Capítulo 24

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Capítulo 24 — Luara

Parece um TBT, eu num lugar escuro e com o coração saindo pela boca. A única diferença é que não tenho os braços do Digão me envolvendo, mas to aqui esperando ele aparecer pra eu não morrer de ataque cardíaco nos próximos trinta segundos.

Tava tudo normal quando ele mandou eu vir pro banheiro e só sair na presença dele ou do Picolé. Minha mente voou, criando várias teorias, mas o jeitinho que ele me olhou foi o que me fez decidir obedecer sem questionar. Uma coisa que aprendi com ele é que a gente deixa muita coisa escapar pelo olhar e eu vi nele uma preocupação real.

Ainda tô perdida nos meus pensamentos quando uma batida na porta me faz dar um pulo e encostar na pia. Puta que pariu.

Digão: Sou eu, preta, pode abrir — ouço sua voz abafada pela porta, apesar da música já não tá mais tocando.

Destranco a porta e ele a abre, encontrando meus olhos no mesmo instante.

Luara: Que susto do caralho, puta que pariu — coloco a mão no peito, sentindo meu coração disparado.

Ele tá de colete e com uma arma gigante na frente do corpo, carregando o semblante sério. Totalmente diferente do jeito que ele tava comigo nas últimas horas, quando a gente conversou e flertou a noite inteira.

Digão: Vem que eu vou te levar pra minha casa — segura a minha mão e entrelaça nossos dedos — Tamo podendo ficar de bobeira não.

Picolé anda até mim, segurando um colete em mãos e entrega ao Digão, que solta a minha mão pra pegar.

Digão: Levanta os braços, pretinha — pede e me ajuda a vestir a peça, enquanto eu fico estática olhando pra ele. Que porra tá acontecendo? Tava tudo bem, do nada eu to vestindo um colete à prova de bala — Fica tranquila, não vai acontecer nada demais. Isso aqui é só precaução. Confia em mim? — questiona, olhando no fundo dos meus olhos e eu concordo com a cabeça. — Então vamo.

Luara: O que tá acontecendo? – pergunto, quando ele termina de fechar meu colete.

Digão: Polícia tá querendo subir, aqui onde nós tá é seguro, eles não vão conseguir chegar, mas também não vamo arriscar ficar de bobeira  — me segura com uma mão e o fuzil com a outra — Eu não ia te colocar em perigo, confia.

Não que eu tenha mais motivos do que a minha própria intuição pra me fazer confiar, mas confio. Lembrando do que ele me disse uma vez:

"Confiança é sentimento, porque o primeiro que tu tem que confiar é em si mesmo."

Tudo bem que a minha mente não tá funcionando muito, mas é absurda a velocidade com que uns quinze seguranças brotam do chão pra escoltar ele. Nós passamos a noite inteira aqui e eu fiquei com a impressão de que não tinha ninguém e nem parei pra pensar que talvez ele tivesse arriscando a própria segurança pra me agradar.

O povo no baile corre em direção à saída, todo mundo desesperado. Eu já ouvi muita história do João Pedro sobre invasão em baile, umas terminando até em morte, mas tá aqui e vivenciar isso é diferente. Tá aqui com o Digão beira à loucura.

A minha palma suada tá em contato com a dele e eu aperto nossos dedos pra aliviar um pouco a tensão.

Ele me guia por um caminho que leva do reservado até a parte de trás do baile, andamos rápido e ele me ajuda a descer uma mini escadinha enquanto berra ordens que eu não entendo pros soldados.

Luara: Porra – xingo, puta por ter escolhido vir de sandália ao invés de tênis.

Quis aparecer pra macho e deu no que deu.

Digão: Pode descer, tô te segurando — segura meu braço na altura do meu cotovelo e eu desço, prestando atenção no caminho.

Chegamos até uma moto, um soldado joga a chave pra ele e ele sobe, jogando a arma pra lateral do corpo e esticando a mão pra me ajudar a subir na garupa.

Digão: Picolé e Tijolo comigo — diz e eu olho rápido pra correria também nas ruas anexas ao baile. Meu Deus do céu — O resto pode descer e ajudar na linha de frente. Juninho vai pro ponto de apoio que nós montou e me passa a visão dos acontecimentos.

Ele passa a mão na minha perna direita, prendendo na lateral do quadril dele e eu agarro o ferro da moto com a mão esquerda assim que ele dá a partida.

A velocidade me faz agarrar a camisa dele na altura do abdômen e encostar meu peito em suas costas, sentindo mais uma arma guardada ali. O perfume dele me invade a cada metro que percorremos e ele voa pelas ruas comunidade acima.

O complexo é grande e são muitas ruas até chegarmos à uma viela sem saída, a segurança começa na esquina, tendo mais contenção que a própria casa amarela. A casa no final da rua denuncia que quem mora ali não é qualquer um, é totalmente fora do padrão da favela, feita pra chamar atenção, mas parecendo uma fortaleza.

Ele para a moto ali na frente e toca a minha perna mais uma vez, causando um arrepio e avisando sutilmente que é pra eu descer.

Percebo que os seguranças dele mal olham na minha cara enquanto desço da moto. Ele me guia pra casa, abrindo a porta e me levando até a sala de estar.

Digão: Esse é o meu barraco, pretinha — Passa a mão na minha bochecha, tirando o cachinho que ficou ali por causa do vento na moto e me olhando — Tem comida e bebida na geladeira, a moça que trabalha aqui pra mim deixa tudo pronto, o banheiro é no final do corredor.

Se afasta de mim e anda até um armário na sala,pegando mais munição de arma e outra glock.

Luara: Você vai sair? — meu tom de voz sobe um pouco, mesmo que eu tente controlar.

Digão: Preciso resolver algumas coisas... — guarda a arma nas costas e me olha.

Luara: A favela tá pegando fogo — franzo a testa, sem acreditar que ele vai sair mesmo.

Digão: Eu já volto, preta — diz sério e chega mais perto de mim, dando um beijinho no canto da minha boca — Te prometi coisa demais essa noite, não vou deixar passar — sorri safado e eu reviro os olhos, rindo também.

Luara: Da última vez eu tive que ir te salvar, tem certeza que vai ficar tudo bem? — provoco.

Digão: Dessa vez eu to com uma motivação fodida, toda linda dentro de um vestidinho rosa — pisca pra mim e sai da sala, me deixando sozinha.

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Nota da autora:

Oiiiii, gente! Fiquei sabendo que a Wttpd tá tirando algumas histórias e autoras da plataforma por, supostamente, irem contra as novas diretrizes da plataforma. Infelizmente, minhas histórias se encaixam nesse tipo de conteúdo que não é mais bem-vindo aqui 😐

Eu tenho meus livros salvos e continuarei postando aqui até encontrar uma solução, mas peço que vocês ME SIGAM NO INSTAGRAM.

Caso dê ruim, esse vai ser o único canal pra vocês me encontrarem!!!!

@glanelzinha.autora
@glanelzinha.autora

Não me abandonem, por favor... Vocês não sabem o quanto de dedicação demanda estar aqui escrevendo 😭

Me comprometo com vocês a finalizar "Ligações de Alma", mesmo estando no começo ainda... Vou arrumar um jeito, prometo 🫶🏼

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora