Capítulo 60

6.4K 948 195
                                    

Capítulo 60 — Luara

Os dois tão incomodados me olhando ir até o meu quarto.

Luara: Senta aí, os dois! — falo séria e ando até o armário, abrindo a bolsa no fundo.

Conto as notas suficientes e volto pra sala, vendo os dois de testa franzida me esperando. Coloco quatro paco de mil cada na mesinha de centro na frente deles e cruzo os braços.

TH: Que isso? — me olha de baixo pra cima.

Luara: Não se faz de sonso, já sei que vocês tão sem receber.

Picolé: Po, patroinha... — tira o boné e coça atrás da cabeça.

Luara: Não é o que vocês recebem normalmente, mas é o que eu posso pagar agora — sento na poltrona e olho pros dois — Vou entrar em contato com a advogada pra pegar mais.

TH: Não é certo isso — aponta pras notas — esse dinheiro o patrão deixou pra tu sobreviver enquanto ele não volta.

Luara: E é certo vocês tá trabalhando igual dois filhos da puta sem receber? — espero um segundo e volto a falar — Não é certo esses funcionários aí fora todos sem um real no bolso, a maioria tem filho pra criar, família pra cuidar.

Picolé: Ney mandou o papo que era temporário, só até ele ajustar as contas — revela — Eu não acredito nessa porra nem fudendo.

Luara: Ney quer manchar a imagem que o Digão construiu com os funcionários, é isso que ele quer.

TH: Com todo respeito, mas idiota é quem acredita nessa porra. Eu trabalho pra ele há mais de um ano, nunca atrasou um dia. Ao contrário, várias vezes ele adiantava.

Luara: Por que vocês não falaram comigo antes, cara? — passo a mão no rosto, tentando pensar — Eu conheço as contas desse morro, Rodrigo deixou dinheiro suficiente pra esse lugar funcionar sozinho por meses! Meses! Há quantas semanas ele tá devendo?

Picolé: Duas.

Luara: Porra, cara... — nego com a cabeça — Eu ter que saber isso da boca dos outros... Não existe!

TH: Tu tava mal aí, ninguém queria colocar mais problema na sua cabeça.

Respiro fundo e me xingo internamente. Esse é o problema de estar tão absorvida no próprio sofrimento. A gente acaba esquecendo de olhar em volta e é aí que mora o perigo.

Além da injustiça clara, deixar de pagar quem cuida da nossa segurança é muito perigoso. Um erro e você nunca vai poder cobrar.

Luara: Eu vou resolver.

Picolé: Nós não é ninguém pra te falar um "não", tá ligado? Vai da tua consciência, mas Ney vai te infernizar se tu se colocar no meio dele. Igual tá fazendo comigo, com TH e os outros que não acatam quando ele dá uma ordem de merda.

Luara: Sinceramente? Tô pouco me fudendo pro Ney. Não tenho medo dele. Nunca tive.

TH: Tu só tem que lembrar que Ney é o frente agora, é um merda, mas é quem tá no comando.

Luara: E eu sou a mulher do dono. Nunca usei esse poder pra porra nenhum, mas a facção sabe quem eu sou e eu não vou pensar duas vezes antes de ir até eles contar as merdas que o Ney tá fazendo. Só que antes quero resolver direto com ele.

Picolé: Por mim, eu tô contigo e não abro.

Olho pro TH, espertando uma resposta, e ele concorda com a cabeça.

(...)

Lembro perfeitamente da primeira vez que entrei nessa sala. O cara sentado na mesa era outro e eu não fazia ideia de quem ele se tornaria na minha vida. Na verdade, talvez eu precise admitir que eu também era outra naquela época.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora