Capítulo 65

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Capítulo 65 - Luara

Olho o celular e vejo mais uma mensagem do João, respondo rápido dizendo que devo voltar pra favela de noite. Amo meu amigo com todo o meu coração, mas agora preciso me concentrar no meu amor.

Mensagem de João: Okay, tô na casa do boy. Se cuida, bixa, faz favor.

Princesa: Conseguiu alguma coisa, Cabeça? — ela se aproxima da mesma onde um moleque tenta rastrear a origem da ligação.

O Jogador e o Coreano já foram avisados que o Rodrigo falou comigo, eles estão no interior de São Paulo, área de facção inimiga, mas as informações são bem escassas.

Nós montamos algumas linhas de raciocínio para seguir, mapeando todas as possíveis inimizades que ele tinha antes de cair. Sem descartar uma traição dentro do próprio morro.

A questão é: com a quantidade de força de trabalho, vamos ter que escolher uma linha de ação e seguir.

Cabeça: Porra nenhuma, patroa — estala a língua e nega com a cabeça, sem tirar os olhos do computador.

O desânimo e a frustração invadem meu corpo, mas não vou deixar que os sentimentos ruins vençam a minha vontade de encontrar ele, onde quer que esteja.

Princesa: Me fala o que tu ia me contar — vira pra mim — Do Ney. Desde o início.

Luara: A história é longa. Eu nasci lá na favela, mas fui criada na pista e só voltei no ano passado, depois que perdi a minha mãe. Quando eu comecei a dar as caras, o Ney me cercou, tinha interesse em mim mas nunca tive nada com ele, nem perto... Ainda mais depois que eu descobri que ele é casado — a loira franziu o nariz com desgosto e eu entendi totalmente o sentimento dela — Logo depois eu comecei a fazer uns serviços pro Rodrigo. Eu tava precisando muito de um emprego porque sou sozinha no mundo. Enfim, era coisa simples, contar dinheiro, olhar como tava o funcionamento das bocas... Mas o que me chamou atenção era que o Rodrigo tava desconfiado de alguma coisa ou alguém...

Princesa: Ele te disse o que era?

Luara: No começo não me deu detalhes, mas no meio desse tempo, a gente começou a se envolver. Eu não queria, sabia que ele era problema. Com bandido é sempre problema, com todo respeito — ela ri e eu sorrio também — Mas com a gente é diferente, tenho certeza que você sabe como é. Ligação de alma, diferente de tudo... E ele vendo que eu tinha facilidade com números, passou a confiar em mim pra conferir as contas do morro.

Princesa: Então tu tava basicamente refazendo o trabalho do Ney — ela se ajeita no sofá, relaxando o corpo.

Luara: Eu tava refazendo tudo e ajudando no planejamento. Sabia que o Rodrigo tava se preparando pra uma guerra.

Princesa: Ele disse pra mim que tava sentindo o cerco se fechando ao redor dele, foi pauta em reunião da facção já — concordo porque sei que ele diria aquelas palavras — E tinha falhas nas contas do Ney?

Luara: Pequenos erros, às vezes até pra mais, mas nada significante. Digão tava em cima e Claudinho a mesma coisa. — suspiro — A questão é que muita coisa mudou depois que os dois se foram... Eu perdi o acesso às contas, óbvio. Mas sabia quanto tinha no "caixa" — faço aspas com as mãos — Rodrigo sempre deixava uma reserva, um dos motivos de eu ter pedido emprego pra ele foi porque eu sabia que ele não atrasava pagamento. E um mês depois, Ney parou de pagar os funcionários, começou a cobrar taxa absurda dos comerciantes....

Princesa: Tudo errado.

Luara: Eu dei uma prensa nele, disse que ia trazer o problema pra facção.

Princesa: E ele? — apertou os olhos, me analisando.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora