Capítulo 51

8.4K 914 188
                                    

Capítulo 51 - Luara

Fico quietinha dentro do carro enquanto ele dirige.

Cada vez que eu discordo desse homem, entendo que não adianta discordar dele nas palavras porque ele só entende o que ele quer. Eu posso ter toda a razão do mundo, ele não enxerga um palmo à frente de si mesmo quando tá puto.

Não sou maluca pra ficar repetindo as mesmas coisas em looping infinito.

Digão: Tá com frio? — viro o rosto pra olhar o dono da voz grossa e vejo ele olhando pro meu braço arrepiado.

Luara: Tô de boa.

Digão: Abaixa o ar — coloca a mão no painel e diminui o vento na minha direção.

Luara: Relaxa — volto a olhar o trânsito e vejo, de rabo de olho, ele apertar firme o volante.

Tá putinho com a minha falta de papo? Pois que fique.

Não aguenta um pingo de sinceridade e quer me ter como mulher?

Depois que eu joguei as verdades na cara dele, corri pro quarto e ele me deixou quieta na paz de Deus. Sempre por perto, mas me dando o máximo de espaço que ele consegue.

Passei uns dois dias remoendo cada vírgula de conversa que tivemos porque minha mente não me dá sossego quando o assunto é ele.

Até que hoje, ele me buscou no trabalho dizendo que o Coreano tinha ligado para chamar a gente pra ir no baile do comando dele. Rodrigo disse que só iria se eu fosse, o que me rendeu um fake de bandido e um instagram de uma cabeleireira me intimando pro baile da rocinha nessa sexta-feira.

Mas o que me pegou mesmo foi ele pedindo, por favor, pra gente curtir um baile junto sem neurose. 

Eu, do jeito fraco que fico toda vez que ele me olha nos olhos e pede alguma coisa com sinceridade, aceitei.

A verdade é que enquanto eu não colocar um ponto final no que a gente tem, vou continuar dando chance pra ele provar que essa ligação entre nós dois pode dar certo.

Quando a gente chega, percebo o porque a rocinha é tão famosa. É um mundo. O fluxo de pessoas me deixa presa na dinâmica de como tudo flui através do vidro do carro.

Rodrigo estaciona enquanto Picolé e TH nos esperam na esquina, mas eu sei que tem mais carros na nossa segurança porque ouvi ele falando no rádio.

Ele sai do carro e vem abrir a porta pra mim como um perfeito cavaleiro. Tão incrível pra umas coisas e tão troglodita pra outras...

Desço do carro segurando a mão dele e ajeito meu vestido, puxando a barra pra baixo. Um pouco insegura com a escolha que a Luiza me ajudou a fazer. Sei lá, conhecer gente nova, desse meio ainda, é um pouco assustador...

Digão: Olha pra mim — segura meu queixo, erguendo o meu olhar até os dele — Você é gata pra caralho.

Reparo no seu cabelo cortado, barba marcada, boca perfeita e camisa preta caindo sobre os músculos.

Luara: Infelizmente você também é um gostoso — passo a mão numa corrente grossa de ouro em seu pescoço e ele sorri.

Digão: Quero ficar bem contigo hoje, preta. Pra eu ficar tranquilo você precisa tá bem comigo — me prensa contra a porta do carro devagar.

Luara: Eu tô de boa... — desvio o olhar pros meninos da segurança que eu reconheço protegendo o entorno.

Digão: Aqui tá seguro — nota a direção da minha atenção e eu relaxo um pouquinho, nisso eu não discuto com ele — Tu não tá de boa comigo.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora