Capítulo 69

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Capítulo 69 — Luara

Ter voltado pra casa foi mais difícil do que escolher ir atrás da Princesa.

Eu sabia tudo o que eu ia ter que enfrentar a partir da hora que pisasse aqui de novo.. Saí daqui a Luara e voltei outra, por tanta coisa que aconteceu nas últimas 48 horas.

Ainda tava me acostumando a ser mulher do dono, agora tenho que deixar a gestão forte. Tudo isso somado a ansiedade de saber que estão buscando por ele enquanto o máximo que eu posso fazer é cuidar da favela.

Pouca gente conhece a sensação de sentir o mundo desabar toda vez que o celular vibra ou alguém liga, mas é o que acontece comigo durante o dia todo.

A maldita esperança de que ele vai ligar ou mandar outra mensagem, só pra confirmar que ainda tá respirando e sendo o motivo da minha resiliência... E dói mais do que eu poderia imaginar. Me agonia. Não consigo mais viver assim.

Luara: Não entendi essa conta aqui, Kv — respiro fundo com o caderno na mão e olho pras drogas em cima da mesa.

Kv: Esse aí é o caderno só da principal, patroa — desencosta da mesa e me mostra as anotações na contracapa — Nessa era só o Ney que mexia, entendeu? Por que as outras, tem cada uma um gerente e ele fazia o fechamento no final.

Luara: Ele não sabe o conceito de lucro, esse idiota? — solto todo o ar pelo nariz — Tá tudo errado. Tudo. Não sobra nada.

Kv: É o papo que eu dei. Essa só ele mexia, as outras ficava na responsabilidade de cada gerente... Aí era mais difícil de zonear, porque geral foi ensinado pelo Digão.

Luara: Ele ia surtar vendo isso aqui — mordo o canto da boca — Vamo arrumar essa porra. Tsc. Marca uma reunião com todos os gerente.

Kv: Amanhã? — puxa o rádio da cintura, esperando a minha confirmação.

Luara: Marca hoje. Quanto mais demorar, mais merda vai ter que consertar... Marca daqui a uma hora aqui na casa amarela — Fecho o caderno e coloco em cima da mesa — Fala, Juninho

Viro em direção da porta, onde o menino me olha, esperando uma oportunidade pra falar comigo e pressiono a mão na lateral da cabeça, tentando aliviar a dor de cabeça.

Juninho: Já passamos a visão de que o comando é teu, patroa — concordo com a cabeça e suspiro — Tem dois problemas lá fora...

Luara: O que?

Juninho: Waldir, presidente da associação de moradores, e Isabelly.

Luara: Puta que pariu — xingo e passo a mão na testa — Manda Isabelly logo.

Tinha esquecido totalmente da mulher do Ney quando voltei pra cá hoje de manhã.

Não demora muito pra ela entrar pela porta, carregando um bebê de mais ou menos um ano no colo, e os seguranças nos deixam sozinhas. O rosto da Isabelly sempre entrega um cansaço diferente, não é uma coisa que enxergo em todas as outras mães.

Sei que ela luta pra manter uma aparência irreal, mas se você olhar um pouco mais, tá sempre derrotada.

Isabelly: Onde tá o meu marido? — mantém o tom de médio pra alto e eu dou de ombros.

Luara: O meu tá desaparecido também. Eu fui lá na sua casa procurar por ele? — sento na quina da mesa.

Isabelly: Mas você tá aí no lugar do meu, então você tem que me dar satisfação — fala mais alto e ajeita a chupeta do neném, que arregala lentamente o olhar.

Luara: Você quer realmente ter essa conversa na frente do seu filho? — pergunto na boa, dando escolha a ela como mãe — Depois tu volta pra gente conversar direito.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora