainda.
Marilene: Tudo bem, meu filho? — Passa um pano no balcão, enquanto eu olho envolta vendo os rostos que estão no bar.
Digão: Tranquilo e com a senhora? — ela balança a cabeça e sorri.
Marilene: Graças a Deus...
Digão: Tava precisando trocar uma ideia com a senhora — sou direto.
Meu tom de voz ou a minha presença não causam desconforto na dona do bar. É uma das pessoas que viram crescer, sempre por perto, e conhece bem a minha índole.
Sou bandido. Sou violento. Mas sou justo.
E morador que não me deve nada não precisa ter pé atrás comigo.
Marilene: Achei que cê ia aparecer aqui me procurando mesmo... — eu inclino a cabeça pra olhar bem pra ela — Luara, né?
Concordo com a cabeça, sabendo que vim no lugar certo pra ouvir a confirmação de quem tá espalhando mentira da minha preta por aí.
Digão: Ouviu algum vagabundo com o nome dela na boca?
Marilene: Eu ouço tudo aqui, você sabe... — Para de limpar o balcão e me olha, com o pano na mão — Não sou fofoqueira, não espalho nada de ninguém, mas ouço tudo de todo mundo.
Digão: Quem falou dela, Dona Marilene?
Marilene: Ela tava com você ontem?
Digão: O dia inteiro — ela nega com a cabeça e eu vejo um pouco de indignação — vai me falar quem tá falando dela?
Marilene: Vou, só porque não acho justo o que tão fazendo com essa menina. Ela perigando morrer na sua mão ou dos seus funcionários por causa de fofoca... Vindo de quem veio ainda. Não acho certo.
Digão: Valéria que fofocou? — concorda com a cabeça.
Marilene: Sentou aqui e falou da Luara pra todo mundo que encostou nela. Achei uma vergonha, mulher velha dessa — fecha o rosto — Conheci a família toda da Luara em outros tempos, era todo mundo unido e agora que ela faz isso com a sobrinha. Não é certo, ela conhece o perigo.
Digão: Ela não me conhece.
Comigo é diferente, comigo é diferente pra caralho. Arranco a língua dessa velha sem pensar duas vezes.
Marilene: Mas conhece Luara, sabe que a menina é boa demais pra deixar você fazer alguma maldade com a tia — bufo.
Digão: Ela falou mais o que além do que eu tô sabendo?
Marilene: Quis dizer que você tava sustentando a Luara, que deu computador novo, mas nisso aí ninguém acreditou. Todo mundo vê que a garota leva vida simples e se mata de trabalhar naquela padaria, entendeu?
Digão: E se eu tivesse bancando? — pergunto puto, levantando o queixo — Ninguém tem nada a ver com essa porra. Se eu quiser rasgar meu dinheiro, vagabundo não tem que abrir a boca pra nada. É minha mulher, vou tratar ela igual a porra de uma rainha se ela quiser. Vão ter que entender isso por bem ou por mal.
Marilene: Esse pessoal fala muito, por isso que um monte de desgraça acontece.
Digão: Vai precisar um amanhecer cheio de tiro pra entenderem que ela não é qualquer uma pra mim.
No lugar que a Luara tá na minha vida, nenhuma mulher nunca esteve. Não adianta comparar, igual ela não tem e nunca vai ter, só que tá faltando morador ver que o respeito comigo e com ela tem que ser o mesmo, pra ninguém conhecer meu pior lado.
Saio do bar com endereço certo de onde eu tenho que bater pra encerrar essa história.
(...)
Não espero Valéria desencostar da porta pra entrar dentro da casa.
Olho envolta e entendo a Lua ter apego a esse lugar, mas, por mim, a tia dela podia apodrecer aqui dentro. Minha preta não precisa se preocupar em ter um lugar pra morar enquanto eu tiver na vida dela.
Só que agora é diferente, quando a gente tem um problema, a gente acaba com problema.
Valéria: Você é... — dá dois passos pra trás e me olha assustada.
Digão: Eu sou o dono dessa porra toda aqui — não dou tempo dela dizer nada e tiro a arma da cintura — Vai arrumar sua mala.
Valéria: Minha mala? — franze a testa, igual a Luara faz.
Digão: Tu vai entrar na porra do quarto, vai juntar os seus trapos, vai comprar uma passagem de avião e vai voltar pra casa do caralho de onde tu veio — aponto por quarto com a arma.
Valéria: Essa é a minha casa — tenta argumentar, chorosa, mas não causa um fio de pena em mim — Não tenho condições de voltar
Digão: Pra contar mentira e tentar acabar com a vida da sua sobrinha, tu foi mulher
Valéria: Eu? — coloca a mão no peito.
Digão: Valéria — digo num tom sério e chego mais perto dela ainda com a arma na mão — Tu não tá lidando com nenhum adolescente nessa porra. Não sou teu parente pra ter pena de você e conheço muito bem o tipo de piranha que você é. A minha vontade é encher a sua cara de tiro pra ficar de exemplo, se eu não faço isso agora, agradeça depois à Luara porque ela tem o coração muito melhor que o meu. Vou te dar o papo reto. Pega as tuas tralhas e o dinheiro que eu vou colocar na sua mão, some desse país, não volta pra vida da minha mulher. Se eu sonhar que tu tá por perto, vou fazer questão de, em pessoa, dá um tiro na tua testa e sumir com o seu corpo.
Valéria: Quanto que você vai me dar?
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Ligações de Alma [M]
FanfictionLigações de alma, eu falo seu idioma Traduzo suas emoções, entendo sua confusão. Luara e Digão