Capítulo 57

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Capítulo 57 - Luara

Sinto meu coração batendo descompassado há quase doze horas, desde que tudo aconteceu.

Fiquei esperando notícias da advogada, mas não veio nada. Até que o Coreano me mandou uma mensagem me chamando pra ir até ele, sem dar nenhum detalhe, o que me deixou mais nervosa ainda.

A falta de pessoas na rua ainda se mantém a mesma, fico observando pela janela do carro enquanto TH dirige pela favela.

Kv: Coé, TH — chama quando chegamos na barreira — Qual o papo?

Aproxima da janela com o fuzil atravessado no peito e olha pra mim, no banco de trás do carro.

Th: Tô levando a mulher do chefe pra conversar com a advogada. Tatu e Juninho tão no carro de trás.

Kv: Pô, maninho, tu passou a visão pro Ney? — olha pra mim mais uma vez e coça a parte de trás da cabeça — Ordem dele é ninguém entrando e ninguém saindo.

Th: É ordem da facção, os caras me passaram a visão de que já tava tudo acertado com o Ney — responde ríspido — Tô só cumprindo ordem.

TH tá puto de ter que dar satisfação pro Ney quando sempre tratou tudo direto com o Rodrigo.

Kv: Eu tô ligado, mano, de verdade mermo. O bagulho é que eu também tô seguindo ordem pra não dá ruim pra mim. Ney tem que autorizar essa saída de vocês aí.

TH: Sem k.o, irmão. Tua conduta tá certa, vou tá no aguardo aqui.

TH estaciona o carro perto da calçada e analisa o Kv se afastar falando no rádio, de forma que não conseguimos ouvir.

O soldado olha na nossa direção e nega com a cabeça, indicando que o Ney não deu o aval, o que faz o TH bufar e puxar o freio de mão do carro.

Luara: Não faz nem sentindo ele implicar com isso. Certeza que o Coreano já falou com ele.

TH: Ele só quer mostrar quem tá no comando.

Luara: Patético — reclamo baixo enquanto o Kv volta a na direção do nosso carro.

TH: Segura a tua onda — me pede, com todo o respeito.

Sei que ele não quer me oprimir, é só conselho de amigo.

Luara: Vai ser pior se eu for falar com ele? — TH me olha pelo espelho do carro e concorda.

Kv: Ele tá vindo aí — apoia na janela do carro — Não fica bolada comigo, Patroa. Sei da ansiedade pra saber como nosso chefe tá, nós também fica nervoso, mas tô só fazendo o meu serviço. — Se justifica e eu concordo, entendendo.

Não deve ta sendo fácil pros funcionários, fica tudo muito incerto pra todo mundo. Com o Digão a conduta era uma, com o Ney vai ser outra, com certeza. Pelo menos até as coisas se acertarem.

Picolé me explicou que provavelmente o Rodrigo vai ficar gerindo as coisas de dentro da cadeia por um tempo, mas até tudo se alinhar, demora.

Alguns minutos depois eu vejo o Ney descer da moto, seguido de uma escolta, e olhar pro nosso carro.

Fecho meu punho porque o ódio que eu tô sentindo desse imbecil vai me corroendo. Não tenho prova nenhuma, mas sou capaz de fazer uma loucura muito grande se ele tiver participação na prisão do Rodrigo e na morte do Claudinho.

Loucura das grandes.

Ney: Qual foi do problema, Kv? — levanta o queixo, olhando na direção da gente e o TH  sai do carro.

TH é uns bons centímetros mais alto que o Ney. E fica muito difícil crescer pra cima dele, ainda que a posição dos dois não seja igual na hierarquia do tráfico. TH e Picolé são crias do Digão, a postura deles é diferenciada, sem brincadeira. Não é puxando o saco do meu homem.

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