Capítulo 55 — Luara
Sinto duas mãos fortes balançando o meu corpo, o sono é muito forte, mas abro os olhos devagar.
Rodrigo faz sinal de silêncio e me chama pra levantar, pegando uma arma debaixo do travesseiro.
À essa altura meu coração já tá disparado dentro do peito, mesmo sem entender nada. Ele joga uma
blusa dele em cima de mim e manda eu vestir.Pulo da cama, obedecendo.
Eu vejo que a poltrona do quarto tá prendendo a maçaneta da porta e olho pra ele perguntando com o olhar. Rodrigo prende o meu cabelo com as mãos e cola a boca no meu ouvido, falando baixo.
Digão: Preciso que você mantenha a calma. Não tô conseguindo contato com a minha segurança, tem gente entrando na casa.
Com as palavras dele, sinto o coração na garganta.
Luara: Quem que tá aqui?
Digão: Polícia. A vizinha me avisou — agarra meu braço e me puxa — Vou te tirar daqui.
Luara: E você? — pergunto, sentindo o desespero me corroendo
Digão: Não vai dar.
Luara: Não, você vai, eu fico, não devo nada — tento puxar meu braço, mas ele me prende firme.
Digão: Preta, escuta — segura meu rosto — Não discute, deixa o destino agir. Se te pegarem aqui vão te esculachar, tu é mulher de bandido, não vai ser bem tratada.
Luara: Rodrigo...
Digão: Escuta — prende minha atenção com as mãos — Eu te amo. Você é a mulher da minha vida, me espera. Não esquece da nossa ligação.
Luara: Não, Rodrigo. Isso é loucura — nego com cabeça
Digão: Faz aquela parada que eu te pedi, valeu? — me olha nos olhos e volta a me puxar pra varanda que dá nas costas da casa, colada na garagem — Vou te ajudar a subir na laje, eu consigo não passar pelo vão entre a grande e o muro da garagem, vai abaixada até a laje verde da vizinha e desce pela casa dela — fala baixo.
Meu coração está se quebrando. Não quero ir, não quero deixar ele pra trás. Olho pra cima, tentando achar uma solução, mas no espaço que ele quer que eu passe, ele não passaria.
Luara: Amor... — o choro me invade e eu não consigo mais segurar o soluço.
Digão: Preciso de você aqui fora bem. Você é meu tudo, eu caio pra não te deixar cair. Eu já fiz muita coisa ruim nessa vida, pretinha, a vida cobra. Eu te falei, não falei?
Concordo e beijo ele, sentindo o gosto salgado das minhas lágrimas.
Ele me ajuda a subir, segurando as minhas pernas, apoio a minha mão na grade da janela, usando de apoio pra subir na laje quando as mãos dele deixam o meu corpo.
Eu preciso me segurar firme porque um estrondo muito forte indica que a porta do quarto tá no chão.
Digão: Perdi, perdi, porra — vejo ele se colocar frente à porta da varanda e levantar as mãos quando consigo chegar na laje e me esconder atrás do parapeito.
xxx: Bota a arma no chão, seu merda — um policial grita e eu prendo o soluço de choro na garganta.
Olho meu homem abaixar devagar e colocar a glock no chão, levantando as mãos de novo.
xxx: Bota a mão atrás da cabeça e deita no chão — Rodrigo obedece sem falar nada, calmo, apesar do ódio nos olhos. O policial coloca as algemas e imobiliza ele no chão, colando o rosto no piso frio — Tá preso, filho da puta arrombado.
Rodrigo passa a olho rapidamente na minha direção e eu entendo o recado.
Tá feito.
Sinto minhas pernas tremerem, minha respiração falhar, mas engatinho até a divisão entre a nossa laje e a laje da vizinha, onde posso ver uma escada levando até o andar debaixo.
A casa verde é a única colada à casa do Rodrigo porque dá pra outra rua. Atravesso a separação e vou até a casa dela, descendo as escadas.
Monica: Sinto muito, minha filha — vejo seu olhar de pena ao notar o meu estado.
Luara: Obrigada pela ajuda— enxugo as lágrimas que caem descontroladamente — Não posso ficar aqui.
Mônica: Tá cheio de polícia aí na favela.
Luara: Preciso ir pra casa. Preciso fazer uma coisa por ele.
A imagem dele sendo algemado no chão fica revoando na minha cabeça. Sei que por uma questão de ângulo nenhum policial me viu, mas ter visto tudo me destrói...
Luara: Obrigada, dona monica — digo sem muita noção do que tô fazendo e saio pela porta correndo até a minha casa.
Ouço barulho de um helicóptero baixo, mas não encontro nenhuma viva alma no meu caminho. Ainda tá muito de madrugada, tudo tá sombrio, frio e estranho além do normal.
Entro em casa, cambaleante, e tropeço na cama, abrindo a porta do armário e tirando lá de dentro um celular antigo que ele deixou comigo.
Só percebo o quanto tô tremendo depois que preciso desbloquear o meu próprio celular e erro a senha duas vezes.
Busco o número na galeria de contatos e disco pelo outro telefone. São três toques até a pessoa atender.
"Alô" ouço a voz de homem rouca e sonolenta
Luara: Ele caiu — digo entre um choro forte. É como se a ficha fosse caindo em cima de mim e me esmagando.
"Como?" sinto o tom de voz mudar.
Luara: Em casa, eu não sei direito — soluço chorando — Não conseguiu contato com a segurança, tinha gente em casa, derrubaram a porta do quarto.
"Aguarda contato no teu número privado. Joga esse celular fora. Tu não tá desamparada"
Desligo o telefone e olho em volta. Sozinha e destruída. Mais uma vez.
Por que a minha vida é assim?
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Ligações de Alma [M]
FanfictionLigações de alma, eu falo seu idioma Traduzo suas emoções, entendo sua confusão. Luara e Digão